Título: Prévia do PIB sobe 0,98% em agosto
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 12/10/2012, Economia, p. 10

Incentivo para a venda de carros ajudou a aumentar a produção, mas a alta acumulada no ano é de apenas 1,03%

A economia deu sinais de reação em agosto. O Indicador de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), um estudo que tenta prever o resultado do Produto Interno Bruto (PIB, tudo que é produzido em um ano no país), cresceu 0,98% entre julho e agosto. O número é considerado forte por especialistas, mas foi suficiente apenas para levar o crescimento acumulado do ano para 1,03%. Para chegar ao aumento de 1,6% em 2012, como projeta a autoridade monetária, nada mais pode dar errado até dezembro e o país tem de avançar a uma taxa de 1,4% ao trimestre. Até por isso, e ainda de olho no desempenho brasileiro em 2013, o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou, na quarta-feira, a taxa básica de juros (Selic) em mais 0,25 ponto percentual, derrubando-a para 7,25% ao ano, o menor nível da história.

Não fosse o desconto de Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para veículos, o desempenho do país em agosto estaria comprometido. O incentivo fez a venda de carros no mês avançar 7,7% em relação a julho, como mostra a Pesquisa Mensal do Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Uma parte expressiva do varejo, no entanto, ficou no vermelho, a exemplo das vendas de alimentos em supermercados. Outros indicadores mostram ainda que a industria de transformação registrou melhora no período, com a queima de estoques nos últimos meses, e contribuiu para o desempenho mais expressivo de agosto.

Receio A despeito da melhora, integrantes da equipe econômica, como informou o Correio na edição da última terça-feira, se mostram preocupados com o baixo nível de investimentos do setor privado. Segundo eles, os empresários avaliam os dados da economia ainda como contraditórios e se mostram receosos de tirar projetos da gaveta. Além do cenário doméstico, eles estão assustados com as incertezas que dominam a economia internacional, sobretudo a Europa. Esse temor pode impedir que os investimentos em 2013 atinjam volume suficiente para garantir uma elevação do PIB em torno dos 4,5% desejados pelo Ministério da Fazenda.

O diagnóstico de especialistas e do próprio governo é de que o nível de investimentos no próximo ano será mais determinante do que o de consumo para o crescimento do país. A presidente Dilma Rousseff ordenou à equipe econômica que reduza o custo do investimento no Brasil, e o Banco Central teve de dar sua contribuição: derrubou a taxa básica de juros de 12,50% ao ano para 7,25% em mais de um ano de afrouxamento monetário. Integrantes da diretoria da instituição, no entanto, entenderam que essa estratégia já começa a elevar os riscos inflacionários, tanto que, na última reunião do Copom, três dos diretores votaram contra a continuidade dos cortes na Selic.

Dados divulgados ontem pelo Itaú Unibanco reforçam a percepção de que o país começa a se recuperar, mas em ritmo ainda lento. "A alta de 2,7% do comércio varejista ampliado e o aumento de 1,6% da produção na indústria de transformação foram as principais contribuições para a variação positiva do PIB mensal em agosto", observou Aurélio Bicalho, economista da instituição.

Segundo Bicalho, o mês apresentou forte alta de vendas de veículos porque havia a expectativa do fim do desconto do IPI. Com isso, o consumidor correu às concessionárias. "No fim, o benefício foi renovado, mas o efeito inverso da antecipação de consumo apareceu em setembro. As vendas tiveram recuo acentuado em relação a agosto", argumentou. Diante desse cenário, o Itaú estima que a produção desacelerou no mês passado. "A estimativa do PIB mensal Itaú Unibanco aponta para recuo de 0,1% em setembro na comparação com o mês anterior", disse.

Inadimplência Rafael Leão, economista da Austin Rating, pondera que os estímulos dados pelo governo começam a surtir efeito na economia. A expectativa dele é que, a partir de agora, os níveis de inadimplência comecem a ceder e que o crédito se expanda a taxas mais robustas, o que pode dar novo fôlego para a atividade.

"O dinamismo é outro, mas o país deve avançar 1,7% neste ano, segundo os nossos modelos", calculou Leão. A indústria de transformação, puxada principalmente pelos veículos, queimou estoques e já apresenta um ritmo de produção positivo. "A atividade industrial mostrou reação mais forte aos estímulos, especialmente o setor automobilístico. A normalização dos estoques tende a contribuir para uma moderada expansão da atividade industrial", observou Bicalho.