Título: Alimentos, vilões da inflação
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 21/09/2012, Economia, p. 12

Medido na primeira quinzena do mês, IPCA-15 registra alta em setembro. Carne e frango pesam mais no bolso do brasileiro

A inflação está pesando cada vez mais no bolso dos brasileiros. A alta é um reflexo da disparada do preço dos alimentos, responsáveis por metade do aumento registrado no Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgado ontem. Em setembro, o indicador avançou 0,48%, acima da medição anterior, que mostrou elevação de 0,39%. Em 12 meses, os preços já estão 5,31% mais altos. O IPCA 15 é uma previa da inflação oficial do mês.

No grupo alimentação, o vilão foi a carne. Até agosto, o produto registrava deflação de 0,76%. Um mês depois, essa curva se inverteu para uma alta de 1,7%. Já o frango inteiro, que em agosto havia ficado 1% mais caro ante o período anterior, teve nova elevação, dessa vez de 3,4%. "Oitenta e um por cento da aceleração entre um mês e outro no grupo alimentação pode ser explicada pelo item carnes", avalia o economista-chefe Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal.

Em nota, o Itaú Unibanco lembra que a alta da carne se deve ao encarecimento dos grãos em mercados externos. Em função da quebra da safra de milho nos Estados Unidos, o custo de pecuaristas com rações animais aumentou cerca de 40%, o que desencadeou uma série de reajustes no valor final. Eldo Lustosa do Nascimento, dono de uma casa de carnes em Taguatinga Norte, reclama dos preços altos vindos do fornecedor. "A cada semana enfrentamos novas remarcações. Uma parte a gente repassa, mas nem tudo, porque espanta o cliente", diz.

Também como efeito de problemas climáticos, dessa vez no Brasil, outros alimentos colaboram para a inflação. É o caso da batata inglesa, do arroz e do pão francês, que tiveram aumentos de 15,6%, 3,9% e 2,3%, respectivamente. Ao todo, o grupo alimentos foi responsável por 52% da variação do IPCA-15.

Serviços O BES Investimento observou, em relatório enviado a clientes, que os serviços também pesaram na inflação, ao registrar alta de 0,47%, em média. Entre os fatores que mais contribuíram para essa elevação, a despesa com empregado doméstico ficou na primeira posição, com avanço de 1,24% no IPCA-15. Um mês antes, esse tipo de gasto já tinha ficado 1,11% mais caro. Nos últimos 12 meses, o aumento acumulado dos grupo de serviços chega a 7,65%.

O economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat, diz que as altas nos preços devem resultar em uma inflação mais forte na próxima medição do IPCA, que pegará o resultado dos 30 dias de setembro. Para ele, o indicador deverá registrar alta de 0,55%. O Itaú Unibanco também divulgou nova projeção para a inflação oficial de setembro. O banco aposta em uma alta de 0,58%, ante o 0,52% antes projetado.

Economistas do Santander acham que, a partir de agora, o índice acumulado em 12 meses deve se distanciar progressivamente da meta — de 4,5% —, refletindo a recuperação econômica esperada para o segundo semestre. Para a agência de classificação de risco Austin Rating, esse quadro prejudica a estratégia do governo de continuar reduzindo a taxa básica de juros. A Austin acredita que a autoridade monetária deverá manter a Selic nos atuais 7,5% ao ano até o fim de 2012.