Título: Cidades mais ricas no centro da disputa
Autor: Almeida, Amanda
Fonte: Correio Braziliense, 13/10/2012, Política, p. 2

Dos 50 municípios onde haverá segundo turno, 28 têm orçamento anual acima de R$ 1 bilhão. São justamente essas as prefeituras mais cobiçadas. São Paulo é a joia da coroa, com caixa de R$ 38,7 bilhões

Principais atores do segundo turno, PT, PSDB, PSB e PMDB travam uma disputa pela gestão de R$ 99,2 bilhões em recursos públicos. De olho em 2014, os quatro partidos priorizam, entre as 50 cidades em que os eleitores voltam às urnas em duas semanas, as 28 prefeituras com orçamento superior a R$ 1 bilhão, cujos investimentos são vitrine eleitoral para os próximos pleitos. Com o caixa turbinado pela Copa do Mundo de 2014, seis delas, que vão sediar o evento no mesmo ano das próximas eleições presidenciais, são prioridade máxima. Aos futuros prefeitos, caberá o título de padrinhos dessas realizações.

Das 47 prefeituras com receita acima de R$ 1 bilhão este ano, 19, que somam R$ 65 bilhões em orçamento, já têm definido o prefeito do próximo mandato. Maior orçamento entre as cidades brasileiras, São Paulo está entre as 28 bilionárias disputadas no segundo turno. Com R$ 38,7 milhões para gastar em 2012, a capital paulista, não por acaso, é o principal alvo de PT e PSDB. Enquanto os petistas sonham em retomar o principal palanque da oposição, os tucanos a veem como ponto estratégico para garantir repercussão nacional às críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff.

"Não vemos uma correlação tão direta entre as eleições municipais e presidenciais. Mas é claro que estar no comando dessas cidades fortalece qualquer partido", avalia o secretário-geral do PSDB, Rodrigo de Castro. O deputado federal cita que, por terem mídia forte, as cidades ricas se tornam vitrines de obras e programas de suas administrações. O PSDB está em 11 cidades bilionárias no segundo turno, entre elas, Manaus e Belém. Há ainda uma importância estratégica para as legendas ao disputar as mais ricas: as volumosas estruturas de cargos servem para cooptar aliados e negociar futuras alianças, que passam também por 2014.

O ano das eleições presidenciais é também o ano da Copa e, assim, as seis cidades sedes bilionárias ainda em disputa — Curitiba, Fortaleza, Cuiabá, São Paulo, Salvador e Natal – têm uma importância a mais. Só Fortaleza vai receber, até 2014, R$ 1,6 bilhão do governo federal para o evento esportivo, o que reforça sua arrecadação própria para investimentos e, consequentemente, o número de obras para divulgar ao fim do mandato. A capital do Ceará tem acirrada briga entre o PT da prefeita Luizianne Lins e o PSB dos irmãos Cid e Ciro Gomes.

O secretário nacional de organização do PT, Paulo Frateschi, diz que a vitória nas cidades com maiores orçamento não é questão de prioridade para o partido, mas de "necessidade". "Não só pelo poder econômico que concentram, mas pelas características dessas cidades. Uma marcante é que, geralmente, elas têm grandes universidades, que irradiam política. Têm também mídia pesada, com veículos competitivos, o que aumenta a repercussão das ações." Além de São Paulo, o PT pode levar Contagem (MG), Juiz de Fora (MG), Santo André (SP), Campinas (SP), Guarulhos (SP), Niterói (RJ), Cuiabá, Salvador, Fortaleza e João Pessoa.

Promessas Para o cientista político da Universidade de São Paulo (USP) José Álvaro Moisés, "dinheiro e poder andam juntos", porém, não basta ganhar grandes orçamento: é preciso cumprir o que se prometeu na campanha para ter a vitrine. "Os partidos querem mais prefeituras e mais peso econômico, porque, com mais, tem o locus para realizar seus objetivos programáticos, quando eles existem; e, com as mais ricas, viabiliza os meios para realizar o que prometem — embora nem sempre façam exatamente isso."

No primeiro turno, o PT, que hoje comanda o maior número de administrações bilionárias (11), se deu melhor, com a vitória em seis prefeituras e a garantia de R$ 12,5 bilhões para gerir. Em seguida, aparecem PSDB e PSB, com três cada. Apesar de ter se saído vitorioso apenas em uma delas no primeiro turno, o PMDB foi o campeão em termos de recursos para administrar, já que reelegeu Eduardo Paes no Rio de Janeiro, segunda maior receita do país, com R$ 20,5 bilhões de receita. Os peemedebistas disputam ainda oito prefeituras bilionárias, entre elas, Sorocaba e Natal.