O Estado de São Paulo, n. 45919, 08/07/2019. Política, p. A8

 

Bolsonaro tenta capitalizar título do Brasil no Maracanã

Fabio Grellet

08/07/2019

 

 

Presidente leva comitiva de ministros na final da Copa América no Rio, faz foto com taça no gramado e ouve vaias e aplausos da torcida

Arquibancada. Os ministros Paulo Guedes e Sérgio Moro, ao lado do presidente Jair Bolsonaro no Maracanã; ao fundo, o governador do Rio, Wilson Witzel, e prefeito Marcelo Crivella

O presidente Jair Bolsonaro tentou fazer da final da Copa América, ontem, no Maracanã, um teste de popularidade do seu governo. Após a vitória do Brasil sobre o Peru (3 a 1), Bolsonaro participou da premiação das seleções e atletas no gramado do estádio. Recebeu um misto de vaias e apoios ao adentrar e sair do campo.

A agenda no Maracanã foi mais um episódio em que o presidente brasileiro buscou vincular seu governo a um apoio popular. Bolsonaro havia dito que pretendia ir ao gramado acompanhado do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, após ser questionado sobre mensagens atribuídas ao exjuiz e a procuradores da Lava Jato divulgadas pela revista Veja, em parceria com o site The Intercept Brasil. “O povo vai dizer se nós estamos certos ou não”, afirmou Bolsonaro na sexta-feira passada.

Segundo o Palácio do Planalto, o presidente viajou na tarde de ontem para o Rio com uma comitiva bem maior: nove ministros no total – além de Moro, estava entre eles o titular da Economia, Paulo Guedes. Também estavam lá dois dos seus filhos e deputados aliados.

Havia a expectativa de que Bolsonaro entregasse a taça de campeão ao capitão brasileiro, o lateral Daniel Alves, mas o presidente participou somente da entrega de medalhas. Ele, porém, se integrou aos jogadores e membros da comissão técnica e tirou foto com o troféu nas mãos. Alguns jogadores e membros da delegação fizeram um coro de “mito”, como os mais fiéis seguidores de Bolsonaro costumam se referir a ele. Depois, a comitiva presidencial foi vaiada quando caminhou pelo gramado rumo ao túnel de saída.

Durante a premiação, Bolsonaro cumprimentou os jogadores da seleção brasileira, e a torcida não reagiu – os aplausos surgiam a cada atleta anunciado, e, aparentemente, não se referiam ao presidente nem aos ministros e parlamentares.

Ao longo do jogo, também não houve reação da plateia a Bolsonaro e sua comitiva. Os políticos chegaram quando a cerimônia de encerramento da competição, realizada antes da partida, já havia começado. As redes sociais do presidente publicaram vídeos e fotos. Em um deles, Bolsonaro comemora um dos gols da seleção e levanta o braço de Moro.

Alvo de uma série de reportagens sobre mensagens atribuídas a ele e procuradores da Lava Jato, o ministro da Justiça já havia acompanhado o presidente no estádio Mané Garrincha, em Brasília, para ver CSA x Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro.

‘Interferência’. Sem a companhia de Moro, Bolsonaro esteve na semana passada no Mineirão, onde assistiu à semifinal entre Brasil e Argentina, vencida pela equipe brasileira por 2 a 0. Antes da partida, o presidente se reuniu com Neymar, que havia sido cortado da seleção por lesão.

Bolsonaro deixou a área reservada à sua comitiva e desceu ao gramado do estádio. O presidente passou perto da arquibancada, pegou uma bandeira entregue por torcedores, a agitou e depois a devolveu. O Mineirão se dividiu entre vaias e aplausos, e Bolsonaro disse que as vaias eram dirigidas à seleção da Argentina, que havia voltado ao campo.

Após a semifinal, a Federação de Futebol da Argentina (AFA) formalizou uma reclamação à Conmebol, entidade organizadora da Copa América, em que classificou a passagem de Bolsonaro pelo gramado como uma “interferência política”. A entidade, no entanto, considerou normal a atitude do presidente.

Ontem havia também a expectativa de que ele repetisse a atitude na partida semifinal e entrasse no gramado durante o intervalo, o que não ocorreu. Antes, quando comemorou o primeiro gol do Brasil, o presidente sofreu um escorregão ao levantar da poltrona em que estava, mas não chegou a cair.

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Moro relaciona final da copa América à Operação Lava-Jato

Thais Barcellos

André Italo Rocha

08/07/2019

 

 

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, relacionou ontem a final da Copa América entre Brasil e Peru com a Operação Lava Jato. "Brasil e Peru fazem, na Copa América, o clássico da Lava Jato/Caso Odebrecht", afirmou em sua conta oficial do Twitter antes do início da partida.

Segundo o ministro, os dois países foram os que mais agiram contra a corrupção, em processos criminais, na América Latina. “Houve intensa cooperação do Brasil com o Peru. Os dois países ganharam. Pena que no futebol só um pode ganhar.”

Após a divulgação pelo site The Intercept Brasil de mensagens atribuídas ao ex-juiz titular da 13ª Vara Federal de Curitiba e membros da força-tarefa da operação, Moro, com o aval do Palácio do Planalto, traçou uma estratégia para transformar o caso em uma espécie de plebiscito dos que são contra ou a favor da Lava Jato.

Pesquisa do Datafolha publicada ontem pelo jornal Folha de S.Paulo aponta que 58% dos brasileiros consideraram inadequadas as supostas conversas vazadas entre Moro e procuradores. Já os que viram as mensagens como adequadas são 31%.

Conforme a pesquisa do Datafolha, apesar disso, 55% dos entrevistados não acham que Moro deveria deixar o cargo de ministro da Justiça, posto que assumiu no início deste ano após convite de Bolsonaro. Outros 38% concordam que Moro deveria renunciar. Os que não sabem são 7%. A avaliação de Moro como ministro caiu de 59% em abril para 52% nesta pesquisa.