Título: Imóveis seguem em alta
Autor: D'Angelo, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 14/10/2012, Economia, p. 13

Apesar do desaquecimento econômico, preços continuam subindo, devido à ampliação do crédito. Financiamentos cresceram 43% em 2011 e devem ter expansão de 30% neste ano

Os imóveis no Brasil seguem em um patamar altamente valorizado, apesar dos impasses da economia global, que têm resultado em menor crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) por aqui. A consequência dos preços nas alturas e dos juros em queda é que os brasileiros estão contraindo dívidas mais significativas para realizar o sonho da casa própria. Especialistas afirmam que o quadro não é preocupante, pois o país saiu de um patamar de crédito muito baixo se comparado a outros países.

A mudança, porém, chama atenção pela velocidade. O valor médio financiado pela Caixa Econômica Federal com recursos da caderneta de poupança, destinados a quem ganha acima de R$ 5,4 mil, mais que dobrou nos últimos seis anos. Passou de R$ 69 mil, em 2007, quando começou a valorização acelerada dos imóveis, para R$ 168 mil neste ano, aumento de 143%. A Caixa detém 75% do mercado de crédito imobiliário.

O avanço do financiamento foi bem maior que o dos preços dos imóveis. Apartamentos e casas adquiridos atualmente por meio de financiamentos estão, em média, 86% mais caros que em 2007. Isso é resultado de uma equação simples: sem conseguir formar poupança pessoal no mesmo ritmo da valorização dos imóveis, os compradores tiveram que financiar valor muito superior.

O resultado é que o empréstimo habitacional tem representado a cada ano uma parcela mais elevada do preço do apartamento ou da casa. Em 2007, era, em média, de 50% no caso de aquisição e, hoje, está em 65,4%, conforme dados da Caixa. Se for considerado todo o sistema bancário, incluindo as linhas para construção, essa proporção chega atualmente em 69%.

Com os trabalhadores de renda mais baixa, até R$ 5,4 mil, acontece quase a mesma coisa: os preços subiram um pouco mais e o financimento um pouco menos do que no estrato acima. Nas linhas com recursos do Fundo de Garantido Tempo de Serviço (FGTS), com juros mais baixos, o preço médio dos imóveis financiados aumentou 96% — de R$ 51 mil, em 2007, para R$ 100 mil em 2012. O valor emprestado passou de R$ 34 mil a R$ 74 mil no período, elevação de 118%.

Parcela maior Na compra do apartamento ou da casa, essa clientela, que tem grande dificuldade de juntar uma poupança maior para a entrada, te sido obrigada a financiar uma parcela maior do custo total: em torno de 74%. Em 2007, esse percentual era de 66,7%.

Desde o ano passado, apesar do esfriamento da atividade econômica, o volume de crédito imobiliário continua subindo fortemente, embora o ritmo tenha desacelerado um pouco. A grande oferta de crédito para compra da casa própria é, aliás, o motivo apontado pelos especialistas como responsável por manter a demanda aquecida e a valorização dos imóveis.

O crescimento do volume emprestado para aquisição de imóvel pelos bancos públicos e privados com recursos da poupança cresceu 41% em 2011 em relação a 2010. Pelo ritmo deste ano, o crescimento sobre 2011 também será expressivo, em torno de 30%, chegando a 43% só na Caixa. Há queda apenas do financiamento para construção individual — de 28% — provavelmente pela dificuldade para comprar terrenos.

» PIB em queda

A previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano era de 3,5%. Foi revisada em junho pelo Ministério da Fazenda para 2,5%. No mês passado, nova redução, para 1,6%. No ano passado, o PIB cresceu 2,7%.