Título: Com todas as portas abertas até 2014
Autor: Valadares, João ; Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 11/10/2012, Política, p. 8

Como humor nas alturas após ver o PSB como o partido que mais cresceu após o primeiro turno das eleições municipais, o governador de Pernambuco,Eduardo Campos,diz que não é momento de falarem2014.No entanto,não se compromete com o PT e o governo da presidente Dilma Rousseff. Em Brasília,antes de participar da reunião da Comissão Executiva do partido, ele conversou com o Correio. Sutil,mandou recados que indicam a possibilidade de ser candidato à Presidência. Tudo depende do cenário político e econômico daqui a dois anos. "Se você chegar em 2014 com a economia bombando e o emprego lá em cima, o cenário é um. Se você chegar em 2014 com muitas dificuldades, os reeleitos frustrando os eleitores, a atitude da sociedade sobre o processo político será outra." Eduardo Campos avaliou de maneira positiva o governo Dilma,mas fez uma declaração que pode ser interpretada como uma suave cobrança." Nesses dois anos, as cobranças são maiores e as contradições ficam mais evidentes. É preciso ter mais paciência e capacidade de fazer as entregas que a população vai cobrando." Na reunião da Executiva do PSB,na tarde de ontem,o governador do Ceará,Cid Gomes, declarou que "se o partido deseja ter chances reais de chegar à Presidência da República, precisa esperar 2018".Para Campos, a oportunidade pode aparecer antes.

O senhor falou com Lula ou Dilma após o resultado do primeiro turno das eleições?

Não. E não há nada marca­do. Apenas a reunião da Comis­são Executiva do PSB.

A vitória no Recife é prenúncio de passos futuros de um projeto nacional do PSB?

O PSB fez uma eleição muito positiva. Tivemos uma vitória importante. Acima das expecta­tivas. Nós estamos crescendo a cada eleição e esse crescimento decorre dos acertos políticos que têm dado resultados eleitorais. E é claro que teremos muita res­ponsabilidade com essa vitória. Cabeça no lugar, pé no chão, ol­har para o futuro, muita tranqui- lidade. Saber que a pauta, agora, não é 2014. A pauta é outra. É ajudar o país. A crise internacio­nal já aponta sinais de recrudes- cimento e é preciso que a gente ajude a presidente Dilma.

O senhor tem feito um discurso nacional e bate na tecla do novo federalismo, exatamente no momento em que os prefeitos estão muito insatisfeitos em razão da queda do Fundo de Participação dos Municípios (FMP) e da crise fiscal. É uma maneira de o PSB ganhar terreno?

Estou expressando algo que vem sendo colocado não apenas pelos prefeitos do PSB. Eu recebo prefeitos de todos os partidos e há uma crise fiscal efetiva na vida dos municípios. Há uma pauta dos municípios com a União e uma dos governadores. Os estados mais pobres estão pagando juros da dívida de 16% (ao ano). É uma coisa inaceitável. A gente precisa de uma ação solidária para refletir sobre um novo federalismo, sim. A eleição que acabou é um momen­to de esperança porque vários prefeitos novos se elegeram. A li­nha que separa a esperança da frustração é muito tênue e tem muito a ver com esse debate.

Isso é um recado ao PT, uma vez que o discurso da sigla nos palanques sempre foi o de que a esperança havia vencido o medo?

Não é. Se fosse para o PT, eu di­ria: "Olha aí, meus amigos do PT". Estou dizendo que foram eleitos homens e mulheres dos mais di­versos partidos que têm a função de cuidar das cidades. Há uma cri­se fiscal, sobretudo nos lugares mais pobres, que é uma preocu­pação da própria presidenta.

O senhor tem dito que 2014 se discute em 2014. No entanto, repete a frase que o PSB está no jogo. O senador Jarbas Vasconcelos e (o ex-governador) Ciro Gomes declararam que o senhor está pronto para a disputa. Eles estão corretos?

Na verdade, nenhum partido político vai responder a essa per­gunta que vocês vão fazer até 2014. Não têm condições de responder. Nós temos uma eleição que ainda nem se concluiu. E ainda teremos segundo turno. Há desafios no co­tidiano brasileiro muito impor­tantes. Não podemos ficar "eleitoralizando" a vida brasileira. Quem fez isso perdeu a eleição. Quando afirmo que o PSB estará em 2014 é porque o PSB vai ter um papel importante. Ninguém aqui nega que o PSB mudou de patamar e que outros partidos também terão papéis relevantes. Se você chegar em 2014 com a economia bom- bando, crescendo, tudo indo bem e com o emprego lá em cima, o ce­nário é um. Se você chegar em 2014 com muitas dificuldades, os reeleitos frustrando os eleitores, a atitude da sociedade sobre o pro­cesso político será outra.

O senhor disse, em relação ao governo Dilma, que agora é a hora de entregar as obras. Isso é uma cobrança?

