Título: Romney, o moderado
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 11/10/2012, Mundo, p. 19

Eleições nos EUA

Republicano ameniza o discurso sobre temas como aborto e impostos para conquistar indecisos

De olho no voto dos estados ainda sem preferência eleitoral definida, especialmente os de Ohio, onde faz campanha nestes dias, o candidato republicano à Casa Branca, Mitt Romney, deu declarações nos últimos dias moderando sutilmente seu discurso e o inclinando mais ao centro. Após uma longa batalha para conquistar a base mais conservadora de seu partido durante as primárias, o ex-governador de Massachusetts tem assumido posicionamentos a respeito de temas como aborto e impostos quase impensáveis no começo de sua campanha. Em resposta, a equipe democrata o acusou de esconder suas verdadeiras opiniões radicais a fim de ganhar apoio dos eleitores de centro. Desde sua apática atuação no primeiro debate, o presidente Barack Obama vem acusando Romney de "não ser sincero" com os eleitores, enquanto assiste ao adversário crescer nas pesquisas.

Os jornais norte-americanos deram destaque ontem à declaração do republicano de que não tem planos para introduzir uma legislação que restrinja o aborto. "Não tenho conhecimento de nenhum projeto de lei sobre o aborto que faça parte de meu programa (de governo)", declarou ao conselho editorial do jornal Des Moines Register, em Iowa, na terça-feira. Alguns republicanos conservadores já manifestaram o desejo de uma legislação dedicada a limitar o aborto, legalizado nos EUA. O partido passou, inclusive, por um mal-estar em agosto quando seu deputado Todd Akin (Missouri) disse que "casos de gravidez depois de estupro são muito raros", uma vez que as mulheres, segundo ele, têm defesas biológicas para evitá-la em caso de "estupro legítimo". A declaração quase custou a candidatura de Akin ao Senado. Em geral, o eleitorado feminino tende a apoiar Obama, como têm mostrado as pesquisas.

Já em Ohio, Romney participou ao vivo do prestigioso programa Situation Room, da rede de tevê CNN, no qual garantiu que protegeria as deduções populares da classe média em uma ventual reforma do sistema fiscal dos EUA. Pressionado pelo apresentador WolfBlitzer, o candidato tentou dar mais detalhes de seu abrangente plano de corte de impostos. O assunto figura também entre uma das cobranças do adversário democrata, que reiteradas vezes afirmou que Romney pretende afrouxar os encargos dos ricos e aumentar os da classe média. O ex-governador tem sido questionado por sua ambição de baixar as taxas de impostos sem prejudicar a arrecadação e por não esclarecer exatamente como espera atingir esse resultado. Segundo o jornal New York Times, isso tem permitido deduzir que o republicano pretende acabar com as deduções populares para juros hipotecários e doações de caridade. À CNN, Romney prometeu que protegeria essas deduções "pelo menos da classe média", algo que analistas acham improvável.

Microcosmo

Comentaristas do programa avaliaram, logo após a entrevista, que um dos alvos das declarações de Romney era exatamente o eleitorado de Ohio, no foco das duas campanhas nos últimos dias. O estado é um dos 12 swingstates, estados sem uma inclinação ainda definida e que podem decidir as eleições de 2012. Estudiosos apontam que nenhum republicano chegou à Casa Branca sem vencer nesse que é visto como um microcosmo da economia norte-americana. A cientista política Melissa Miller, da Universidade Estadual Bowling Green (Ohio), avaliou ao Correio que, além de ter uma realidade nacional espelhada em menor escala, a divisão partidária dentro de Ohio também ajuda a torná-lo tão decisivo. Os eleitores, mais moderados do que os tradicionalmente liberais da Califórnia (pró-democratas) ou os conservadores do Texas (pró-republicanos), podem pender tanto para Romney como Obama até o dia da votação, em 6 de novembro.

No estado, antes do debate de Denver, o presidente liderava a maioria das pesquisas. Após o efeito devastador de seu desempenho, Ohio figura como um crucial campo de batalha diante dos novos números. A pesquisa Reuters/Ipsos de ontem mostrou Romney à frente, pela primeira vez em mais de um mês, com 45% das intenções de voto, contra 44% de Obama. Já a medição diária do Gallup, conduzida entre 3 e 9 de outubro, mostrou os dois candidatos em pé de igualdade, com 48% das intenções entre os inclinados a votar, um dia depois de o republicano alcançar dois pontos de vantagem. Segundo o Gallup, Obama mantém, porém, sua "forte aprovação", acima dos 50%, assim como nos últimos sete meses. Ontem, a taxa foi de 53%.