O Estado de São Paulo, n. 45885, 04/06/2019. Economia, p. B6

 

'Vaca louca' leva Brasil a parar exportações à China

Augusto Decker

Tânia Rabello

04/06/2019

 

 

Embarques a segundo maior comprador de carnes do País foram suspensos devido a caso atípico da doença confirmado em Mato Grosso

O Ministério da Agricultura suspendeu ontem, temporariamente, a exportação de carne bovina para a China em razão do caso atípico de encefalopatia espongiforme bovina (EEB) confirmado em Mato Grosso pela pasta no dia 31 de maio. A doença é conhecida como “mal da vaca louca”.

“A suspensão temporária protocolar é uma medida automática, prevista em documento de 2015 assinado com a China”, disse a assessoria do ministério. “Como se trata de medida protocolar – e não de risco sanitário – a expectativa é que logo se levante o embargo. Em tempo razoável para que as autoridades chinesas avaliem os documentos já entregues pela embaixada de Pequim ao governo chinês.” O Ministério da Agricultura tomou uma decisão acertada disse o sócio-diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres. Para ele, a medida é “uma prova de boa vontade e acerto” da pasta na conduta relativa aos procedimentos que devem ser tomados em relação ao mal da vaca louca. Além disso, cumpre exigência dentro do acordo sanitário assinado pelos dois países. “O país de origem do problema deve suspender as exportações até que a situação seja esclarecida”, explica o consultor. “É uma atitude normal e esperada. Demonstra que nosso sistema de inspeção sanitária está funcionando e sendo extremamente rigoroso.”

Em termos de mercado, entretanto, Torres adverte que não se trata de uma notícia tão boa. “O caso de EEB surgiu há poucos dias e, a partir daí, o que os países importadores podem fazer? Puxar o freio de mão”, diz. “Não sabemos ainda quais serão os desdobramentos mercadológicos disso. Há também a possibilidade de mercados que estavam para se abrir adiarem a abertura, como a Indonésia.”

O consultor acredita, porém, que o embargo temporário seja resolvido rapidamente, pois a China passa por um momento delicado com a peste suína africana (PSA), que vem dizimando plantéis de suínos na Ásia e obrigando o país a importar mais proteína animal para alimentar a população.

Mercado. A China vem ganhando cada vez mais importância para o setor exportador de carne bovina do Brasil. No ano passado, o país asiático ampliou em 52,54% suas compras da proteína brasileira, com 322,4 mil toneladas, e desembolsou 60,04% mais, ou US$ 1,49 bilhão, de acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). Isso representou 19,6% das vendas brasileiras de carne bovina em volume e 22,6% do faturamento em 2018.

Com tal avanço, a China continental já é o segundo maior comprador de carne bovina brasileira, ficando atrás apenas de Hong Kong – lembrando que boa parte da carne adquirida por este país tem a China como destino. Neste ano, entre janeiro e abril, a China adquiriu 95,7 mil toneladas (ou 17,8% do volume total embarcado pelo Brasil) por US$ 442,4 milhões.

As empresas processadoras de proteína animal se destacaram negativamente ontem na B3. Fecharam em baixa Marfrig ON (4,25%, na mínima), JBS ON (2,93%) e Minerva ON (-2,80%). 

Segundo maior destino

52,54%

foi em quanto foram ampliadas as vendas de carne bovina do Brasil para a China em 2018

US$ 1,48 bi

foi quanto a China desembolsou em 2018 com a carne brasileira