Título: Bicheiro tinha sala na Delta
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 10/10/2012, Política, p. 10

Em depoimento à CPI do Cachoeira, o deputado tucano Carlos Alberto Leréia revelou que o contraventor promovia reuniões na sede da construtora, em Goiânia. Disse ainda que pegou R$ 120 mil emprestados com o amigo

O deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), em depoimento prestado na tarde de ontem à CPI do Cachoeira, reafirmou a amizade de mais de 20 anos com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, revelou que o contraventor tinha uma sala na sede da Construtora Delta, em Goiás, e admitiu ter recebido um rádio Nextel para se comunicar com ele. Após a oitiva, o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), disse que "a relação entre Leréia e Carlinhos Cachoeira é comprometedora e parecida com o caso de Demóstenes Torres".

Ao responder perguntas sobre as interceptações telefônicas da Polícia Federal que apontaram recebimento de dinheiro repassado pelo chefe da organização criminosa, o parlamentar alegou que pediu um empréstimo ao contraventor. Leréia informou que deve R$ 120 mil ao bicheiro. "Não paguei ainda porque ele está na prisão", justificou. O deputado confirmou que se reuniu com Cachoeira quatro vezes na sede da Delta. Em um desses encontros, disse Leréia, chegou a perguntar ao bicheiro que tipo de negócios mantinha com a empreiteira, mas o bicheio não revelou. "Eu conversava na sacada da Delta. Não achei estranho. Carlinhos é relacionado com meio mundo de gente. Uma vez, perguntei a relação dele com a Delta. Ele não quis falar e eu deixei pra lá. É até deselegante. É como perguntar idade a mulher", comparou.

De acordo com as investigações da Operação Monte Carlo, da PF, que desarticulou o esquema criminoso, o parlamentar fez referências a cheques e ao uso de um cartão de crédito do contraventor para pagar a compra de jogos infantis para computador: "Eu tenho um iPad e meus filhos gostam de joguinhos. Viajei aos Estados Unidos e comprei 100 dólares de créditos para baixar os jogos. Acabou (o limite de créditos) e eu liguei para Carlinhos para saber como compraria mais. Ele falou o número do cartão, mas eu nunca utilizei. Nem ele conseguiu usar."

Em outras gravações, Leréia alerta o amigo das investigações para desbaratar o esquema de jogos ilegais. Cachoeira pede ao deputado, que tem influência no governo de Goiás, que o ajude a afastar alguns policiais e delegados da Polícia Civil do estado. O relator levantou a hipótese de que Cachoeira teria pedido para o deputado remover o delegado Hylo Marques Pereira, que "estaria extorquindo" a organização.

"Eu reafirmo que o Hylo é meu amigo e o Carlinhos é meu amigo. Eles são conhecidos. Hoje, os delegados não podem ser removidos assim. As gravações estão fora de contexto. Não existe interferência política nisso", foi a resposta do parlamentar. O deputado ainda negou ser sócio de Cachoeira na compra de um avião. "Eu tenho uma parte de um avião, mas não é com o Cachoeira. Na época, a aeronave custou 250 mil dólares. Parece que um irmão de Carlinhos comprou uma parte depois, mas eu não sei. É melhor ter avião do que usar o de empreiteiros", ironizou. Leréia também negou ter recebido um cheque de R$ 100 mil. "O advogado Leo Teixeira estava para ganhar uma ação e perguntou se eu queria parte de uma rádio. Eu disse que não, mas falei com Cachoeira. Ele se interessou e pagou, mas o cheque estava sem fundo. Eu apenas intermediei o negócio. Depois, ele cobriu o cheque. Não recebi cheque nenhum."