Título: Obama corteja os latinos na Flórida
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Fonte: Correio Braziliense, 21/09/2012, Mundo, p. 17

Em debate de auditório, presidente admite "fracasso" na reforma das leis de imigração. E volta a faturar com declarações do rival sobre os americanos que "dependem do governo"

O presidente Barack Obama, embalado pelas últimas pesquisas em sua campanha pela reeleição à Casa Branca, aproveitou ontem um debate organizado pela tevê Univision com representantes da comunidade hispânica, na Flórida, para ganhar terreno em um eleitorado crucial para a vitória em um estado estratégico. Obama, que emitiu uma ordem presidencial suspendendo a deportação de jovens estrangeiros em situação irregular, lamentou não ter aprovado uma reforma completa das leis de imigração, como prometera na campanha vitoriosa de 2008. Mas, embora admitindo que esse foi seu "maior fracasso", responsabilizou a maioria republicana na Câmara dos Deputados pelo impasse.

"Como me lembraram aqui, meu maior fracasso foi não ter conseguido aprovar a reforma imigratória", afirmou o presidente, que aparentava descontração diante da audiência e dos entrevistadores. Obama não perdeu, porém, a ocasião para cultivar a imagem de um governante inclinado ao consenso, em lugar da imposição sobre o Legislativo. "Esse é o pensamento de que o presidente é um todo-poderoso que consegue fazer tudo funcionar. Precisamos da cooperação de todos para concluir isso", arrematou.

Entrevistado no dia seguinte à participação do candidato republicano, Mitt Romney, o presidente teve ainda a chance de explorar mais uma vez as declarações do adversário menosprezando os americanos beneficiários de programas públicos de saúde, entre outros. Em declarações feitas em um encontro a portas fechadas com doadores, em maio, e divulgadas no início da semana, Romney se referiu a "47% dos americanos" que seriam eleitores de Obama por acreditar "que são vítimas e que o governo tem o dever de cuidar deles". Acusado pelo presidente de "excluir metade do país", o desafiante defendeu-se: "Eu me preocupo com 100% da população".

Perguntado sobre as declarações do oponente, o chefe de Estado voltou ao ataque. "Quem diz que metade do país se considera vítima e quer ser dependente do governo é talvez porque não tenha andado muito por aí", disparou. Depois, elogiou os americanos, para ele "o povo mais trabalhador" do mundo: "O problema não é que eles não trabalhem duro o suficiente, ou que não queiram trabalhar, ou que sejam pouco tributados, ou que só queiram vadiar e colecionar cheques do governo: as pessoas querem uma mão, não uma esmola". Obama arrancou aplausos quando colocou os milionários — como é o caso de Romney — entre os mais beneficiados por reduções de impostos sob governos republicanos.

Considerado crucial na eleição de 6 de novembro, o eleitorado latino nunca recebeu tanta atenção de democratas e de republicanos. Na vitória de 2008, Obama foi a escolha de 67% dos hispânicos, índice mais de duas vezes superior aos 31% obtidos pelo então adversário, John McCain. Apesar dos esforços de Romney, as pesquisas recentes o colocam em desvantagem entre os latinos por 40 pontos percentuais. "O presidente conhece a realidade da comunidade hispânica e, certamente, é quem tem mais afinidade com ela, muito mais do que as propostas absolutamente irracionais e até mesmo antiamericanas que Romney está fazendo sobre a ajuda federal", disse à imprensa Luis Lauredo, ex-embaixador americano perante a OEA e dirigente da campanha democrata na Flórida.

Romney em Ohio Ainda ontem, a equipe de campanha de Mitt Romney anunciou que ele e seu candidato a vice, Paul Ryan, vão iniciar na segunda-feira uma viagem de três dias de ônibus por Ohio, outro estado crucial. Batizada como "Plano Romney para uma classe média forte", a viagem começará em Lima, noroeste do estado, e seguirá para até Cincinnati, cidade industrial duramente atingida pelo desemprego nos quatro anos de governo de Obama.

S$ 50 mil somem de comitê Três cheques emitidos por um dos principais escritórios da campanha de Barack Obama pela reeleição, em Chicago, com valor total na casa de US$ 50 mil, foram desviados, e a polícia de Chicago abriu uma investigação para apurar o desfalque. Os cheques destinavam-se a pagar fornecedores de material eleitoral, mas foram retirados indevidamente do Obama for America, comitê instalado em um arranha-céu no centro da cidade a principal de Illinois, berço político do presidente. A polícia não encontrou evidências de que o escritório tenha sido invadido, mas descartou em princípio que o autor do roubo tenha ligação com a campanha.