O globo, n.31395, 19/07/2019. País, p. 07

 

Citados por ex-ministro negam irregularidades 

19/07/2019

 

 

Todos os citados pelo exministro Antonio Palocci nos anexos de sua delação que tratam de instituições financeiras negaram as supostas irregularidades. Eles afirmam que o delator criou versões sem provas para tentar obter benefícios da Justiça e dizem que todas as doações foram feitas legalmente.

O Bradesco classificou as acusações de “ilações descabidas”: “As empresas do Grupo Bradesco realizaram doações eleitorais aos partidos, todas elas públicas e devidamente registradas, conforme consta no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Participamos no processo por entender a importância das eleições. Por isso mesmo, repudiamos quaisquer ilações descabidas formuladas em relação ao fato”.

O Itaú Unibanco afirmou que a fusão foi aprovada sem irregularidades e que fez doações em valores iguais a diferentes partidos: “O Itaú Unibanco repudia veementemente qualquer tentativa de vincular doações eleitorais realizadas de forma lícita e transparente a condutas antiéticas para atender a eventuais interesses da organização. Nas eleições presidenciais de 2006, 2010 e 2014, os valores doados pelo Itaú Unibanco aos candidatos que lideravam as pesquisas de opinião foram rigorosamente iguais. Os números desmentem qualquer suposição de que o banco tenha privilegiado esse ou aquele partido ou que tenha de qualquer forma feito doações eleitorais com o objetivo de obter benefício próprio”.

O banco prossegue :“Afusão entre Itaú e Unibanco, anunciada em novembro de 2008, foi aprovada por todas as autoridades reguladoras competentes, seguindo estritamente seus fluxos e ritos de aprovação. Vale destacar que as autoridades impuseram uma série de condições para aprovara operação, todas inteiramente atendidas. O Itaú Unibanco lamenta que seu no mepossa ter sido usado indevidamente para que um réu confesso tenha tentado obter vantagens em acordos coma Justiça. Como sempre, o banco está à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos necessários”.

Em nota, o Banco do Brasil afirmou que as concessões de crédito são feitas de forma técnica e colegiada: “O Banco do Brasil informa que não tem conhecimento sobre o teor da delação, por isso, não irá se manifestar, inclusive para não incorrer em risco de quebra de sigilo bancário. O BB destaca também que possui robusto processo de governança para concessão de crédito, cujas análises e decisões são tomadas de forma colegiada”.

O grupo Votorantim afirmou em nota que não existe ilícito no episódio citado: “A Votorantim, por razão de princípio, não se manifesta sobre vazamentos. Se vier a existir investigação sobre os pretensos fatos, será demonstrada a verdade e a inexistência de qualquer ilícito. A Votorantim adota postura apartidária e sempre prezou pela total transparência nos processos de doações eleitorais, seguindo rígida Política Corporativa de Doações Eleitorais”.

Procurada, a assessoria de imprensa do PT afirmou que os crimes delatados pelo exministro são “inexistentes”. “Vazamentos ilegais de delações não confirmadas no âmbito da Lava-Jato ocorrem sistematicamente quando os métodos criminosos daquela operação são denunciados, como é o caso das reportagens do Intercept Brasil, ou pela conveniência dos interesses políticos que ela representa, sempre apontando crimes inexistentes”, disse o partido.

A defesa do ex-ministro Guido Mantega classificou a acusação de “mentirosa” e “inverossímil”. “Todos sabem que o ‘homem’ dos bancos no governo era o próprio Palocci. Guido era visto como um desenvolvimentista, inimigo do mercado financeiro e dos juros exorbitantes. No auge da crise, colocou os bancos públicos para competir com os privados como forma de reduzir o juros de mercado por meio da concorrência, despertando a ira feroz dos bancos privados. A informação, além de mentirosa, é inverossímil”, afirmou o advogado Fábio Tofic. A defesa disse ainda que Mantega, na condição de ministro da Fazenda, não tinha acesso a informações do BC, que é o responsável pela política monetária.

O ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho afirmou que Palocci “mente de forma descarada”. “Desconheço o teor dessa delação mas, se procedente, afirmo que o Sr. Palocci mente de forma descarada e repugnante na expectativa de obter vantagens em seus processos. Durante o período em que estive à frente do BNDES nunca favoreci empresas, grupos de empresas ou quem quer que seja e jamais participei de contribuições políticas. Zelei pela autonomia técnica da instituição e sempre pautei-me por conduta íntegra, de adesão ao interesse público e respeito à lei”, diz Coutinho em nota.

O ex-presidente do BNDES segue: “Importa lembrar que todas as operações de financiamento do Banco são fruto de avaliações técnicas, que envolvem diferentes equipes e áreas, resultam de decisões colegiadas e asseguram sólida governança à instituição. Reitero a minha irrestrita confiança na integridade, isenção e competência dos funcionários do BNDES. Ao longo de minha gestão foi ampliado o acesso a informações, aperfeiçoados os controles, introduzidas práticas de compliance e acordos de cooperação anticorrupção. Foram suspensos contratos de financiamento à exportação de serviços de engenharia de empresas implicadas na Lava-Jato, aguardando a conclusão dos processos e acordos de leniência”.

Procuradas, as assessorias dos bancos Safra e BTG Pactual não responderam aos questionamentos enviados pela reportagem. A Parmalat também não se pronunciou.