Correio braziliense, n. 20470, 07/06/2019. Brasil, p. 6

 

Senado aprova setor privado no saneamento

Augusto Fernades

07/06/2019

 

 

 

 

 Recorte capturado

 

 

Saúde e meio ambiente » Proposta possibilita que serviços de abastecimento de água potável, coleta e tratamento de esgoto, limpeza urbana e redução e reciclagem do lixo sejam prestados por empresas não públicas. Projeto precisa do aval da Câmara

Em caráter de urgência e por meio de votação simbólica, o Senado decidiu aprovar ontem o Projeto de Lei nº 3.261, que dispõe sobre um novo conjunto de regras para o saneamento básico no país. Agora, o texto que atualiza o marco regulatório do saneamento será analisado pela Câmara dos Deputados. Caso passe pelo crivo dos parlamentares, permitirá, por exemplo, a exploração privada dos serviços de abastecimento de água potável, coleta e tratamento de esgoto, limpeza urbana e redução e reciclagem do lixo.

O documento, de autoria do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), recuperou boa parte da Medida Provisória nº 868/2018, proposta ainda durante o governo Michel Temer (MDB), mas que não foi votada na Câmara e caducou na última segunda-feira. No projeto, o Senado estabelece que caberá à Agência Nacional de Águas (ANA) estabelecer normas de referência para o setor privado, a fim de “estimular a livre concorrência, a competitividade, a eficiência e a sustentabilidade econômica na prestação dos serviços e buscar a universalização e a modicidade tarifária”.

“O objetivo maior da proposição é o de ampliar a competição no setor e atrair investimentos com vistas à universalização dos serviços, estabelecendo, ao mesmo tempo, uma transição suave, capaz de preservar a higidez financeira das empresas estaduais de saneamento básico”, defendeu o senador Roberto Rocha (PSDB-MA), relator do projeto.

Sete emendas foram incorporadas ao projeto. Uma delas autoriza que empresas prestem os serviços de saneamento para um “bloco” de municípios. Com a medida, o Senado espera que cidades menos rentáveis e de regiões mais afastadas do país possam ser atendidas da mesma maneira que os grandes centros urbanos. Também há uma emenda que permite a contratação de empresa estadual por dispensa de licitação, na hipótese de a licitação para concessão dos serviços ficar deserta ou sem viabilidade econômica que justifique a privatização.

“Essa proposta aponta para uma solução que pode, combinada com o Executivo, buscar recursos de fundos constitucionais para ajudar as companhias estaduais. O projeto prevê licitação em bloco para vários municípios, de tal modo que aquilo que não tem atrativo econômico passa a ter, na medida em que tem uma economia de escala”, acrescentou Rocha.

Controvérsias

Fora do Senado, o texto divide opiniões. Professor do Instituto Brasiliense de Direito Público, Luiz Wambier argumentou que uma rede de saneamento básico bem estabelecida é condição mínima para a garantia da dignidade de qualquer pessoa, algo que não acontece no Brasil atualmente. “Mas pelo que vimos nos últimos anos, o poder público não tem condições de fazer isso sozinho. Ele sempre foi encarregado de prestar o serviço, mas não soube como ampliar a cobertura. Portanto, me parece uma boa ideia o estímulo que o projeto dá para a participação da iniciativa privada”, disse.

Por outro lado, entidades nacionais de municípios e do setor de saneamento do Brasil se manifestam publicamente contra o projeto. Em nota conjunta, nove órgãos, dentre eles o Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas), lembraram que “tema tão complexo, como é o do saneamento, e que requer um marco que promova segurança jurídica e permita a estruturação e o aprimoramento dos serviços públicos, exige efetiva e ampla discussão democrática”.

Coordenador do Ondas, Marcos Montenegro ressaltou que o aumento da participação do setor privado não solucionaria todos os problemas de saneamento básico no país. “Os riscos de piorar são enormes. O projeto foi aprovado sustentado em falácias. Podemos ver municípios mais ricos sendo operados pelas empresas privadas, e os mais pobres dependendo do setor público. A visão deveria ser de atuação integrada, e não de negócios. Temos de articular drenagem, limpeza urbana, água e esgoto, para melhorar as condições de vida de todos os brasileiros”, afirmou.

