Título: Convite ao diálogo
Autor: Luna, Thais de
Fonte: Correio Braziliense, 09/10/2012, Mundo, p. 17

No dia seguinte à difícil reeleição, Hugo Chávez chama o adversário para colaborar com o governo, "respeitando as diferenças". Vizinhos, a Europa e até os EUA elogiam o processo

Após a vitória mais difícil de sua vida política, que o levou à terceira reeleição, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, conversou por telefone com o adversário, Henrique Capriles Radonski, e ensaiou uma abertura ao diálogo. Em sua conta na rede social Twitter, Chávez sr referiu à conversa como “amena” e acrescentou ter convidado a oposição a colaborar com seu governo, “respeitando as diferenças”. Os primeiros movimentos indicam que o mandatário reconheceu o quanto foi acirrada a disputa. Após meses de ataques mútuos, Capriles confirmou ter recebido um telefonema “do presidente Chávez”. “Em nome de mais de 6,5 milhões de venezuelanos (que votaram nele), fiz um convite à unidade do país e ao respeito a todos”, relatou, também pelo Twitter.

Chávez será oficialmente proclamado vencedor amanhã, com 54,84% dos votos, contra 44,55% de Capriles. O processo e o resultado foram endossados pela comunidade internacional, que acompanhou de perto a eleição. O observador brasileiro Ivan Ramalho, alto representante do Mercosul, impressionou-se com “a segurança e a confiabilidade do sistema venezuelano”. Já o chefe da missão da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), o argentino Carlos Álvarez, considerou o pleito um processo “de excelência” e mostrou-se satisfeito. “A Venezuela deu uma demonstração exemplar de democracia”, disse Álvarez à imprensa. Ele comandou uma missão com aproximadamente 40 técnicos das países-membros da Unasul, como Argentina e Bolívia.

Instantes depois de ter sido declarado reeleito, ele recebeu os cumprimentos dos colegas latino-americanos. Os Estados Unidos e a União Europeia elogiaram o processo. A presidente Dilma Rousseff telefonou ontem para Chávez. Na conversa, de aproximadamente 15 minutos, ela afirmou que o processo democrático na República Bolivariana foi “exemplar”. À noite, o reeleito recebeu os parabéns do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A líder da Argentina, Cristina Kirchner, foi a primeira a felicitar Chávez, pelo Twitter: “Hugo, hoje quero dizer que você arou a terra, semeou, regou e hoje fez a colheita”. Rafael Correa, presidente equatoriano, usou a mesma rede social para celebrar a vitória do venezuelano por 10 pontos de diferença. Raúl Castro, presidente de Cuba, considerou a reeleição de Chávez um “triunfo histórico”, enquanto o mandatário da Bolívia, Evo Morales, disse que o resultado é “um êxito da América Latina”. A China, por meio do porta-voz da chancelaria, Hong Lei, também parabenizou o venezuelano, enquanto a chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, pediu que Chávez estenda a mão a toda a sociedade nos próximos seis anos. A Casa Branca felicitou “o povo venezuelano” pelas eleições pacíficas, mas admitiu ter “divergências com o presidente Chávez”. O Departamento de Estado dos EUA pediu ao vencedor que “leve em conta” a posição dos 6 milhões que votaram em Capriles.

Oposição fortalecida A vitória de Chávez nas eleições de domingo foi a mais disputada desde a primeira vez que concorreu à presidência, em 1998. Na época, ele ficou 16 pontos à frente do segundo colocado. Robert Pastor, professor de relações internacionais da American University, afirma que já era prevista a vitória de Chávez, mas que, nessas eleições, a oposição saiu fortalecida. “Não há dúvidas de que os opositores asseguraram uma unidade ao selecionarem um único candidato para apoiar”, comentou. A expectativa é de que Capriles seja candidato novamente nas eleições presidenciais de 2018, já que ele afirmou que continuará “trabalhando para servir à população”.