Título: Preso e cassado
Autor: Abreu, Diego ; Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 10/10/2012, Política, p. 2
A trajetória de José Dirceu poderia ser contada num filme, com ingredientes que garantiriam emoção. O petista vive numa montanha russa. Com altos e baixos, é considerado frio o suficiente para sempre reagir. Sob a ameaça de prisão, o petista ainda pensa estratégias e diz que fará uma peregrinação nacional para contar que foi injustiçado.
O petista sabe o que é passar temporada na prisão. Foi preso ao participar do famoso congresso clandestino da UNE, em Ibiúna (SP), em 1968. Esteve outras vezes no xadrez na ditadura militar e escapou libertado num acordo em troca do então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrich, sequestrado por companheiros.
Durante anos viveu clandestinamente no Brasil. Fez uma cirurgia para mudar o rosto e escondeu da própria mulher a verdadeira identidade, durante os quatro anos que passou em Cruzeiro do Oeste (PR), onde nasceu o filho Zeca Dirceu. Em Cuba, desfez a plástica e retornou ao Brasil após a anistia.
Ajudou a fundar o PT, elegeu-se três vezes deputado federal e construiu uma poderosa estrutura de militância política. Consagrou-se como um dos parlamentares atuantes na CPI do PC Farias, que levou ao impeachment do então presidente Collor, em 1992.
Nos primeiros meses do governo Lula, era considerado por muitos até mais poderoso do que o próprio presidente da República. A decadência começou com o escândalo do mensalão. Demitido, voltou à Câmara, onde teve o mandato cassado. Tornou-se inelegível até 2015. Agora ficará ainda mais tempo exilado de mandatos parlamentares, enquadrado na Lei da Ficha Limpa.