O Estado de São Paulo, n. 45929, 18/07/2019. Política, p.A10
PDT suspende Tabata e mais 7 'infiéis'
Matheus Lara
Mariana Haubert
18/07/2019
Deputados que votaram a favor da reforma da Previdência vão responder a processos disciplinares; decisão final pode levar até 60 dias
A deputada Tabata Amaral (SP) e outros sete parlamentares do PDT foram suspensos do partido por terem votado a favor do texto-base da reforma da Previdência no primeiro turno da análise da proposta na Câmara. Eles responderão a processo administrativo na Comissão de Ética do partido, que prevê uma decisão em até 60 dias.
A executiva nacional do PDT se reuniu ontem para debater a situação dos dissidentes, que contrariaram a orientação da legenda e apoiaram mudanças na aposentadoria. “Por decisão da maioria, os deputados também estão com suas representações partidárias suspensas até que o processo seja concluído, o que pode demorar até 60 dias”, informou a sigla. A possibilidade de punição aos “infiéis” foi antecipada pelo Estado.
De acordo com o presidente do PDT, Carlos Lupi, a decisão do diretório nacional é soberana e representa todas as instâncias partidárias. “O diretório nacional decidiu. Temos uma proposta (de reforma da Previdência) paralela que Ciro (Gomes, candidato derrotado do partido à Presidência em 2018) está nos ajudando a levar a todos os cantos do Brasil e que achamos que seja uma reforma justa. Todos tiveram todas as instâncias partidárias para discutir, apresentar propostas”, disse Lupi.
O presidente do PDT afirmou, no entanto, que o posicionamento dos dissidentes pode “evoluir”, já que a proposta será votada em segundo turno, no mês que vem. “É importante lembrar que ainda terá uma segunda votação na Câmara, em agosto. O ser humano vive da evolução. E acho que todos podem evoluir durante esse processo”, declarou.
Além de Tabata, votaram a favor da reforma e estão suspensos os deputados Alex Santana (BA), Flávio Nogueira (PI), Gil Cutrim (MA), Jesus Sérgio (AC), Marlon Santos (RS), Silvia Cristina (RO) e Subtenente Gonzaga (MG). Ao todo, partidos de oposição entregaram 19 votos a favor da reforma – além dos oito votos do PDT, houve 11 dissidentes do PSB.
O líder do PDT na Câmara, André Figueiredo (CE), afirmou que vai substituir os deputados suspensos das comissões de que fazem parte na Casa. “Nas mais importantes, nós deveremos, sim, fazer substituições, para que os deputados que ocupem esses espaços nessas comissões sigam, evidentemente, a orientação do partido”, disse. Segundo o líder, Tabata e Silvia Cristina já foram substituídas nos cargos de vicelíder do partido na Câmara.
Tabata não comentou a suspensão. Após votar a favor da reforma, ela disse: “A reforma que votamos não pertence mais ao governo. Ela sofreu diversas alterações feitas por esse mesmo Congresso. O sim que digo à reforma não é sim ao governo e também não é um não a decisões partidárias. Meu voto é um voto de consciência”.
A comissão de ética do partido afirmou ontem que os oito parlamentares suspensos terão amplo espaço de defesa. Depois, um relatório será encaminhado à executiva nacional da legenda, que, por sua vez, levará o parecer ao diretório nacional.
Suspenso, o pedetista Alex Santana afirmou ao Estadão/Broadcast que manterá o posicionamento pró-reforma na votação do segundo turno. “Estamos perdendo a oportunidade de oxigenar o partido, a oportunidade de fazer uma discussão da pluralidade que temos hoje. (A suspensão) É uma decisão que poderia ter sido melhor trabalhada internamente.”
Os outros deputados suspensos não se manifestaram.
‘Péssima’. Sem citar nomes, Ciro se manifestou ontem no Twitter sobre a reforma. “Esta reforma é péssima porque não resolve nem remotamente o problema da Previdência. Todos verão que o efeito fiscal dela para este governo será perto de zero e que agravará a depressão econômica em que estamos atolados”, escreveu.
Nesta semana, em entrevista ao Estadão/Broadcast eà Rádio Eldorado, o ex-ministro defendeu que os “desobedientes” deixem espontaneamente o partido, o que seria “mais digno”. “Ninguém pode servir a dois senhores”, afirmou Ciro.
“Eu acho que o mais digno – não quero particularizar nela (Tabata), porque foram ela e mais sete – é fazer o que eu fiz. Fui filiado e ajudei a fundar o PSDB, que tinha um programa lindo, foi para o governo e fez o oposto. O que fiz? Saí.”
‘Evolução’
“Todos tiveram todas as instâncias partidárias para apresentar propostas (...) É importante lembrar que ainda terá uma segunda votação na Câmara. O ser humano vive da evolução. E todos podem evoluir durante esse processo.”
Carlos Lupi
PRESIDENTE DO PDT