O globo, n.31391, 18/07/2019. País, p. 08
PDT suspende atividade partidária de dissidentes
Bruno Góes
18/07/2019
O PDT decidiu ontem abrir processo contra os oitos deputados que votaram a favor da reforma da Previdência e também suspender a atividade partidária de Tabata Amaral (SP) e dos outros sete parlamentares. O processo interno pode culminar na expulsão deles da legenda.
Segundo o presidente do partido, Carlos Lupi, também ficou acordado que não será mais permitida a filiação de integrantes que participem de organizações com financiamento privado. A medida é uma resposta à deputada Tabata, que integra um movimento de renovação política chamado Acredito. Segundo Lupi, esse tipo de organização é “clandestino”.
— O partido não dará legenda, nem a vereador, nem a deputado, a nenhum filiado que tenha financiamento clandestino. Financiamento patrocinado por organizações pessoais, privadas, particulares, de gente muito poderosa, que se utiliza de grupos para financiar e ter o voto dos parlamentares dentro da sigla do PDT —disse.
Na segunda-feira, o Conselho de Ética do PSB, que também enfrentou dissidências — 11 dos 32 deputados votaram a favor da reforma —, abriu processo contra os parlamentares. Uma das possibilidades previstas pelo estatuto é a expulsão. Entre os que foram contra a orientação partidária está Felipe Rigoni (PSB-ES), também do Acredito, que argumentou ter votado por “convicção”.
“ERRO” DO DIRETÓRIO
Com a abertura do processo pelo PDT, os deputados precisam agora apresentar a defesa. O Conselho de Ética vai elaborar um parecer, que será enviado à Executiva Nacional. O próximo passo é o encaminhamento do relatório ao Diretório Nacional, que definirá a punição.
— Agora, nenhum desses oito (deputados) pode falar em nome do partido, pode ter função em nome do partido —acrescentou Lupi.
Segundo o pedetista, houve um “erro” do diretório de São Paulo ao receber uma carta do Acredito para que integrantes da organização se filiassem à legenda, como Tabata, antes das eleições:
—Para que ter partido? Fica logo no grupo clandestino e organiza. Tem tanta mídia... Organize um partido para ver como é fácil. Participem da luta. Então, para que estão no PDT? Então, não queremos, obrigado —disse Lupi.
Em artigo publicado na “Folha de S. Paulo”, Tabata Amaral afirmou que sofre “perseguição política” no PDT em função de seus posicionamentos.
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No PPS, Ciro também contrariou orientações
18/07/2019
Vice-presidente do PDT, o ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes já passou por situação semelhante aos deputados de seu partido que votaram a favor da reforma da Previdência na Câmara, na semana passada, e podem ser expulsos da legenda. Defensor da saída dos parlamentares rebeldes, o ex-governador contrariou em 2004 decisão do diretório nacional do PPS, partido que integrava na época.
Na ocasião, a sigla decidiu pela saída da base do governo de então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar de o PPS ter votado pela entrega de cargos no governo, Ciro Gomes se recusou a deixar o posto de ministro da Integração Nacional. Somente seis meses depois de se rebelar contra o PPS, Ciro deixou a legenda e ingressou no PSB.
POSTAGEM A FAVOR DO PDT
Ontem, o ex-ministro voltou a reforçar a posição do PDT contra a reforma da Previdência em seu perfil no Twitter. Na postagem, Ciro não citou os casos dos parlamentares dissidentes.
“O PDT é um partido de oposição! Sem oposição, democracia não existe! Qual o cabimento de exigir grosseiramente, e mentindo, que a gente apoie uma iniciativa tecnicamente péssima e socialmente selvagem de reforma governista? Piraram”, escreveu.