Título: Incômodos aliados
Autor: Lyra, Paulo De Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 21/09/2012, Política, p. 6

Serra e Haddad convivem com apoios que atrapalham mais do que ajudam na corrida pelo segundo turno em SP

PAULO DE TARSO LYRA ADRIANA CAITANO

O horário político eleitoral em São Paulo nessa reta final terá como principais atrações, além dos dois candidatos que disputam a última vaga para o segundo turno — Fernando Haddad (PT) e José Serra (PSDB) —, uma coleção de aliados indesejáveis pendurados nas costas de cada um deles. No lado dos petistas, além do deputado Paulo Maluf (PP-SP), estão os réus do mensalão José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Já Serra equilibra-se para administrar o peso do prefeito Gilberto Kassab (PSD) e sua enorme impopularidade. Até o modelo de propaganda usado pelos marqueteiros dos dois lados é o mesmo, só mudam as fotos dos personagens: "Você vota nele (Serra ou Haddad), eles voltam (os aliados indesejáveis)".

O candidato do PSDB, José Serra, que voltou a abrir distância de Haddad, de acordo com a pesquisa DataFolha divulgada ontem — 21% a 15% —, ensaiou o discurso para descolar-se de Gilberto Kassab (PSD), um dos prefeitos mais mal avaliados do país. Em entrevista concedida esta semana, o tucano lembrou que Kassab foi seu vice em 2004, assumindo a prefeitura quando o candidato do PSDB desincompatibilizou-se para concorrer ao governo de São Paulo. "Ele (Kassab) cumpriu à risca o nosso programa de governo, sendo eleito em 2008 com 61% dos votos dos paulistanos", declarou Serra. Embora os interlocutores diretos do candidato do PSDB não admitam, ao assumir esse discurso, Serra tenta caracterizar que a rejeição atual enfrentada por Kassab é decorrente do segundo mandato (2008-2012), não daquele que assumiu em 2005 em substituição ao tucano. Prova disso é que Serra passou a afirmar que é o candidato da mudança, pois sabe que parte da rejeição dos paulistanos ao seu nome — impressionantes 44% — deve-se a sua aproximação com o prefeito pessedista.

No caso de Fernando Haddad, o calo é a proximidade com os réus no processo do mensalão. Apontado pela Procuradoria-Geral da República como "chefe da quadrilha", Dirceu foi o avalista da filiação de Haddad ao PT. Depois que Serra atrelou o candidato do PT ao mensalão, os advogados do petista Hélio Silveira e Marcelo Andrade entraram com uma ação no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP) argumentando que "a publicidade é manifestamente degradante porque promove uma indevida associação entre Fernando Haddad e pessoas envolvidas em processos criminais e ações de improbidade administrativa". Pediram a retirada da propaganda do ar, mas não obtiveram êxito. O Correio apurou que Zé Dirceu não se sentiu incomodado com as palavras dos defensores de Haddad. "Isso tudo é bobagem de advogado", minimizou, em reunião com pessoas próximas que acompanham os desdobramentos do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal. Dirceu rende-se ao pragmatismo, afirmando que "se isso ajudar a eleger Haddad prefeito, tudo bem", segundo interlocutores.

Líder do PT na Câmara, o deputado Jilmar Tatto (SP) disse que não há porque os petistas se envergonharem do escândalo do mensalão. Também não precisam se preocupar com a parceria com o PP de Paulo Maluf. "A nossa relação é com o PP. O partido é nosso aliado no governo Dilma. Já o Maluf tem cargos no governo do PSDB de Geraldo Alckmin". O Correio publicou na quarta uma reportagem mostrando que, em 2004, o então presidente do diretório municipal do PP paulistano, Vadão Gomes, recebeu R$ 3,7 milhões do valerioduto para acertar o apoio malufista à então candidata à reeleição para a prefeitura paulistana, Marta Suplicy, no segundo turno das eleições municipais. O apoio da agora ministra da Cultura também pode aumentar a dor de cabeça de Haddad. Uma pesquisa qualitativa interna feita semana passada por um partido que disputa a prefeitura de São Paulo vinculou a queda do petista à nomeação de Marta Suplicy para o ministério, que teria repercutido mal entre os eleitores. A interpretação seria que o candidato não é bom o suficiente e que precisou de uma "canetada de Dilma" para conseguir aliados.