O Estado de São Paulo, n. 45927, 16/07/2019. Política, p. A6

 

Mourão: não há problema se tiver novo vice em 2020

Denise Luna

Marcio Dolzan

19/07/2019

 

 

Relação. Mourão diz que não há atrito entre ele e Bolsonaro

Alvo de críticas por parte dos filhos de Jair Bolsonaro e de integrantes do chamado núcleo ideológico do governo, o vicepresidente Hamilton Mourão admitiu ontem que reduziu suas declarações públicas e entrevistas após pedido do presidente. Mourão disse que considerou o pedido “uma coisa normal” e defendeu Bolsonaro.

“Não temos tido atrito, eu e o presidente. O presidente conversou comigo um tempo atrás, ‘Pô, diminui um pouco a exposição’, uma coisa normal”, afirmou Mourão, em conversa com correspondentes estrangeiros na Confederação Nacional do Comércio, no centro do Rio.

Mourão falou também sobre a possibilidade de Bolsonaro disputar a reeleição, em 2022. Em resposta a um questionamento feito pela agência Reuters, ele disse que não há “problema nenhum” caso o presidente escolha outro nome para compor uma eventual chapa à Presidência da República.

“O presidente já manifestou o desejo de reeleição e, se ele quiser que eu continue ao lado dele, ótimo. Mas, se não quiser e precisar de uma outra pessoa para fazer uma composição distinta de chapa, para mim não há problema nenhum. Estou aqui para servir o Brasil e o governo do presidente”, disse ele.

Mesmo com apenas sete meses de mandato, Bolsonaro já deu declarações sinalizando a disposição de se candidatar à reeleição. Neste caso, ele poderia negociar a vaga de vice na chapa com outro partido e com setores evangélicos – essa aproximação tem sido feita pelo deputado Marco Feliciano (Podemos-SP). Bolsonaro e Mourão chegaram a divergir publicamente no começo de governo, o que levou bolsonaristas a acusar o vice de querer tirar o protagonismo do presidente.

Chamado de “embaixador” por uma jornalista francesa, Mourão foi questionado sobre o motivo de Bolsonaro não conceder entrevistas a correspondentes internacionais, sendo que, segundo ela, a imagem do presidente não seria positiva no exterior.

‘Má vontade’. O vice, então, defendeu Bolsonaro, dizendo existir uma “má vontade”. “Eu vou falar com o presidente para que ele também converse com vocês. Existe uma certa má vontade com a figura do presidente Bolsonaro. Foi criada uma imagem no resto do mundo como se fosse o Átila, o huno, eleito presidente aqui no Brasil. Não é isso. Ele não é, em absoluto, uma pessoa totalmente fora dos padrões com o que estamos acostumados”, afirmou Mourão.