Título: Voto do Entorno impacta no DF
Autor: Marcos, Almiro
Fonte: Correio Braziliense, 07/10/2012, Cidades, p. 33

Melhoria dos serviços públicos de saúde e educação, assim como a redução da violência urbana, pode aliviar a demanda sobre a capital do país. Para o bem e para o mal, os 22 municípios da região vizinha formam área de interesse para os governantes de Goiás e do Distrito Federal

Única área metropolitana brasileira formada por municípios de mais de uma unidade da Federação, o Entorno do DF vai hoje às urnas para escolher os prefeitos e vereadores das 22 cidades que compõem a Região Integrada de Desenvolvimento do Entorno do Distrito Federal (Ride). Serão eleitos 22 chefes de executivos municipais e 266 representantes das câmaras de vereadores. Ao todo, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), estão aptos a votar 693.365 eleitores em 19 localidades goianas e três mineiras que circundam a capital federal. Apesar de este ano não haver eleição aqui e de os políticos brasilienses não participarem legalmente do pleito, deputados distritais, federais, senadores e figuras de alto escalão da atual administração se empenharam intensamente na sucessão municipal na região vizinha. Isso porque DF e Entorno formam uma área de interesse e de influência mútuos. Para o bem e para o mal.

Os impactos negativos mais diretos no Distrito Federal recaem sobre os serviços públicos. A saúde é a área que mais sofre com a migração de pacientes, assim como a segurança pública. “O que ocorre de negativo na região acaba refletindo aqui também. Não há uma barreira física separando o Entorno da capital. É uma zona de influência mútua”, explica o secretário do Entorno do Governo do Distrito Federal, Arquicelso Bittes, ele próprio um morador de Valparaíso (GO). Mas também há a influência positiva, como o dinheiro gasto nos estabelecimentos brasilienses pelos moradores da região que trabalham aqui.

Dados da Companhia de Desenvolvimento e Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) indicam que, pelo menos, 160 mil pessoas dos municípios vizinhos chegam diariamente ao DF. As informações têm como base 2007, mas foram divulgadas em 2010. A estimativa é que, atualmente, mais de 200 mil pessoas façam esse deslocamento diariamente. Segundo a pesquisa — a última realizada pelo órgão sobre o movimento populacional pendular na região —, pouco mais de 100 mil moradores vêm para o DF em virtude do trabalho, cerca de 6 mil buscam atendimento médico, e outros 5 mil, serviços educacionais. O maior fluxo (91%) é proveniente das seguintes cidades goianas: Águas Lindas, Valparaíso, Novo Gama, Cidade Ocidental, Planaltina, Luziânia, Santo Antônio do Descoberto e Padre Bernardo.

Essas cidades, aliás, integram o grupo das que mantêm ligação mais consistente com o DF. Para alguns especialistas, os municípios deveriam formar a chamada Área Metropolitana Integrada de Brasília (AmiB), que seria composta ainda por Formosa e Cristalina. “São essas áreas mais próximas que têm uma relação de dependência com o Distrito Federal. As pessoas trabalham, buscam serviços de saúde e estudam aqui. Além da influência de um grande centro, ainda pesa o fato da falta de qualidade dos serviços públicos nesses locais”, argumenta o geógrafo Aldo Paviani, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB).

A população que mora nas cercanias da capital somou 1.154.193 habitantes em 2010, segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O interesse dos políticos daqui na região vai muito além dos mais de 18 mil eleitores que migraram do DF para votar nos municípios vizinhos e dos que vêm de lá nos pleitos distritais. Apesar de uma quantidade tão grande de votantes ser capaz de influenciar na eleição de deputados, senadores e até do governador, o Entorno chama a atenção também pelas relações que as pessoas da região mantêm com quem mora no DF. “Os laços familiares contam muito. Se marcamos a posição lá, nas eleições municipais, estamos fixando a imagem também para a sucessão de 2014”, explica um deputado que circula pela região desde o período pré-eleitoral.

De lá e de cá

Mais do que apoiar candidatos nos municípios vizinhos, os deputados distritais, federais e senadores arregaçaram as mangas e foram para as ruas do Entorno ao longo da campanha. Os senadores Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) e Gim Argello (PTB-DF), por exemplo, reservaram parte de suas agendas nos últimos meses a fim de visitar as cidades da região. No mesmo caminho foram os deputados e pretensos candidatos às eleições de 2014. Rollemberg, por exemplo, diz que o interesse dos políticos do DF não é apenas eleitoral. “São duas áreas de influência comum. Assim, o que for bom para as cidades da região vai refletir positivamente aqui na capital”, explica o senador.

O impacto nos serviços públicos daqui é grande. Dados da Secretaria de Saúde do DF, relativos aos sete primeiros meses deste ano, indicam que mais de 90% dos atendimentos feitos na rede pública local a pacientes de outras unidades da Federação se destinam justamente a pessoas vindas do Entorno. O volume é tão significativo que os moradores da região representam 14,2% no total de internações na rede pública e 10,1% na emergência.

Isso sem contar os reflexos na segurança pública. A quantidade de crime da área, considerada uma das mais violentas do país, ultrapassa as divisas de Goiás. No mês passado, o Ministério da Justiça tomou uma ação prática para conter esse movimento: transferiu 133 homens da Força Nacional de Segurança para o DF. Desde então, barreiras passaram a ser montadas nas principais vias de ligação entre a capital e os estados vizinhos, a fim de inibir tanto a entrada quanto a saída de criminosos. “Isso vai reforçar também a segurança na região do Entorno”, disse o secretário de Segurança do DF, Sandro Avelar.