Título: Desfalcados, aliados atacam a oposição
Autor: Lyra, Paulo De Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 21/09/2012, Política, p. 4

Sem o aval de PP, PTB e PR, governistas saem em defesa do ex-presidente Lula

PAULO DE TARSO LYRA GABRIEL MASCARENHAS

O PT e os partidos da base aliada do governo federal — incluindo o PSB de Eduardo Campos e o PRB de Celso Russomanno, legendas com as quais os petistas andam às turras por conta das eleições municipais — divulgaram uma nota ontem defendendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da "fantasiosa matéria veiculada pela revista Veja", com supostas acusações de Marcos Valério afirmando que Lula chefiava o esquema do mensalão.

O documento, assinado pelos presidentes Rui Falcão (PT), Eduardo Campos (PSB), Valdir Raupp (PMDB), Renato Rabelo (PCdoB), Carlos Lupi (PDT) e Marcos Pereira (PRB), também ataca a nota divulgada na terça pelo PSDB, DEM e PPS. "Pretendem transformar em verdade o amontoado de invencionices colecionado a partir de fontes sem identificação."

A nota afirma "que as forças conservadoras revelam-se dispostas a qualquer aventura. Não hesitam em recorrer a práticas golpistas, à calúnia e à difamação, à denúncia sem prova. O gesto é fruto do desespero diante das derrotas seguidamente infligidas a eles pelo eleitorado brasileiro". E critica a oposição por "tentar pressionar o Supremo Tribunal Federal para golpear a democracia e reverter as conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula".

O Correio apurou que a decisão de divulgar uma nota política contrapondo-se à matéria da Veja e, posteriormente, à manifestação dos partidos de oposição, foi tomada na reunião do Diretório Nacional do PT, na última segunda, em São Paulo. Ficou acertado que caberia ao presidente do PT, Rui Falcão, a tarefa de procurar os demais presidentes aliados para elaborar um documento conjunto.

Além do PT, outros partidos deram sugestões no teor da nota que, além de blindar Lula dos ataques da oposição, serve para demonstrar força e coesão projetando os embates que acontecerão em 2014. "Temos, especialmente, o PMDB e o PSB assinando o mesmo texto que o PT, deixando claro que estarão todos juntos daqui a dois anos", declarou ao Correio um interlocutor do comando petista nacional.

De fora Alguns partidos aliados não assinaram o documento. A justificativa da cúpula do PT é de que não deu tempo de procurar todos os presidentes de partido e, se isso fosse feito, a nota demoraria uma semana para ser lançada. Mas a ausência de três legendas parece sintomática: PP, PTB e PR. O presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), denunciou o esquema do mensalão e o presidente nacional do PR, senador Alfredo Nascimento (AM), ainda ressente-se pela saída de seu grupo político do governo federal. O PP entrou na cota das legendas "que não foram consultadas por falta de tempo. Também não conseguiu falar com o PV e o PSD", disse um dos porta-vozes do partido.

O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), defendeu o teor da nota de ontem. "Sabia-se que, uma vez em curso o julgamento do mensalão, o alvo seria o presidente Lula. Agora, esse tipo de ação não é novidade no Brasil". Tatto retomou o discurso da "elite hipócrita e corrupta do Brasil que se une a uma parte importante da imprensa" e disse que a resposta tem de ser dada nas urnas. "O que temos de fazer é vencer, como tem sido feito até agora", completou.

Tão logo a nota dos governistas foi divulgada, o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), respondeu aos ataques para manter o embate político. "Não ouvi ninguém defender qualquer golpe ou procedimento heterodoxo. Nossa preocupação é outra: a legalidade e as urnas". Para o tucano, a reação dos aliados foi motivada pelos recentes revezes nas pesquisas de opinião. "A constatação é de que o PT não disputa mais a liderança das eleições deste ano, mas o segundo lugar."