Título: Um constrangimento chamado Genoino
Autor: Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 10/10/2012, Política, p. 4

Governo espera que o assessor do Ministério da Defesa, que recebe R$ 9 mil por mês, peça demissão da pasta

A condenação do ex-presidente do PT José Genoino é motivo de constrangimento extra para o governo. Além de enfrentar o peso político do veredicto desfavorável aos ex-dirigentes de seu partido, a presidente Dilma Rousseff terá que decidir o que fazer com Genoino, único réu do mensalão que ocupa cargo na administração federal. Desde março do ano passado, ele atua como assessor especial do Ministério da Defesa, com salário bruto de R$ 9 mil.

Oficialmente, a pasta informa que não tomará nenhuma providência antes do encerramento do julgamento, mas a expectativa dos militares é que Genoino peça a exoneração do cargo, para evitar o desgaste de uma demissão. Caso isso não ocorra, a Defesa vai realizar um estudo jurídico sobre a situação do servidor, condenado por corrupção pela maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Genoino foi nomeado para o Ministério da Defesa ainda na gestão de Nelson Jobim, mas continuou no cargo quando Celso Amorim assumiu o cargo. Seu nome saiu publicado no Diário Oficial da União em 10 de março de 2011, o que gerou queixas na caserna. Militares publicaram textos na internet reclamando da nomeação de um acusado de corrupção que, na visão deles, ainda tinha uma história "de luta armada contra o Exército" — em referência à participação de Genoino na Guerrilha do Araguaia. "Sua presença corresponde a uma ofensa aos nossos brios de soldados", afirmou à época um militar.

José Genoino está de licença médica e isso impede a sua demissão durante o período de validade do atestado. A licença, no entanto, acaba hoje. Em setembro, ele foi submetido a um cateterismo. O exame apontou que o sistema circulatório do ex-presidente do PT é normal para a idade. Genoino, que é fumante há mais de quatro décadas, recebeu a indicação para tomar remédios anti-hipertensivos.

Genoino e Delúbio: ex-presidente do PT estava afastado do trabalho por licença médica. Benefício expira hoje

"Perplexo" O advogado de Genoino, Luiz Fernando Pacheco, afirmou ontem que não sabe se o cliente deixará o cargo na Defesa e não quis adiantar se apresentará embargos para questionar a condenação. "Por enquanto, ainda estou perplexo. Depois a gente vai ver o que fazer", afirmou Pacheco. Em sua sustentação oral no STF, o advogado alegou que Genoino vive de forma modesta e destacou a trajetória política do ex-dirigente do PT.

Apesar das alegações da defesa, a ministra Cármen Lúcia destacou ontem, em seu voto, que o passado do réu não pode servir como base para sua absolvição. "Não estou julgando histórias, estou julgando os fatos apresentados nesses autos", explicou a magistrada, enquanto condenava Genoino. Para ela, o réu sabia das tratativas entre o PT e Marcos Valério para colocar em prática o esquema de arrecadação e pagamento de propina. Cármen citou reuniões de Genoino com representantes da base aliada do governo em que foram tratadas questões financeiras.

Marco Aurélio Mello ironizou a argumentação da defesa de Genoino de que, apesar de dirigir o PT, ele não sabia do esquema: "Genoino disse que o relacionamento entre o PT e Marcos Valério era intermediado por Delúbio Soares e que ele não tinha conhecimento de que Valério estaria emprestando dinheiro ao PT. Poupem-me! Poupem-me desse desejo de atribuir a Genoino, com a história de vida que tem, tamanha ingenuidade".

Memória

Da guerrilha à criação do PT

Quase cinco décadas separam o início da atividade política de José Genoino da derrocada de sua vida pública. Com o carimbo de corrupto impingido pela Corte, a expectativa é que ele perca o cargo no governo federal e se afaste ainda mais das atividades partidárias. Genoino começou a se envolver com política na adolescência, pouco depois de trocar o município de Quixeramobim, onde nasceu, por Fortaleza. Atuou na União Nacional dos Estudantes (UNE) e, no ano da decretação do AI-5, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro. Lutou na Guerrilha do Araguaia e foi preso em 1972. Passou cinco anos na cadeia. Depois de anistiado, participou da fundação do PT e se elegeu deputado. Ficou na Câmara por 24 anos. Em 2003, tornou-se presidente do PT, mas deixou o cargo por conta do escândalo do mensalão. (HM)

Repercussão internacional

A condenação de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares repercutiu na imprensa internacional. A edição on-line do The Washington Post destacou que o "ex-braço direito do popular presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi considerado culpado por corrupção". "Segundo a maioria da Suprema Corte, Dirceu orquestrou um amplo esquema de compra de votos." Já o francês Le Monde afirmou que, apesar dos veredictos, as penas do trio só serão conhecidas no fim do julgamento. O periódico ressaltou ainda que o julgamento dos petistas, que ocorre paralelamente às eleições municipais, não abalou a expressiva popularidade de Dilma Rousseff. O espanhol El País lembrou que, após condenar os "corrompidos", o STF declarou culpados os "corruptores".