Título: Campanha mais ácida na TV
Autor: Almeida, Amanda
Fonte: Correio Braziliense, 16/10/2012, Política, p. 5
Na volta da propaganda política ao rádio e à televisão, os candidatos do PT e do PSDB à prefeitura de São Paulo adotam um tom mais agressivo. Serra fala de "valores" e lembra o mensalão. Haddad critica o continuísmo tucano
Se o segundo turno começa, na prática, com a propaganda eleitoral no rádio e na televisão, como avaliam cientistas políticos, os candidatos à prefeitura de São Paulo mostraram ontem que a campanha será em tom bem mais elevado nesta reta final. No primeiro programa deste segundo turno na TV, o ex-governador José Serra (PSDB) e o ex-ministro Fernando Haddad (PT) trocaram provocações, mas usaram o mesmo mote: o de que o cargo de prefeito não é o projeto prioritário do oponente. Para o tucano, o PT quer a vitória na capital como "ponto de honra" para "esconder" as condenações dos réus petistas no julgamento do mensalão. Já Haddad disse que Serra quer o cargo como "trampolim" para outros projetos. Ele voltou a fazer referência à candidatura de Serra ao governo do estado menos de dois anos depois de eleito prefeito de São Paulo, em 2005.
Serra iniciou o programa agradecendo os votos recebidos e destacou o fato de ter conquistado o maior número de votos no primeiro turno. Nas primeiras pesquisas eleitorais do segundo turno, porém, ele aparece atrás de Haddad. O tucano voltou a mostrar sua biografia, colocando-se como uma pessoa de origem humilde, estudante de escola pública, presidente da União Nacional dos Estudantes e avô carinhoso. Explorou os feitos de sua gestão no Ministério da Saúde. E usou depoimentos de personalidades e políticos ligados ao tucanato, como a atriz Beatriz Segall e o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB).
A crítica ao adversário veio nos últimos dois minutos do programa, logo depois de o candidato dizer que gasta 90% do seu tempo na TV para apresentar propostas. Foi a deixa para lembrar que, "de vez em quando", é necessário falar sobre "valores", em uma referência direta ao mensalão. "Algumas das principais lideranças do PT no Brasil foram condenadas pelo Supremo Tribunal Federal no escândalo que ficou conhecido como mensalão. Na verdade, o apelido esconde o que de fato aconteceu: desvio de dinheiro público para comprar voto na Câmara dos Deputados", disse o tucano.
Serra afirmou que o mensalão foi um duplo "atentado" contra o povo: primeiro, por desviar dinheiro que poderia ser usado na educação e na saúde; segundo, por comprar o voto de parlamentares que deveriam representar os interesses dos brasileiros. "Agora, o PT está concentrando as suas forças e virou ponto de honra eleger o meu adversário aqui em São Paulo. Eles querem usar a eleição em São Paulo como cortina de fumaça para esconder as condenações do mensalão", alfinetou Serra.
Promessa quebrada Mais suave no horário eleitoral, Haddad usou as inserções de 30 segundos durante a programação da TV para fazer as mais fortes críticas a Serra. Com o slogam "Não dá mais para suportar", a propaganda tenta convencer o eleitor de que os governos do PSDB nos últimos 20 anos em São Paulo já saturaram o cidadão. Em outra peça publicitária, o locutor pergunta: "Dá para acreditar?", referindo-se às promessas de Serra de não deixar a prefeitura para disputar outros cargos.
No horário eleitoral, Haddad voltou a explorar a promessa que Serra quebrou de permanecer na prefeitura, após a eleição de 2005, quando chegou a assinar um termo de compromisso de que não deixaria o cargo. Haddad usou vídeos com discursos de Serra garantindo, na época, que permaneceria no comando da capital paulista.
O ex-ministro também aproveitou o primeiro programa do segundo turno para apresentar seu mais novo aliado. Apresentou uma declaração de apoio de Gabriel Chalita (PMDB), quarto colocado no primeiro turno. A presidente Dilma Rousseff (PT) apareceu também em nova gravação, em que elogia o petista ao dizer que ele é, "além de jovem, competente para mudar São Paulo". Esse é, aliás, o principal mote da campanha. "Os dois projetos que disputam esse segundo turno são muito claros. Um defende a continuidade de tudo que está aí, o outro projeto, o meu projeto, quer acabar de vez com o apartheid social que a imposto a milhões de paulistanos que moram na periferia", disse Haddad.
"Virou ponto de honra (para o PT) eleger o meu adversário aqui em São Paulo. Eles querem usar a eleição como cortina de fumaça para esconder as condenações do mensalão" José Serra, candidato do PSDB
"Os dois projetos são muito claros. Um defende a continuidade de tudo que está aí. O meu projeto quer acabar de vez com o apartheid social que é imposto a milhões de paulistanos que moram na periferia" Fernando Haddad, candidato do PT