O Estado de São Paulo, n. 45927, 16/07/2019. Política, p. A7

 

Raquel se reúne com Dallagnol para discutir vazamento de diálogos

Breno Pires

16/07/2019

 

 

Supostas mensagens sugerem conluio entre procuradores que integram a Lava Jato e o ex-juiz Sérgio Moro

Pouco mais de um mês após a publicação de supostas mensagens trocadas entre integrantes da força-tarefa da Lava Jato, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, recebe hoje o coordenador da operação, Deltan Dallagnol, e outros integrantes do grupo de Curitiba. Na reunião, convocada por Raquel, ela deve ouvir as explicações dos procuradores e discutir uma posição oficial sobre o episódio.

As conversas, divulgadas pelo site The Intercept Brasil, mostram suspeita de conluio entre a equipe de procuradores e o ex-juiz da Lava Jato e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro. Os citados negam irregularidades e afirmam não ser possível garantir que as mensagens, trocadas por meio do aplicativo Telegram, sejam autênticas.

Após a divulgação dos diálogos, a Procuradoria já se manifestou contra pedidos do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva que apontam suspeição de Moro na condução do processo. Raquel também pediu à Polícia Federal que investigue os ataques virtuais sofridos pelos procuradores que levaram à exposição das mensagens.

Nos bastidores, no entanto, procuradores cobram uma defesa pública mais enfática da Procuradoria diante de ataques ao Ministério Público Federal.

A informação na PGR é de que a reunião já estava sendo articulada há semanas e não tem relação com nenhum conteúdo específico divulgado na imprensa recentemente.

‘Cruzada moral’. Em dura nota divulgada ontem, a Procuradoria Federal dos Direitos dos Cidadãos (PFDC) afirmou que as investigações contra corrupção não devem se tornar uma “cruzada moral”. É o principal órgão do MPF nessa área.

Em referência à publicação dos diálogos atribuídos a Moro e a procuradores, disse que a apuração deve “respeitar integralmente todos os direitos fundamentais” fixados na Constituição e que é inadmissível que o Estado, “para reprimir um crime, por mais grave que seja, se transforme, ele mesmo, em um agente violador de direitos”.

O comunicado não faz menção direta a Moro e a Dallagnol, mas diz que o caso “reforça a necessidade de compreensão das diversas dimensões dos direitos humanos e de promoção conjunta do enfrentamento à corrupção, do devido processo legal”. Um trecho da nota afirma que um dos elementos essenciais é o direito a um julgamento perante juízes “independentes e imparciais, no qual o réu e seus advogados são tratados com igualdade de armas em relação ao acusador”.

O Estado apurou que o teor da nota incomodou procuradores de outros setores do MPF porque teria faltado diálogo. Já a assessoria de Raquel Dodge disse que a PFDC tem atuação independente. Também ontem, o PSOL protocolou uma representação contra Dallagnol no Conselho Nacional do Ministério Público.

'Liberdade'

“Eventual responsabilidade pela invasão deve ser investigada, sem, contudo, interferir na liberdade de publicação dos conteúdos.”

Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão