O globo, n.31393, 20/07/2019. País, p. 10

 

Senador Omar Aziz é alvo de operação da PF

Leandro Prazeres 

20/07/2019

 

 

A Polícia Federal deflagrou ontem uma operação contra desvios de recursos da saúde no estado do Amazonas. Ao todo, foram autorizados nove mandados de prisão temporária, bloqueios de até R$ 92 milhões e mandados de busca e apreensão contra o senador e ex-governador do Amazonas, Omar Aziz (PSD-AM), e parte de seus familiares. Entre os presos estão a exprimeira-dama do estado e mulher do senador, Nejmi Aziz, e três irmãos do parlamentar, Murad, Mansour e Amin. Nejmi é vice-presidente do PSD do Amazonas e foi candidata a deputada estadual nas eleições do ano passado, mas não conseguiu se eleger. Três policiais militares e uma oitava pessoa não identificada também foram detidos. Segundo a PF, a investigação coletou indícios “robustos” de crimes que teriam sido cometidos por Omar Aziz, que preside uma das principais comissões do Senado, a Comissão de Assuntos Econômicos. Aziz foi governador do Amazonas entre 2010 e 2014. Em 2018 tentou a reeleição ao governo, mas terminou em quarto lugar. Oito mandados de prisão temporária foram cumpridos em Manaus. Um, em Brasília, ainda está em aberto. Ao todo foram 15 mandados de busca e apreensão, 18 mandados de bloqueios de contas de pessoas físicas e jurídicas e sete mandados de sequestro de bens móveis e imóveis.

FAMÍLIA ENVOLVIDA

Segundo inquérito da PF, Murad, um dos irmãos do senador, era um dos responsáveis por coletar vantagens indevidas de instituições de prestação serviços de saúde ao governo do Amazonas. Murad já havia sido preso em outubro de 2018. Ele é investigado por tráfico de influência e lavagem de dinheiro. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), a função dos familiares de Aziz no esquema era a de realizar o recebimento de dinheiro ou ajudar no processo de lavagem dos recursos desviados. Nejmi Aziz, mulher do senador, ficará presa no Centro de Detenção Provisória Feminino (CDPF), e os irmãos Murad, Amim e Mansour ficarão no Centro de Detenção Provisória Masculino I, em Manaus.

Em nota, a assessoria de imprensa de Omar Aziz informou que ainda não teve acesso aos autos do processo e que aguarda o seu advogado poder acessá-los para se manifestar. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos demais presos. A operação deflagrada ontem foi batizada de Vertex, mas é um desdobramento da Operação Maus Caminhos, que apura desvios milionários de recursos federais destinados a políticas de saúde no Amazonas. O esquema, segundo as investigações, funcionava a partir da contratação de instituições para a execução de serviços de saúde que eram superfaturados.

As investigações apuraram que houve pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos ao longo dos anos em que o esquema esteve em funcionamento. Segundo nota da PF sobre a operação, há indícios de que Aziz teria recebido vantagens indevidas envolvendo a entrega de dinheiro em espécie ou por meio de negócios simulados. Em coletiva de imprensa, o delegado da PF, Alexandre Teixeira, afirmou que as investigações ainda estão em curso e que ouvirá as versões de testemunhas e dos investigados. A PF não divulgou detalhes sobre o envolvimentos dos policiais militares no caso, assim como também não foi confirmado o nome do oitavo preso.

— A investigação não se encerrou. A partir desse momento, os investigados e testemunhas passam a ser ouvidas e apresentarão suas versões. Versões, essas, que podem alterar as hipóteses criminais. Não trabalhamos com pré-julgamentos. E é um padrão nosso, da Polícia Federal, de não tratar o nome de alvos —afirmou. A investigação tem pelo menos dois anos. Como Aziz é senador, parte dela foi desmembrada e tramitava no Supremo Tribunal Federal (STF). Com o novo entendimento de que o foro privilegiado só teria validade para crimes cometidos no âmbito do cargo atualmente ocupado, o ministro Dias Toffoli repassou o caso para a 1ª instância da Justiça Federal no Amazonas, que retomou as investigações. (Com G1)