O globo, n. 31403, 30/07/2019. País, p. 5

 

Alta comissária da ONU reage à morte de cacique

Rayanderson Guerra

Bernardo Mello

30/07/2019

 

 

Ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet diz que ampliar mineração em terras indígenas pode ‘levar a incidentes de violência, intimidação e assassinatos’: investigações ainda não encontraram vestígios de invasão em aldeia

A alta comissária para os direitos humanos da ONU, Michelle Bachelet, afirmou ontem que o assassinato do cacique Emyra Waiãpi da terra Waiãpi, próxima à cidade de Pedra Branca do Amapari, no Amapá, “é trágico e repreensível por si só”. Bachelet disse ainda que a política de ampliar as áreas de mineração na Amazônia, proposta pelo governo brasileiro, pode “levar a incidentes de violência, intimidação e assassinatos do tipo infligido ao povo Wajãpi na semana passada”.

Ex-presidente do Chile, a chefe de direitos humanos da ONU apontou que “é essencial que as autoridades reajam rapidamente para investigar o incidente”:

“Medidas efetivas devem ser tomadas para salvar as vidas e a integridade física do povo Wajãpi, inclusive por meio da proteção de seu território pelas autoridades”.

O procurador do Ministério Público Federal do Amapá (MPF-AP) Rodolfo Lopes declarou, em entrevista coletiva na tarde de ontem, que as investigações preliminares na terra indígena Waiãpi ainda não identificaram vestígios da presença de não indígenas na área onde foi morto cacique. De acordo com Lopes, lideranças indígenas guiaram os peritos da Polícia Federal que apuram as circunstâncias da morte. O MPF investiga as circunstâncias da morte e de possível invasão da demarcação por garimpeiros.

Segundo o procurador, cerca de 25 policiais participaram da operação. Duas embarcações estiveram à disposição dos policiais durante as buscas. Lopes não confirmou a área total e o número de aldeias onde foram feitas as incursões, mas frisou que a equipe da PF foi conduzida por lideranças locais.

— Não se confirma, por ora, (a acusação) de que houve invasão nessa terra. Não há vestígios de invasão nesses locais para onde os peritos foram levados por lideranças indígenas. Mas não se descarta a possibilidade de invasão —afirmou Lopes.

O presidente Jair Bolsonaro disse na manhã de ontem que não existe “indício forte” de um assassinato na terra indígena Waiãpi:

—As informações até o momento,e uvou atualizar de manhã: não tem nenhum indício forte de que esse índio foi assassinado lá. Chegaram várias possibilidades, a PF está lá, quem nós pudemos mandar nós já mandamos. Buscarei desvendar ocaso e mostrara verdade sobre isso aí.

No Twitter, o ministro da Justiça, Sergio Moro, afirmou: “As circunstâncias da morte de um indígena na região serão devida e completamente apuradas pela PF, que já abriu um inquérito sobre o fato e está no local. Lamentase, desde logo, o ocorrido”.