A minha avaliação do governo Dilma é positiva. Primeiro, ela su­cede um governo muito bem ava­liado. Depois, ela sucede um pre­sidente com grande avaliação e prestígio popular. Ela assume a presidência com um quadro eco­nômico muito duro, muito mais duro do que Fernando Henrique Cardoso e Lula enfrentaram. En­tendo que governo é uma peça em dois atos. O primeiro ato é a chegada, é a atitude e é o plantar. O segundo ato é quando você tem que colher. Então, essa é uma hora que se intensificam as con­tradições, vem uma ressaca elei­toral que se enfrenta no Congres­so e nas assembleias legislativas. São dois anos nos quais as co­branças são maiores e as contra­dições ficam mais evidentes. É preciso ter mais paciência e ca­pacidade de fazer as entregas que a população vai cobrando.

Tivemos um embate duro entre PT e PSB no Recife e teremos, agora no segundo turno, em outros locais. Um exemplo é Fortaleza. O senhor repete que as disputas são locais, mas é realmente possível esse enfrentamento não contaminar o quadro nacional?

Agente tem que colocar cada coisa no seu devido lugar. Em uma eleição municipal, as contradi­ções são colocadas no espectro municipal. Sabendo que, para isso acontecer, todos os lados preci­sam ajudar. Agora, é óbvio que nu­ma disputa sempre há uma pala­vra mais dura, uma ataque, e fica uma rusga.

O senhor está dizendo que, se ocorrer um problema lá na frente, a culpa será do PT?

Não quero torcer para ter pro­blema. Pelo contrário. Mas não posso garantir que não haverá rusgas.

Politicamente, a análise é que a vitória de Márcio Lacerda em Belo Horizonte também é uma vitória do senador Aécio Neves (PSDB-MG). O que se fez lá pode ser repetido em plano nacional?

Não quero diminuir o papel que o senador Aécio Neves teve em Belo Horizonte. Ele esteve no palanque como uma grande lide­rança que saiu vitoriosa. Faço uma análise bem pé no chão. A reeleição de um prefeito é a apro­vação de sua gestão. Na verdade, tudo isso se iniciou a partir de uma aliança feita entre dois qua­dros políticos que o país respeita. O ministro Fernando Pimentel (PT) e o senador Aécio Neves en­tenderam que era hora de ter uma ação solidária das duas forças po­líticas e oferecer um nome. Esse nome foi Márcio Lacerda, que é fi­liado ao PSB. Ele poderia ter pego essa chance e jogado fora se o seu governo fosse desastroso. Ele não seria reeleito.

O senhor tem repetido que não é mais tempo da dicotomia PT-PSDB, mas temos uma eleição em São Paulo em que essa disputa fica bastante evidente.

Em muitos lugares, o próprio PT tem aliança com o PSDB. Nós não podemos negar que o PSDB teve um papel na vida pública brasileira bem diferente de outros aliados que a gente tem no plano regional e nacional. Os que estão no PSDB hoje nos ajudaram a construir a democracia. Isso é pouco relevante? Não. Ajudaram a construir a estabilidade econômi­ca. Isso é pouco relevante? Não. A contribuição do presidente Lula ao Brasil é pouco relevante, como alguns tucanos acham? Não. Acho que envelheceu essa política em que setores do PT negam absolu­tamente tudo do PSDB e setores do PSDB negam todas as con­quistas da presidenta Dilma. Isso não é verdade. E, não sendo ver­dade, perde força. Muitas coisas boas foram feitas. No governo Fernando Herinque houve coi­sas boas e ruins. Acabar com a inflação foi ruim? Não. Qual o problema de uma aliança como essa em Belo Horizonte? É mais fácil de explicar essa do que ou­tras a que a gente assiste.

Figuras chave do PT e ainda com muita influência no partido foram condenadas pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção no caso do mensalão. Isso enfraquece o partido para 2014?

Todos nós lamentamos tudo isso. Ninguém fica feliz vendo um processo como esse. Acho que o dano que isso tinha que causar, já causou em 2005. O jul­gamento político foi feito em 2005. O dano foi naquele tempo. Não vejo impacto nem nessa eleição. O próprio José Dirceu diz que já se sentia julgado pela opi­nião pública por todo o processo que ele viveu. O que acontece agora é a formalização. Não vejo isso com o efeito que muitas pes­soas imaginam.

O senhor fez uma aliança no Recife com o PMDB de Jarbas Vasconcelos. Até que ponto essa aliança caminha em direção a 2014? Como o senhor pretende seguir com o senador que já foi um desafeto?

Nós estivemos no mesmo pa­lanque até 1992 e passamos 20 anos tendo embates mais duros. Todos sabem disso. E que o PMDB de Pernambuco sempre esteve na Frente Popular. Mais recentemen­te, nós, que não nos falávamos, co­meçamos a conversar depois da eleição que disputei com ele. Sem­pre tive uma relação muito próxi­ma e preservada com Raul Henry, deputado federal do PMDB. Nós conversamos e eu não imaginava que teríamos qualquer tipo de aliança imediatamente. Foi um apoio muito importante para a nossa vitória no primeiro turno. Eles estiveram dentro da campa­nha, participaram discutindo o conteúdo. O nosso desejo é que es­sa aliança perdure até 2014.