O Estado de São Paulo, n. 45941, 30/07/2019. Metrópole, p. A12

 

20 empresas têm interesse em maconha medicinal

Pedro Camporez

30/07/2019

 

 

Elas foram à Anvisa, que estuda o assunto; lista inclui EUA, Israel, Canadá e Europa

Cultivo no Canadá. Brasil tem maior potencial para esse mercado na América Latina; 3,9 milhões seriam beneficiados

A menos de um mês do fim da consulta pública sobre a liberação do cultivo de maconha para fins medicinais, 20 empresas nacionais e estrangeiras já procuraram a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para manifestar interesse em cultivar a erva no País. Audiência pública para discutir a regulamentação está marcada para amanhã.

A reportagem apurou que empresas do Canadá, dos Estados Unidos e de Israel são as mais interessadas. Também desembarcaram no País, com o mesmo interesse, representantes de empresas da Austrália, do Uruguai e da Europa. A diferença dessas últimas é que elas pretendem investir por meio de parceiros locais.

A Anvisa alega que, por sigilo, não pode informar nacionalidade ou qualquer detalhe adicional que identifique os potenciais investidores. Isso porque a agência não cuida de questões de mercado, apenas orienta como deve ocorrer o processo de legalização dessas empresas, a partir do momento em que o cultivo for liberado no Brasil, possivelmente a partir de 2020.

Apesar de a Anvisa colocar o tema em consulta, a liberação do plantio de maconha enfrenta resistência dentro do próprio governo. A reação é capitaneada pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra, que trabalha para que, ao fim da consulta pública, o tema seja enterrado.

Em entrevista ao site Jota semana passada, Terra disse que o governo poderia até mesmo encerrar as atividades da agência, caso a ideia vá adiante. “Os caras que querem liberar a maconha se escondem atrás do desespero das mães de pacientes”, disse ele na entrevista.

Estima-se que, com a regulamentação aprovada pela Anvisa, o total de pacientes beneficiados pelos medicamentos à base de Cannabis, o princípio ativo da maconha, chegue a 3,9 milhões em três anos. Isso significa mercado potencial de R$ 4,7 bilhões ao ano, calcula a empresa de dados New Frontier em parceria com a startup brasileira The Green Hub.

A empresa atua no mercado de cannabis medicinal, com sede em São Paulo, e tem como clientes grandes empresas que querem entrar no ramo de medicamentos à base de maconha. CEO da The Green Hub, Marcel Grecco diz que o Brasil é, na América Latina, o País com maior potencial de mercado no ramo da maconha medicinal.

“A Colômbia está bem avançada, vai ser um dos principais exportadores, mas temos muito potencial, principalmente em um movimento em que a Anvisa dá esse passo fundamental para o Brasil não perder a vantagem competitiva. É a indústria mais promissora de todos os tempos, e a gente vê com bons olhos esse movimento da Anvisa”, destaca Grecco.

Repercussão. Ao Estado, o Ministério da Agricultura disse não ter, “por ora, projeções sobre plantio, geração de renda e posição a respeito”. O Ministério da Economia também foi procurado para se manifestar, mas não respondeu.

A abertura de duas consultas públicas para discutir a maconha medicinal foi aprovada por unanimidade, em 14 de junho, pela diretoria colegiada da Anvisa. Entre os pontos em debate está justamente o plantio. A previsão é de que as consultas terminem em 16 de agosto.

A Anvisa recebeu 590 manifestações de associações, profissionais de saúde, empresas e da população em geral. Desse total, só oito colaborações foram contrárias à legalização. Das 304 manifestações sobre registro de produtos a base de Cannabis, 67 foram feitas por profissionais de saúde. Na 2.ª consulta foram feitas 286 contribuições, 3 delas de pessoas jurídicas e 283 de pessoas físicas. Ainda sobre cultivo, contribuíram até agora 199 pessoas que se identificaram como cidadãos ou consumidores, 43 profissionais de saúde e 21 como pesquisadores.

Autorizações de uso

3.300

autorizações para uso de maconha medicinal no País foram expedidas em 2018. Em 2015, haviam sido 855. Em quatro anos, mais de 7 mil autorizações foram concedidas, principalmente para pacientes com epilepsia, autismo e dor crônica.

R$ 4,7 bi

Estimativa de valores a serem injetados na economia do País, a partir do terceiro ano de liberação do plantio.

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Pesquisa relaciona fungo imude a remédios ao aquecimento global

Roberta Jansen

30/07/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

 

Identificado em 2009, o organismo resistente se adaptou à temperatura do corpo humano, dizem cientistas americanos

O aumento das temperaturas médias do planeta pode ser responsável pela misteriosa disseminação de um fungo resistente a múltiplas drogas. Isso é o que indica novo estudo científico publicado este mês. O fungo Candida auris ataca pessoas com o sistema imunológico debilitado e pode causar vários tipos de infecção, dos ouvidos ao sistema sanguíneo. Em casos graves, há risco de morte.

