Correio braziliense, n. 20470, 07/06/2019. Economia, p. 7

 

STF possibilita venda de 88 subsidiárias

Renato Souza

07/06/2019

 

 

Conjuntura » Privatização ou transação de ações que gere perda do controle de estatais devem ser submetidas ao Congresso, mas a negociação de empresas afins está liberada. Governo pretende arrecadar R$ 80 bilhões nos próximos anos com repasses à iniciativa privada

O Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a barreira burocrática e abriu caminho para a comercialização de empresas públicas. A Corte decidiu que o Executivo pode vender empresas subsidiárias de estatais sem autorização do Congresso Nacional e sem a realização de licitação. Com relação às matrizes, no entanto, os ministros decidiram que a privatização ou transações que gerem a perda da sociedade majoritária da União devem ocorrer somente com aval do Parlamento e procedimento licitatório. A decisão, na prática, flexibiliza as regras e permite a venda de 88 subsidiárias que estão sob controle do governo federal. O entendimento do Supremo vale para os estados e municípios. O Ministério da Economia pretende arrecadar R$ 80 bilhões nos próximos anos com o repasse das empresas para a iniciativa privada.

Na opinião da maioria do colegiado do STF, a flexibilização das regras encontra amparo na Constituição e pode gerar crescimento econômico para o país. A decisão foi tomada como base no voto médio dos ministros, tendo em vista que, pelo menos, três correntes de pensamentos diferentes foram expressados durante o julgamento. Nesse caso, se analisa a tendência da maioria dos votos para definir qual foi a avaliação da Corte em relação ao assunto. Em decisão liminar, emitida no fim do ano passado, o ministro Ricardo Lewandowski, havia proibido o governo de vender estatais sem o aval de deputados e senadores.

A decisão do ministro Lewandowski também atingia as subsidiárias, o que gerou grande preocupação no governo. Na sessão, parte da liminar foi derrubada. O advogado-geral da União, André Mendonça, que acompanhou toda a sessão, comemorou o resultado, argumentando que se trata de vitória para o governo. “Foi um dos julgamentos mais importantes do STF neste ano. E para os próximos quatro anos, com certeza. O Supremo hoje parametrizou a formação do Estado brasileiro nos próximos anos. No sentido que houve o reconhecimento de que há muitas empresas estatais, sem necessidade. Uma empresa como a Petrobras tem mais de uma centena de empresas controladas por ela. Isso gerou um endividamento muito grande das estatais. Elas agora podem focar no que dá lucro, no que está mais comprometido com o resultado final das políticas públicas”, disse.

De acordo com dados do Ministério da Economia, o Brasil tem atualmente 134 estatais, das quais 88 são subsidiárias. A Petrobras tem 36 subsidiárias, a Eletrobras, 30. O julgamento foi marcado por linhas de pensamentos conflitantes entre os ministros. Ao votar, Luiz Fux destacou que o Estado brasileiro cresceu mais do que o esperado nos últimos anos. “O Brasil é o país que tem o maior número de estatais da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). A ordem econômica tem por fim assegurar a todos a existência digna da Justiça social”, disse.

O ministro Ricardo Lewandowski manteve seu entendimento ao proferir o voto. Ele argumentou que a “crescente desestatização” poderia trazer riscos ao país. Para ele, seria necessária avaliação do Legislativo para qualquer negócio do tipo. “A Carta (Constituição) de 1988 exige sempre a aquiescência do Poder Legislativo aos processos de criação de entidade governamental dessa espécie, ainda que tenha sido criada para explorar atividade econômica em sentido estrito”, argumentou.

Venda da TAG

Em decisão liminar, tomada logo após o julgamento, o ministro Edson Fachin liberou a venda da Transportadora Associada de Gás (TAG) pela Petrobras. A empresa deve ser repassada para a francesa Engie e o fundo canadense Caisse. O negócio está avaliado em U$ 8,6 bilhões e estava travado desde o ano passado. O presidente da Engie Brasil, Maurício Bähr, afirmou que o cheque para a concretização da compra “está pronto para ser liquidado”.

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Bolsa sobe e dólar cai

 

 

 

 

 

Rafaela Gonçalves

07/06/2019

 

 

 

Antes mesmo de encerrar o julgamento no Supremo Tribunal Federal, a expectativa de que a Corte permitiria a privatização de subsidiárias de estatais sem aval do Congresso, aliada à percepção de melhora nos cenários interno e externo, fizeram com que o Ibovespa tivesse fortes ganhos, fechando a 97.204 pontos, com alta de 1,26%. Os ativos da Petrobras encerraram o pregão com valorização superiores a 1%, reflexo do julgamento, mas também da recuperação do preço do petróleo.

A notícia do possível adiamento das cobranças de tarifas do México pelos Estados Unidos e o  avanço significativo das commodities e das bolsas americanas favoreceram os ganhos do índice brasileiro desde o período da manhã. Também contribuíram para o resultado a sinalização do Banco Central Europeu (BCE) de continuar com estímulos à economia. Tanto o cenário interno quanto o externo fortaleceram o real.

O real voltou a se valorizar, acompanhando a desvalorização do dólar no exterior, sobretudo ante moedas fortes, e com as mesas monitorando questões políticas domésticas. Após bater em R$ 3,90 durante os negócios de quarta-feira, a moeda americana terminou em R$ 3,883, com queda de 0,30%.

Para Pablo Spyer, diretor operacional da Mirae Asset, o momento é bom. “As notícias lá foram tiveram efeitos positivos para alguns ativos brasileiros. O dólar acabou zerando e não é nada muito alarmante, mas no geral o mercado segue otimista em relação a aprovação da reforma da Previdência e implorando por um corte de juros”, disse.

O economista Felipe Queiroz vê os benefícios a curto prazo, mas acredita que o mercado ainda vai oscilar muito nos próximos meses, devido lentidão para aprovar a reforma da Previdência.