Título: Tira-teima na tevê
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 14/10/2012, Mundo, p. 20

No segundo debate com Mitt Romney, Obama tentará reverter a queda nas pesquisas. Especialistas esperam mais ataques

O segundo debate entre os candidatos à Presidência dos Estados Unidos, na noite da próxima terça-feira, em Hempstead (Nova York), terá ares de revanche. No primeiro, a vitória do desafiante Mitt Romney foi considerada um nocaute e custou a Barack Obama a liderança nas pesquisas — tanto as de âmbito nacional quanto as de estados decisivos para a conquista da Casa Branca. Questionado entre os democratas por ter adotado uma postura excessivamente defensiva, o presidente tem afirmado que não será “tão educado” da próxima vez. Os dois candidatos lutam contra o tempo, com três semanas de campanha até o duelo nas urnas, em 6 de novembro. No vale tudo da política norte-americana, analistas apostam que Obama, surpreendido no primeiro encontro, deverá estar preparado para qualquer uma das versões de Romney: o moderado ou o conservador. O republicano, por sua vez, tentará de tudo para prolongar o bom momento e manter a iniciativa até a noite da eleição.

Desde o debate inaugural, no dia 3, Obama tem acusado o opositor de ter mentido e de ter “escondido” do público o “verdadeiro Romney”. Na última semana, em pelo menos duas ocasiões, o presidente ademitiu ter sido pego de surpresa por uma versão mais moderada de Romney. Melissa Miller, cientista política da Universidade Estadual Bowling Green (Ohio), pondera que o desafiante assumiu diante das câmeras posições sobre políticas públicas inéditas, tanto para o presidente como para o público.

“Romney, que vinha fazendo uma campanha tão conservadora, de repente tornou-se um moderado. O presidente não esperava por isso”, analisa Melissa. “Não acho que isso seja uma desculpa, mas pode ser uma explicação para o que aconteceu.” Para ela, na próxima terça Obama estará mais preparado para enfrentar Romney da maneira que se apresentar. Nos últimos dias, o republicano continuou dando mostras de uma postura mais ao centro, com o claro intuito de conquistar eleitores nos chamados “swing states”, onde não há ainda definição sobre quem vencerá.

A cientista política acredita que a equipe foi obrigada a rever a orientação seguida no primeiro confronto, em que o presidente evitou atacar e pagou o preço pela inesperada desenvoltura do adversário. “Acho que ele não cometerá esse erro de novo e será mais agressivo”, arrisca Melissa. Tim Hagle, professor de ciências políticas da Universidade de Iowa, acrescenta que Obama “é extremamente competitivo e não gosta de perder”. Para Hagle, o formato do próximo debate também pode contribuir para a performance do democrata.

Romney e Obama estarão novamente frente a frente, diante das câmeras, na Universidade Hofstra, em Hempstead (Nova York). Conforme o modelo definido pela Comissão de Debates Presidenciais, eles responderão a perguntas da plateia sobre temas domésticos e de política externa. Os convidados são eleitores indecisos selecionados pela Organização Gallup. O debate começa às 22h de Brasília, com 90 minutos de duração, e será mediado pela jornalista Candy Crowley, da tevê CNN.

Treino intensivo

Ao mesmo tempo que apostam em um presidente mais agressivo, porém, os analistas ponderam que Romney dificilmente subestimará o adversário. Na semana passada, em que se concentrou em dois dos estados em disputa — Ohio e Carolina do Norte —, o republicano não deixou de treinar para o debate, em sessões preparatórias com o senador Rob Portman (Ohio) no papel de Obama. “Romney, com certeza, também estará pronto. E agora a situação está a favor dele”, lembra Melissa.

Nas últimas duas semanas, pesquisa após pesquisa, Obama viu sua modesta liderança se esvair em alguns estados-chave e também nas sondagens nacionais. Romney conseguiu um grande impulso na preferência dos eleitores e passou os últimos dias capitalizando ao máximo a boa fase, inclusive reforçando sua imagem mais ao centro. Até o fim de semana, nem mesmo o relatório sobre o mercado de trabalho divulgado dia 5, com uma taxa de desemprego de 7,8% — pela primeira vez abaixo dos 8% no mandato de Obama — tinha sido capaz de compensar o impacto do primeiro debate.

Nesse cenário, as expectativas para o próximo encontro são altas. Segundo Melissa, a derrota do presidente no primeiro confronto atiça o interesse de muitos eleitores. “Eles vão prestar especial atenção. Se acontecer de o presidente perder de novo, será muito dramático para ele”, pondera. Na sua avaliação, o debate será melhor porque terá dois candidatos fortes. Hagle, por sua vez, pondera que Obama precisa ser cauteloso, uma vez que é comum, em situações assim, o candidato exagerar na agressividade para compensar o prejuízo. “Ele precisa encontrar o equilíbrio entre a necessidade de ser mais enérgico e não ir além da conta”, conclui.

Virada na Flórida

Ainda no embalo do primeiro debate, Mitt Romney fechou a semana virando o jogo na Flórida, um estado que os analistas são unânimes em considerar “obrigatório” para que o republicano conquiste a Casa Branca. Uma pesquisa feita para três jornais locais, entre eles o Miami Herald, mostrou Romney com 51% das intenções de voto entre eleitores que se declaram inclinados a ir votar em novembro. Barack Obama, que liderava a sondagem anterior por 48% a 47%, caiu para 44%.