O Estado de São Paulo, n. 45885, 04/06/2019. Economia, p. B5

 

Permanência de Estados na reforma é incerta

Idiana Tomazelli

Barbara Nascimento

04/06/2019

 

 

Mesmo com pressão de governadores pela participação dos Estados na Previdência, deputados não querem arcar com ônus político

Encontro. Moreira com governadores do PSDB em São Paulo

Apesar da ofensiva de alguns governadores pela reforma da Previdência, a permanência de Estados e municípios no texto da proposta ainda é incerta. Equipe econômica e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), continuam defendendo a manutenção dos Estados e municípios na reforma, mas líderes no Congresso ainda manifestam resistência em arcar com o ônus político de endurecer as regras de aposentadoria para servidores estaduais.

As lideranças querem que os governadores tenham envolvimento direto nas alterações e aprovem uma lei local para chancelar a adoção das mesmas exigências que valerão para servidores da União. Para facilitar, porém, existe a ideia de exigir apenas a aprovação de uma lei ordinária para essa validação, sem precisar de um quórum ainda maior para alterar as Constituições estaduais.

A movimentação cresceu porque parlamentares aliados a governadores de oposição se posicionam contra a reforma apesar da má situação financeira desses Estados. O temor de deputados que são favoráveis é que eles virem “alvo fácil” desses governadores que nos bastidores pedem pela aprovação da reforma, mas em público falam contra a medida.

A situação é delicada sobretudo para parlamentares do Nordeste que defendem a reforma. A região concentra boa parte da bancada de oposição na Câmara, governadores de partidos contrários ao governo e ainda os maiores índices de desaprovação ao governo Jair Bolsonaro. Uma combinação política considerada explosiva na visão dos deputados.

“É ruim para o Brasil, mas eu entendo essa equação. Se os deputados que têm ligação com o governador A votam contra, significa que esse governador está transmitindo para os seus deputados que não precisa aprovar a Previdência, não é um problema”, reconheceu Maia.

Pressão. O líder do PP na Câmara, Arthur Lira (AL), disse que a retirada de Estados e municípios vai reduzir a pressão em cima do parlamentar que é favorável à reforma, o que pode facilitar a aprovação. Ele defende que os governadores e deputados estaduais também tenham de arcar com o desgaste político de aprovar a reforma, em vez de as mudanças caírem na conta apenas do Congresso. “É muito bom o governador estar no palaciozinho dele e a gente resolvendo o problema deles”, afirmou. Lira disse ainda que, pelas conversas que tem tido com outras lideranças, essa posição é majoritária na Câmara.

O relator, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), voltou a dizer que várias soluções estão na mesa, mas defendeu a permanência dos Estados e municípios. “Até porque acaba sobrando para o governo federal”, disse, citando os seguidos pedidos de socorro dos Estados à União. Os governadores do PSDB – João Doria (SP), Eduardo Leite (RS) e Reinaldo Azambuja (MS) – se reuniram ontem com o relator na tentativa de arrancar um compromisso mais firme de Moreira pela manutenção dos Estados na reforma. Mas o relator reconheceu que tudo vai depender dos votos das bancadas na Câmara. Moreira disse que pretende entregar seu parecer na quinta-feira ou, no mais tardar, na próxima segunda-feira.

A poucos dias desse prazo, o relator precisa bater o martelo sobre diversos pontos. A expectativa de lideranças no Congresso e de integrantes do próprio governo é que Moreira exclua do texto as mudanças no benefício assistencial de baixa renda (BPC) e na aposentadoria rural. Outras itens, como uma regra de transição mais branda para servidores públicos, ainda precisam ser fechadas.

O relator também cogita prever a obrigatoriedade da contribuição de empregadores na capitalização, mas a iniciativa desagrada à equipe econômica, que pretendia desonerar empresas. Se não houver consenso, a capitalização pode até sair do texto para não inviabilizar a proposta.