Título: Lula rebaterá uso do mensalão
Autor: Correi, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 10/10/2012, Política, p. 6

No dia em que Dirceu, Genoino e Delúbio são condenados, ex-presidente recomenda aos candidatos do partido não ficar em silêncio nos casos em que a oposição fizer referência à ação em curso no Supremo

Ciente do peso que o julgamento da Ação Penal 470 e a condenação de estrelas petistas no processo deverão ter no segundo turno das eleições municipais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem que o PT não deixe sem resposta o uso do mensalão nos ataques feitos por adversários nas campanhas pelas prefeituras.

A orientação foi passada durante discurso do ex-presidente em reunião do partido em São Paulo com prefeitos eleitos e candidatos que ainda disputam prefeituras nessa segunda fase das eleições municipais. Enquanto a legenda discutia os rumos das campanhas no segundo turno, o Supremo Tribunal Federal (STF) definia a condenação do ex-ministro José Dirceu, do ex-presidente da legenda José Genoino e do ex-tesoureiro Delúbio Soares no processo do mensalão. Imediatamente, a oposição já começava a tentar tirar proveito da situação.

"Hoje (ontem), se consolidou o reconhecimento institucional de que houve uso de dinheiro público para compra de apoio parlamentar durante o governo Lula. Não há mais politização do debate, esse foi o entendimento do plenário da Suprema Corte", disse o líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE).

Na avaliação do parlamentar, o posicionamento do STF deverá ter influência sobretudo nos rumos de campanhas em que a disputa entre candidatos do PT e da oposição estiver mais apertada, como em São Paulo, onde apenas 1,77 ponto percentual separou o tucano José Serra do petista Fernando Haddad no primeiro turno. A cúpula da campanha de Serra avalia que a condenação de expoentes do PT no processo do mensalão ajudará a evitar a possibilidade de uma sangria de votos no segundo turno, mas não será capaz de conquistar o eleitorado da periferia da capital paulista. "É um tema que atinge a classe média, não as classes mais baixas. Esse eleitorado está interessado nas propostas sociais do candidato", observa um membro da coordenação do comitê do tucano.

Meta inalcançada Internamente, petistas creditam ao uso eleitoral do tema por rivais de campanha o fato de a legenda não ter alcançado a meta de conquistar mil prefeituras no pleito deste ano — o PT ficou em terceiro lugar entre os partidos em número de prefeitos eleitos, com 626, atrás do PMDB (1.020) e do PSDB (693).

No discurso público, contudo, o partido rejeita a tese da influência do mensalão nas urnas. "Nós perdemos eleições onde erramos na construção política, onde não acertamos no ajuste da política, onde fomos incapazes de fazer política de alianças mais ampla, olhando para aquilo que foi feito pelo presidente Lula e pela presidente Dilma", avalia o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS). "O presidente Lula foi eleito com essa discussão. Esse tema não tem um impacto como alguns gostariam que tivesse na vida política e no processo eleitoral do Brasil", argumenta.

O embate eleitoral em torno do mensalão fez o próprio Dirceu partir para o ataque. Na tentativa de desqualificar o discurso tucano, o ex-ministro lembrou ontem, em seu blog, as denúncias sobre um mensalão mineiro comandando pelo PSDB e as suspeitas de envolvimento do governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, com os negócios do bicheiro Carlinhos Cachoeira. "José Serra não tem autoridade moral ou direito de cobrar nada do nosso candidato Fernando Haddad, cuja biografia, ao contrário da dele, é impecável, limpa e transparente", disparou Dirceu. "Haddad participou de três governos — Marta Suplicy, na prefeitura paulistana, e as administrações Lula e Dilma Rousseff —, sem nada que o desabone, sem denúncia a envolvê-lo", afirmou o petista.

Tucano não "comemora"

Embora tenha feito inúmeras referências ao mensalão durante o primeiro turno na tentativa de atrapalhar a candidatura de Fernando Haddad, José Serra evitou alardear a condenação de José Dirceu. "Eu não comemoro condenação. Só quero Justiça", disse o tucano, ao ser questionado sobre o veredicto do STF. Serra se reuniu ontem com os vereadores eleitos por PSDB, PSD, DEM, PV e PR para definir como será coordenado o trabalho no segundo turno.

Carreata de agradecimento

Uma carreata em Parelheiros, Zona Sul de São Paulo, marcou o reinício da campanha de Fernando Haddad, ontem. Essa foi, segundo o petista, uma forma de agradecer aos eleitores pelos quase 47% de votos obtidos na região. O evento estava marcado para as 10h30, mas começou depois das 13h. Esta semana, Serra participa de eventos ao lado do ex-presidente Lula e grava programas que serão veiculados a partir da próxima semana, quando volta o horário eleitoral.

Eduardo Campos no palanque de Haddad

O governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, prometeu ontem que subirá no palanque de Fernando Haddad (PT) durante a campanha do segundo turno pela prefeitura de São Paulo. Segundo Eduardo, não será empecilho o fato de Luiza Erundina (PSB) ter desistido de compor a chapa com Haddad após o PT se aproximar do PP de Paulo Maluf. "Falei com a Luiza Erundina, que está completamente integrada, fazendo a campanha junto a nossas bases e entendendo que ele (Haddad) é a melhor opção para São Paulo neste momento", afirmou o governador. Enquanto Haddad consegue reunir caciques com facilidade, outros precisam intervir. A prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), pediu que Lula participe de comícios ao lado do candidato à sucessão na capital cearense, Elmano de Freitas (PT), que disputa o cargo contra Roberto Cláudio (PSB) — nome apoiado por Eduardo Campos.