O globo, n. 31396, 23/07/2019. Rio, p. 8

 

Homicídios caem 22,6% no primeiro semestre do ano

Antônio Werneck

Giselle Ouchana

23/07/2019

 

 

Foram 2.083 casos no estado, o menor número desde 2003 para o período, mas roubos de celular e em ônibus subiram

O número de homicídios dolosos no Estado do Rio registrou uma queda de 22,6% nos seis primeiros meses deste ano, o menor para este período desde 2003. Foram 2.083 assassinatos de janeiro a junho. Os dados foram divulgados ontem pelo governador Wilson Witzel durante uma coletiva de imprensa no Palácio Guanabara, sede do governo, onde estavam presentes os secretários de polícias Civil e Militar. Na divulgação, que contou coma apresentação de um vídeo institucional sobre os seis meses de governo, Witzel também comemorou a redução nos índices de roubos de veículos (24%), roubos de carga (21%), mortes de policiais (63%) e latrocínio (34%).

—A polícia tem mandado seu recado aos criminosos. Não seremos lenientes com quem usa fuzil. Nem mesmo a Intervenção Federal conseguiu chegar ao resultado que estamos apresentando hoje. Agora, há planejamento nas operações policiais, maior independência das polícias e maior capacidade investigativa — afirmou o governador, acrescentando que, até 2022, pretende abrir novos concursos para contratar policiais civis e militares e atingir a meta de 12 mil novos agentes.

Mais mortes em confronto

Em contrapartida, as mortes em confrontos com agentes de segurança aumentaram 14,6% entre janeiro e junho deste ano. Foram 881 casos, 112 a mais que no mesmo período do ano passado, resultado da política de enfrentamento adotada pelo atual governo. O total é o mais elevado desde 2003, início da série histórica disponível no site do Instituto de Segurança Pública do Rio. Ao levar em consideração apenas o mês de junho, houve uma pequena queda: de 155 registros, em 2018, para 150 no mês passado. Criticado por grupos de direitos humanos por causa do aumento das mortes de civis em operações policiais, o governador reagiu:

— Em qualquer lugar do mundo, quem está com um fuzil é batido pela polícia. Se não entregar o fuzil, é morto. Não me lembro de uma reação dos direitos humanos quando a polícia francesa atingiu mortalmente vários terroristas de fuzil em plena cidade de Paris. Eu peço que os direitos humanos não sejam seletivos, que sejam imparciais. Nós temos gente com fuzil envolvido com o crime organizado, usando de escudo a população. Isso não é diferente do que o Hezbollah faz. Não se combate o terrorismo com flores —disse o governador.

A região coberta pelo 7º BPM (São Gonçalo) concentrou a maior parte dos autos de resistência no semestre: 89 registros. Em seguida vem a área do 14ºBPM (Bangu), com 76 casos. Depois, estão as cidades de Niterói e Maricá (12ºBPM), com 73 mortes.

Para o antropólogo Robson Rodrigues, coronel reformado e ex-chefe do Estado-Maior da Polícia Militar, é importante analisar diversos fatores para entender a redução dos homicídios dolosos.

— O homicídio é multicausal. É preciso identificar quais fatores e medidas estão impactando os números e retirar aqueles que não estão nas mãos das forças policiais, como os fatores políticos e econômicos — afirmou o coronel.

Mas Rodrigues criticou a forma como a PM tem feito o policiamento ostensivo:

— As operações aumentaram dramaticamente, vulnerabilizando o patrulhamento ostensivo que pode ajudar a diminuir os roubos em coletivo, por exemplo.

O indicador estratégico de roubos de rua (somatório de roubos a transeunte, em coletivo e de aparelho celular ) apresentou tímida queda no primeiro semestre. Ao todo, foram 65.610 crimes registrados, sendo 1.159 casos a menos, uma redução de 1,7% em relação ao mesmo período do ano passado.

Considerando apenas o mês de junho, o índice caiu 15,6% (de 11.328 para 9.566). Já analisados separadamente, os roubos em coletivo e de aparelho celular apresentaram alta no primeiro semestre. No primeiro caso, saltou de 7.665 para 8.761 (uma elevação de 14,3%). A polícia registrou ainda, de janeiro a junho, 13.023 roubos de celulares, um aumento 9% em relação ao mesmo período de 2018.