O Estado de São Paulo, n. 45938, 27/07/2019. Internacional, p. A12

 

Bolsonaro quer superar crise sem rusgas com EUA

Julia Lindner

27/07/2019

 

 

Presidente diz que quer resolver até segunda-feira problema dos navios iranianos em Paranaguá e reafirma alinhamento com Trump

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que espera resolver o “problema” dos navios iranianos parados há quase 50 dias no Porto de Paranaguá” (PR) no máximo até segundafeira e “sem criar qualquer rusga” com os EUA. Ele voltou a afirmar ontem que está “alinhado” com o governo de Donald Trump.

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, determinou, na noite de quarta-feira, que a Petrobrás abasteça os dois navios com bandeira do Irã que estão parados no litoral do Paraná desde junho. Ao se recusar a fornecer combustível, a estatal brasileira alegava que poderia ser punida, pois as embarcações são alvo de sanções americanas.

“Nosso governo está alinhado, sim, com o governo Trump. Estamos entrando em contato. Temos conversado desde ontem (quinta-feira) com o embaixador do governo americano nessa questão. Tem a decisão do Toffoli. Agora, os bancos não querem receber o recurso para esse reabastecimento do navio. Então, espero que nas próximas horas, ou até no máximo segunda-feira, a gente resolva esse problema sem criar qualquer rusga com os EUA”, declarou o presidente.

Ontem, a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) reforçou ao Estado que as sanções econômicas contra o Irã não devem ser aplicadas em caso de transporte de alimentos, medicamentos ou equipamentos médicos.

Segundo Luiz Eliezer Ferreira, economista da entidade, sanções desse tipo poderiam afetar os negócios entre os dois países. “O Irã é um dos principais parceiros comerciais em produtos do agronegócio. Este imbróglio geopolítico pode prejudicar bastante nossa balança comercial com o Irã, que neste momento é bastante superavitária.”

O comércio brasileiro com o Irã é superavitário. No primeiro semestre deste ano, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o Brasil importou US$ 26 milhões em produtos iranianos e vendeu US$ 1,3 bilhão. O milho é responsável por 36% das vendas ao Irã. A soja vem atrás com 34%.

Parte do setor agrícola teme que o alinhamento automático de Bolsonaro com os EUA possa afetar o preço de produtos brasileiros. “Vemos isso (o imbróglio) com bastante preocupação, porque o Irã é um dos grandes parceiros na compra do cereal do Brasil. Gostaríamos que isso se resolvesse o quanto antes, porque a situação pode sim afetar o valor do nosso milho, principalmente o de Mato Grosso, Estado que está acabando de colher uma grande safra”, disse Antônio Galvan, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT).

Outras entidades do setor consultadas pelo Estadão/Broadcast evitaram se posicionar. O vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Glauber Silveira da Silva, disse que o setor “não pode perder um cliente como o Irã”, mas que, no curto prazo, não deve haver prejuízos para o produtor rural, que já vendeu a maior parte do milho colhido para o exterior. Segundo ele, a entidade enviará um ofício ao Ministério da Agricultura pedindo uma solução para o problema.

A empresa dona dos cargueiros parados no litoral do Paraná, a Sepid Shipping Company, é alvo de sanções do Departamento do Tesouro dos EUA desde novembro de 2018. Na ocasião, pessoas físicas ligadas ao regime iraniano, mais de 200 embarcações, empresas de agenciamento marítimo, aeronaves, bancos e exportadores iranianos entraram na lista da Agência de Controles de Ativos Estrangeiros (Ofac, na sigla em inglês), que proíbe empresas americanas de fazer negócios com entidades sob sanção.

Tanto a companhia como os navios Bavand e Termeh – que já estão no Brasil, além do Ganj e o Delruba – fazem parte da lista da Ofac. O restante da frota, no entanto, continua circulando pelo mundo, carregando e descarregando aparentemente sem problemas.

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Cargueiros partem no fim de semana

Clarice Couto

27/07/2019

 

 

Os dois navios com bandeira do Irã que aguardam abastecimento na costa do Paraná devem zarpar neste fim de semana, informou a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa). Assim que for abastecido, o Bavand, que já está carregado com 48 mil toneladas de milho, seguirá para o porto iraniano de Bandar Iman Khomeini. Já o Termeh, que está vazio, vai para o Porto de Imbituba, em Santa Catarina. Segundo a Appa, o Bavand vai receber 1.300 toneladas de combustível e o Termeh, 600 toneladas. “Reiteramos que nenhum dos dois navios iranianos movimentou carga nos portos paranaenses. As embarcações apenas fizeram parada técnica de apoio, para abastecimento, no Porto de Paranaguá”, disse a autarquia.