O fungo é do mesmo gênero da Candida albicans, um dos principais causadores de candidíase, mas de espécie diferente. Enquanto a primeira afeta a pele, unhas e órgãos genitais e é de fácil tratamento, a C. auris tem resistência extrema.

Até agora, cientistas não sabiam explicar como ela surgiu em mais de 30 países após ter sido descoberta, em 2009. Surtos da infecção fúngica apareceram, simultaneamente, em três continentes, de 2012 a 2015.

O fungo já invadiu uma unidade neonatal na Venezuela e um hospital espanhol e fez com que um centro médico britânico fechasse a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Recentemente, foi identificado nos Estados Unidos. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil já teve dez casos suspeitos, mas nenhum foi confirmado. Em 2017, a agência publicou comunicado aos serviços de saúde sobre como prevenir e proceder com o fungo.

O novo estudo publicado na mBio, revista da Sociedade Americana de Microbiologia, sustenta que esse seria o primeiro exemplo de uma nova doença fúngica se espalhando por causa das mudanças climáticas. “Como as temperaturas ficaram mais altas, alguns organismos, entre eles a C. auris, se adaptaram ao clima mais quente e, à medida em que se adaptaram, romperam a barreira da temperatura humana”, diz o coautor do estudo, Arturo Casadevall, especialista em Imunologia da Johns Hopkins (EUA).

Infecções fúngicas são relativamente raras em humanos porque, normalmente, fungos não crescem à temperatura média do corpo e por causa de nossos mecanismos naturais de defesa. Estudos já mostraram que, por isso, de milhões de espécies de fungos, só algumas centenas são capazes de causar doenças em humanos. “O que o estudo sugere é que os fungos começam a se adaptar a temperaturas mais altas, e que vamos ter cada vez mais problemas ao longo deste século”, diz Casadevall.

Alerta. Estudos mais antigos sustentavam que o uso indiscriminado de drogas antifúngicas seria o motivo. Mas, para muitos especialistas, esse uso, ainda que problemático, não explicaria surtos simultâneos em três continentes. Mudanças do clima, com aumento médio de 1°C na temperatura da Terra, são uma resposta mais factível. O Acordo de Paris, firmado por 195 países, tem como meta conter a alta de temperatura do planeta a menos de 2°C até o fim do século.

Dengue

Em 2017, estudo na revista Lancet mostrou que a capacidade do Aedes aegypti de transmitir dengue cresceu, no planeta, 9,4% desde 1950 como resultado da elevação de temperaturas.

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Médico cubano poderá pedir autorização de residência no Brasil

Paula Felix

30/07/2019

 

 

Aval para ficar no País terá duração de 2 anos; ministério deve lançar nova versão do Mais Médicos nesta semana

Os profissionais de Cuba que atuaram no programa Mais Médicos poderão pedir autorização de residência no Brasil, segundo portaria do Diário Oficial da União de ontem. O interessado deve apresentar requerimento em unidade da Polícia Federal e o prazo da autorização de residência será de dois anos.

Estima-se que, dos 8 mil médicos que vieram para o País para atuar no programa, cerca de 2 mil ficaram após o fim do acordo entre Brasil e Cuba, rompido em novembro. Cerca de 700 desses médicos têm a situação regularizada, porque se casaram com brasileiros.

A ruptura do acordo se deu por iniciativa do governo cubano, em resposta a críticas feitas pelo então presidente eleito Jair Bolsonaro, que comparou os profissionais a escravos. O contrato vigorava desde 2013.

A portaria diz ainda que, antes da expiração do prazo de dois anos, será possível solicitar a autorização de residência por tempo indeterminado, desde que o interessado comprove meios de subsistência, não tenha se ausentado do Brasil por mais de 90 dias por ano e não tenha registros criminais.

“É garantida ao migrante beneficiado por esta portaria a possibilidade de livre exercício da atividade laboral no Brasil”, diz o texto. A autorização de residência implica desistência da solicitação de reconhecimento da condição de refugiado pelos profissionais.

Novo modelo. O Ministério da Saúde deve anunciar esta semana uma reformulação do Mais Médicos, que passará a se chamar Médicos pelo Brasil. O governo também estuda incluir o pagamento de bônus baseado em indicadores desempenho, conforme adiantou anteontem o jornal Folha de S. Paulo.

Desde o fim da parceria entre Brasília e Havana, o governo lançou vários editais para preencher as vagas com médicos brasileiros formados no País e, em outra etapa, com brasileiros formados no exterior. Mas prefeitos e governadores reclamam da continuidade de lacunas na atenção básica, principalmente em cidades mais distantes e de maior vulnerabilidade socioeconômica. Médicos respondem aos editais, até se mudam para os municípios escolhidos, mas desistem em pouco tempo.