Para a Associação Brasileira das Concessionárias Privadas (Abcon) há avanços e retrocessos no projeto de lei. O órgão frisa que o texto precisa ser aperfeiçoado na Câmara para dar uma contribuição efetiva ao saneamento básico e beneficie os mais de 100 milhões de brasileiros sem saneamento. “A maior contribuição é impulsionar o processo de privatização de empresas estaduais com planos estruturados com esse objetivo, o que ocorre em situações pontuais, por meio da facilitação do processo de privatização”, explicou a Abcon, em nota oficial.

Entretanto, o órgão lembrou que ao eliminar a competição entre empresas para a prestação do serviço — restringindo, portanto, a abertura para a maior participação privada no setor — o país perde a oportunidade de levar saneamento às áreas mais críticas e menos favorecidas. “O texto não favorece as regiões que mais necessitam do investimento para terem acesso à água tratada e tratamento de esgoto. Isso sem mencionar os ganhos que seriam obtidos com a geração de empregos, impacto no turismo e meio ambiente.”

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Desperdício em debate

 

 

Marina Torres

07/06/2019

 

 

 

A perda de água potável no país seria suficiente para abastecer 30% da população brasileira em um ano, de acordo com dados da Trata Brasil — organização da sociedade civil de interesse público. A segurança hídrica e o desperdício de água serão discutidos, no próximo dia 13, em um seminário realizado pelo Correio Braziliense.

O estudo da entidade, com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) 2017, também mostrou que o desperdício na distribuição está em 38,3%, ou seja, mais de 7 mil piscinas olímpicas de água potável perdidas todos os dias e uma perda financeira acima dos R$ 11 bilhões.

Na comparação com outros países, o Brasil possui índices de desperdício mais elevados do que países menos desenvolvidos, como Bangladesh, Uganda e África do Sul, com perdas de 21,6%, 33,5% e 33,7%, respectivamente.

Para o presidente executivo da Trata Brasil, Édison Carlos, o resultado é preocupante. “O aumento das perdas mostra que há um problema de gestão e que os investimentos para a redução não são suficientes. Mais preocupante é pensar que, num momento de crise hídrica, não será suficiente pedir para que a população economize água se as empresas continuarem perdendo bilhões de litros por deficiências diversas.”

As unidades da Federação que lideraram o ranking do desperdício de água são Roraima, com 75%; Amazonas, com 69%; e Amapá, com 66%. O Distrito Federal aparece em 24° lugar, com 34%, abaixo da média nacional. As perdas reais/físicas analisadas pelo estudo incluem vazamento nas tubulações, limpeza, vazamentos estruturais, lavagem de filtros, descargas, vazamentos na rede e em ramais. O estudo também considera as perdas aparentes (tidas como comerciais), que são: ligações clandestinas, ligações sem hidrômetros, hidrômetros parados ou desregulados e ligações inativas reabertas.

Programação

8h — Credenciamento e welcome coffee

8h30 —  Abertura com Álvaro Teixeira da Costa, presidente do Correio Braziliense; Paulo Salles, diretor-presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa); Christianne Dias, diretora-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA); e Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal

9h — Palestra de Abertura com Gustavo Henrique Rigodanzo Canuto, ministro do Desenvolvimento Regional (MDR) — a confirmar

9h30 — Painel 1 — Crise hídrica: Experiências e legado

Mediador — Dilson Resende de Almeida, secretário de Estado da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do DF (Seagri) — a confirmar

Mesa — Jorge Werneck, diretor da Adasa; Carlos Augusto Lima Bezerra, presidente da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb); Paulo Mossato, diretor de Serviço Metropolitano da Sabesp — a confirmar

10h30 — Debate

11h — Painel 2 — Segurança hídrica: perspectivas

Mediador — José Sarney Filho, secretário estadual de Meio Ambiente do DF

Mesa — Francisco José Coelho Teixeira, secretário de Recursos Hídricos do Ceará; Marília Carvalho de Melo, diretora-geral do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM/MG); Andréa Vulcanis, secretária do Meio Ambiente de Goiás (SEMAD) — a confirmar; Oscar Cordeiro Netto, diretor da ANA

12h10 — Debate

12h30 — Encerramento com Paulo Salles, diretor-presidente da Adasa

O evento acontecerá no Auditório do Correio Braziliense, em Brasília-DF.

As inscrições podem ser feitas pelo site https://www.correiobraziliense.com.br/segurancahidrica/