O Estado de São Paulo, n. 45882, 01/06/2019. Economia, p.B6

 

Desemprego cai, mas desalento é recorde

Daniela Amorim

01/06/2019

 

 

 

 

 Recorte capturado

 

 

Taxa recuou de 12,7% para 12,5% no trimestre encerrado em abril; no período, mais 220 mil pessoas desistiram de procurar trabalho

 

Daniela Amorim / RIO

A taxa de desemprego teve ligeira redução no País, ao passar de 12,7% no trimestre encerrado em março para 12,5% no trimestre até abril. A população desocupada chega a 13,2 milhões. No entanto, se somarmos a essa parcela o total de desalentados e o número de pessoas subocupadas, ainda falta trabalho para uma população recorde de 28,4 milhões, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados ontem pelo IBGE.

O número de desalentados, que são as pessoas que desistiram de procurar trabalho, e de subocupados, que são aqueles que trabalham menos horas do que gostariam, foi recorde. No primeiro caso, são 4,875 milhões no trimestre encerrado em abril. O resultado significa 202 mil desalentados a mais em relação ao trimestre encerrado em janeiro. Já a taxa de subocupados ficou em 7,6%. Em todo o Brasil, são 6,996 milhões de trabalhadores nessa condição.

Mas a abertura de 480 mil vagas com carteira assinada no período pode sinalizar uma reação. “É um resultado surpreendente. É claro que a situação ainda é muito ruim e está longe de ser ideal, com subutilização alta, desalento alto, desemprego alto. Mas dá para ter algum alívio em relação ao que vínhamos vendo. A tendência agora é ter alguma guinada de melhora”, avaliou o economista Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

O aumento no número de vagas formais foi puxado pela indústria, pelo setor financeiro e pelo segmento de administração, educação e saúde. Houve influência da maior contratação por prefeituras de professores para o ensino fundamental, revelou o IBGE.

“Apesar da perspectiva de ampliação das vagas de trabalho, seu ritmo de crescimento deve ser mais moderado, haja vista a fraca atividade econômica e o ambiente de elevadas incertezas, o que limita as decisões de contratações das empresas”, afirmaram ao Estadão/Broadcast os analistas Thiago Xavier e Lucas Souza, da Tendências Consultoria Integrada.

Em relação ao trimestre móvel encerrado em janeiro de 2019, o mercado de trabalho registrou uma geração de 270 mil vagas com carteira assinada. A população ocupada com carteira assinada no setor privado ainda está 3,4 milhões abaixo pico do trimestre terminado em julho de 2014. “Não vai recuperar isso tão cedo. O ponto mais baixo que teve da carteira foi no ano passado. Essa melhora de 480 mil (em relação a um ano antes) é porque você está pegando o ponto mais baixo da série. É surpresa a reação da carteira assinada, mas está longe de recuperar (o patamar mais alto da série)”, disse Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Segundo Azeredo, os recordes negativos mostrados pela pesquisa refletem uma situação ainda ruim no mercado de trabalho. Por outro lado, a geração de vagas com carteira assinada seria “um processo de reação”.

“Tem 1,9 milhão de vagas geradas em um ano. Um quarto é com carteira assinada. Mas 48% é trabalho por conta própria, e outro um quarto é sem carteira assinada. Tem aumento da população ocupada, mas o que está marcando a maioria desse aumento ainda é informal”, disse Azeredo.

O emprego sem carteira no setor privado cresceu em 368 mil vagas, enquanto o trabalho por conta própria ganhou a adesão de 939 mil pessoas.

 

- Comparação

“É um resultado surpreendente (de criação de vagas com carteira assinada), dá para ter algum alívio em relação ao que vínhamos vendo.”

Daniel Duque

ECONOMISTA DO IBRE/FGV