Título: A hora de repensar o ensino
Autor: Prisco, Luiz
Fonte: Correio Braziliense, 21/09/2012, Cidades, p. 27

Especialistas da academia, da sociedade e do governo discutem os principais desafios para o DF nas áreas de educação e inovação. Todos concordam que é preciso garantir o acesso universal ao sistema

» Especial para o Correio

Reformulação dos currículos, mudanças nos métodos pedagógicos, melhoria na formação dos professores e investimentos em ensino e tecnologia foram os temas abordados no 2º seminário Pensar Brasília, promovido pelos Diários Associados na manhã de ontem, no auditório José Hipólito da Costa, na sede do Correio. Durante três horas de evento, especialistas do governo, da sociedade civil e da academia debateram sobre os rumos que a educação da capital e do Brasil precisam seguir nos próximos anos.

Participaram do evento o secretário de Educação do DF, Denilson Brito da Costa; a vice-presidente do grupo internacional Global Urban Development, Emília Queiroga; o diretor de Porspecção e Novos Empreendimentos da Terracap, José Humberto Matias de Paula; e Gilberto Lacerda, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília. Eles expuseram teorias sobre os rumos do ensino e da inovação na cidade e, mediados pelo editor executivo do jornal, Carlos Alexandre, discutriam com os 150 presentes. A abertura do evento ficou a cargo do diretor de Comercialização e Marketing do Correio, Paulo Cesar Marques, que ressaltou a importância do debate. "O objetivo é discutir o desenvolvimento de Brasília e os rumos que a cidade tomou após sua construção planejada."

Denilson Brito da Costa avaliou as principais propostas do governo para a educação. O maior desafio é garantir acesso universal ao ensino gratuito e de qualidade. Para tal, o GDF planeja uma ação em quatro eixos: construção de 200 creches até 2014, implantação da educação integral, aumento dos programas de educação profissional e o DF alfabetizado, que vai formar em breve a primeira turma de jovens e adultos com mais de três mil pessoas.

O secretário abordou o uso da tecnologia nas escolas. A partir de 2013, os professores do Ensino Médio da rede pública terão tablets à disposição. Para ele, não basta colocar equipamentos nas escolas, é preciso criar modelos de uso para eles. "É fundamental investir em tecnologia para a educação. Temos que fazer uma reformulação nos currículos para o uso dos aparatos nas salas de aula", afirmou.

O diretor de Prospecção e Novos Empreendimentos da Terracap, José Humberto Matias de Paula, ressaltou os benefícios da construção do parque tecnológico do DF. Ele acredita que o investimento ajudará nas áreas de educação e inovação da cidade. "A inovação passa pelo desenvolvimento do conhecimento para construírmos o progresso econômico", opinou. Emília Queiroga ofereceu uma visão mais global do sistema de educação do Brasil. Para ela, é necessário repensar como os conteúdos são ofertados para as crianças e jovens. A especialista salientou que vivemos um período de ruptura com o modelo até então vigente, um processo que pode ser denominado como "Renascença Educacional".

"Nossa educação é baseada na fragmentação do conhecimento, o que resulta em uma sociedade que não sabe integrar as diversas áreas do saber. Agora precisamos aprender a convergir, a juntar todas as habilidades dos seres humanos", afirmou Queiroga. A especialista entende que é preciso agir em três eixos: manter o que foi feito, criar mecanismos de transição e explorar o eixo da inovação, com medidas até então não testadas.

Novos docentes

Gilberto Lacerda falou sobre a formação de professores e sobre a realidade encontrada nas faculdades de educação. Pesquisa feita pelo especialista em quatro universidades federais brasileiras mostra que 60% dos alunos dos cursos de pedagogia gostariam de fazer outras formações. De acordo com o professor, eles somente optaram pela área do ensino pela facilidade do vestibular. "O Brasil está procurando seus professores no lado errado da pirâmide social", ironizou.

Lacerda colocou que a inovação tecnológica deve vir acompanhada de cursos de formação para os docentes, que precisam aprender a utilizar os aparatos em favor da pedagogia. "As tecnologias materiais provocam a criação de tecnologias intelectuais", ressaltou. O especialista também criticou a nova geração de docentes, que é mal formada. "O Brasil é o primeiro país a ousar formar professores a distância."

Além da sociedade civil, estiveram presentes na plateia autoridades como os deputados distritais Chico Vigilante (PT), Joe Valle (PSB) e Eliana Pedrosa (DEM). A maior parte das perguntas girou em torno da formação de educadores e dos investimentos em educação. Emília Queiroga falou sobre a necessidade de um novo currículo para os docentes. "O professor é um ser humano formado em uma série de condições e é obrigado a ensinar outras. O sistema educacional não atende mais ao mundo em que vivemos", disse.

Calendário Confira a data dos próximos debates

10 de outubro Qualidade de vida – Moradia/Habitação

25 de outubro Qualidade de vida – Sustentabilidade

28 de novembro Qualidade de vida – Desenvolvimento econômico

Eu fui... "Foi um aprendizado muito importante. Debates como esse acrescentam muito para nós que estamos sempre dentro da sala de aula".