Título: Contrata-se articulador
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 14/10/2012, Política, p. 3

Com o enfraquecimento definitivo de José Dirceu, condenado no Supremo por corrupção ativa, o PT começa a passar por rearranjo de forças e abre espaço para a ascensão de novas lideranças

Condenado por corrupção ativa pelo Supremo Tribunal Federal e às vésperas de ser julgado por formação de quadrilha, o ex-todo-poderoso no PT José Dirceu teve, na última quarta-feira, em São Paulo, possivelmente uma das últimas homenagens públicas do partido que comandou durante anos. Durante reunião do Diretório Nacional, Dirceu — e o ex-presidente José Genoino, também condenado no STF — foi ovacionado. Ele traçou diretrizes e orientou os companheiros a empenharem-se nas eleições municipais. Em especial, na vitória de Fernando Haddad, em São Paulo. “Foi mais solidariedade do que reverência ou sentimento de viuvez”, disse ao Correio um petista que integra a maquina partidária.

Sem Dirceu no posto de grande timoneiro, a tendência é que as decisões sejam menos personalistas e mais colegiadas. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganha cada vez mais força, mas ele próprio sempre admitiu que não tem paciência para os debates internos do partido. Por isso, uma gama de pessoas passa a ganhar mais espaço. “O PT, no início, era mais ideológico, mais esquerdista. Hoje, é uma legenda mais plural, mais espalhada nas diversas correntes da sociedade”, justificou o secretário nacional de Organização da sigla, Paulo Frateschi.

Ao lado do atual presidente, Rui Falcão, Frateschi é visto como um nome que pode ganhar peso na estrutura da legenda. A situação de Falcão, contudo, é mais ambígua. Ele chegou à presidência por uma convergência de fatores que permitiram a um petista de uma corrente minoritária ter o apoio do principal grupo, o Construindo um Novo Brasil (CNB). “Ele não é unanimidade. Se conseguir eleger Fernando Haddad prefeito de São Paulo, ganha força para continuar no cargo após novembro do ano que vem”, disse um interlocutor do partido.

Outra alternativa é que novas lideranças regionais passem a assumir o papel que antes era centrado em Dirceu. Nomes como os dos governadores Tarso Genro (Rio Grande do Sul) e Jaques Wagner (Bahia) podem ganhar destaque. O problema é que esses movimentos dependem de avaliações positivas nas respectivas gestões. Wagner não está tão bem avaliado e Genro têm direito a concorrer à reeleição em 2014.

Memória

Timoneiro na berlinda

José Dirceu foi o grande responsável pelas articulações que moldaram a imagem do até então intransigente sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva em uma figura mais simpática, com forte apelo popular, que venceu as eleições presidenciais de 2002 e 2006. Dobrou os radicais do partido à aliança com o PL de Valdemar Costa Neto — outro condenado no mensalão — e do ex-vice-presidente José Alencar. Também foi o grande comissário da onda vermelha que assegurou a maior bancada do PT na história da Câmara.

Esse Dirceu não existe mais. Segundo petistas ouvidos pelo Correio, desde 2005, quando o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) afirmou que, além do PT e da Casa Civil, Dirceu também comandava uma quadrilha criada para comprar apoio político ao governo Lula, o grande líder foi diminuindo de tamanho. Ainda naquele ano, ocorreu o primeiro ataque duro: Tarso Genro queria refundar a legenda. O grupo de Dirceu conseguiu segurar o movimento. Ganhou tempo, não espaço.

De lá para cá, as decisões passaram a ser colegiadas. Os presidentes que sucederam José Genoino no comando partidário trocaram apoios mútuos e fizeram gestões integradas. Os petistas aprovaram as presidências de Ricardo Berzoini e de José Eduardo Dutra, sempre auxiliados por José Eduardo Cardozo, que hoje ocupa o Ministério da Justiça.

Petistas influentes no partido disseram ao Correio que Dirceu é mais forte na base partidária do que na cúpula. “Tanto que a nota da CUT, por exemplo, condenando o STF pelo julgamento do mensalão, foi mais dura do que a do Diretório Nacional”, comparou um correligionário com alto cargo. (PTL)