O Estado de São Paulo, n. 45937, 26/07/2019. Política, p. A8

 

Hacker diz à PF que não vendeu dados

Renato Onofre

Patrik Camporez

26/07/2019

 

 

Walter Delgatti Neto, o Vermelho, afirma em depoimento ter repassado os dados capturados a site de forma anônima e sem remuneração

Apontado como líder do grupo preso na terça-feira passada sob acusação de hackear telefone celulares de autoridades, Walter Delgatti Neto, conhecido como “Vermelho”, afirmou, segundo pessoas que tiveram acesso ao seu depoimento à Polícia Federal, que não pediu nenhuma contrapartida financeira ao dar acesso ao material hackeado ao jornalista Glenn Greenwald, fundador e editor do The Intercept Brasil.

O Estado revelou ontem que Vermelho disse ter dado ao jornalista americano, fundador do site, acesso a informações capturadas do aplicativo Telegram. A reportagem apurou que ele justificou ter tomado a decisão de compartilhar o material por julgar errada a conduta dos investigadores da Lava Jato. Relatou, ainda, ter mantido o anonimato nas conversas com Greenwald. A PF vai investigar se as informações são verdadeiras e se ele omitiu dados.

O site é responsável pela publicação de reportagens com o conteúdo de supostas mensagens trocadas entre o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e procuradores da forçatarefa da Lava Jato. Na visão do The Intercept, as mensagens sugerem parcialidade do então juiz Sérgio Moro na condução dos processos da operação.

Ao entrar em contato com Greenwald, o hacker teria se identificado com o pseudônimo de “Brasil Baronil”. Os dois conversaram pelo aplicativo Telegram, segundo fontes que acompanham as investigação.

O Estado apurou que a troca de mensagens entre Vermelho e Greenwald ocorreu antes e durante a publicação das reportagens envolvendo Moro e a força-tarefa da Lava Jato.

Nos primeiros contatos com o jornalista, “Brasil Baronil” teria dito que era uma pessoa interessada em “ferrar a Lava Jato” e que chegou ao contato de Greenwald por indicação. A reportagem não conseguiu confirmar quem seriam os interlocutores que uniram os dois.

Em mensagens publicadas ontem no Twitter, Greenwald voltou a afirmar que não comenta sobre a fonte. Contudo, republicou uma reportagem confirmando o que o Estado revelou ontem sobre Vermelho ser a fonte do site. Ele tratou o fato como uma “informação nova e verdadeira”. Logo após recuou do post.

Em outra mensagem, Greenwald ressaltou que os contatos teriam ocorrido após a investida dos hackers contra os telefones de autoridades. “Mais importante: ‘Os contatos com Greenwald, segundo o preso, foram virtuais, somente pelo aplicativo de conversas Telegram, e ocorreram depois que os ataques aos celulares das autoridades já tinham sido efetuados’. Exatamente o que falamos desde o começo”, escreveu.

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Toffoli avalia antecipar análise sobre uso de Coaf

Lauriberto Braga

26/07/2019

 

 

O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, afirmou ontem que poderá antecipar o julgamento de decisão que condicionou o compartilhamento de dados de órgãos do governo à prévia autorização da Justiça. A análise do tema em plenário da Corte está prevista para novembro.

“O que fiz foi conceder uma liminar proibindo (o compartilhamento de dados com o Ministério Público). Mas vamos julgar em plenário o mais rapidamente possível devido à grande repercussão geral do caso.”

A decisão de Toffoli, que atendeu a um pedido da defesa do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, atinge investigações em que o Ministério Público utilizou, sem autorização judicial, dados de órgãos como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Banco Central e Receita Federal.

Investigado pelo Ministério Público do Rio, o senador alega que houve quebra ilegal de sigilo bancário por parte dos procuradores, que acessaram relatórios do Coaf sem uma decisão judicial.

Os relatórios mostram suspeitas de movimentação financeira atípica nas contas de Flávio e do seu ex-assessor Fabrício Queiroz, quando o senador ainda ocupava uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio, conforme revelou o Estado em dezembro passado. A decisão de Toffoli foi criticada por integrantes do MP, que temem a paralisação de centenas de casos. O ministro rebateu a avaliação. “O que acontece é que o Coaf vai dar um limite de como deve ser feito isso (as investigações). Vai orientar a maneira adequada para evitar nulidade futura. A decisão que tomei não é para inviabilizar investigação, é para permitir as investigações.”