Título: Expectativa de inflação
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 16/10/2012, Economia, p. 10

Se depender das expectativas do mercado financeiro, o Banco Central não vai ter sossego com a inflação por muito tempo e poderá ter que aumentar a taxa básica de juros no próximo ano. Pela 14ª semana consecutiva, os analistas ouvidos pela pesquisa Focus, realizada pelo BC, elevaram a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano. A estimativa passou de 5,42% para 5,43%. É pouca coisa, mas não deixa de ser preocupante que a percepção de piora venha sendo reforçada a cada edição do levantamento. Há um mês o mercado esperava que a inflação ficaria em 5,26% em 2012.

Embora ainda não ameacem o cumprimento da meta de 4,5% — já que o BC conta com dois pontos percentuais de tolerância para baixo ou para cima — as projeções dos analistas, se concretizadas, deixarão o BC numa situação menos confortável. Desde agosto de 2011, o Comitê de Política Monetária (Copom) vem baixando sucessivamente a taxa Selic para induzir os bancos a reduzir o custo dos empréstimos às famílias e às empresas para, dessa forma, ajudar a economia a deslanchar. Na semana passada, a taxa caiu para 7,25% ao ano, o menor patamar da história.

Com essa redução, o mercado financeiro, que vinha numa posição mais conservadora, apostando numa Selic de 7,5% em 2012, teve que ajustar suas previsões. Os economistas, no entanto, apostam que, no próximo ano, o Copom terá que fazer o caminho inverso, ou seja, começar nova rodada de aperto monetário. A previsão captada pela Focus é que a Selic suba para 8% ao ano no fim de 2013.

Para os analistas, a elevação dos juros será necessária para manter a inflação sob controle. Contando com esse movimento do BC, a previsão do mercado para a inflação de 2013, está, por enquanto, mais bem comportada. Caiu de 5,44% para 5,42% no espaço de uma semana. Apesar da redução, o percentual ainda continua acima do centro da meta de 4,5% estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) também para o próximo ano. Quatro semanas atrás a previsão era de 5,50%.

Fraqueza Já o Produto Interno Bruto (PIB), na visão do mercado, não dá mostras de que vai reagir, apesar do recuo da taxa Selic e das sucessivas medidas de incentivo ao consumo e à indústria colocadas em prática pelo governo. Para os analistas, o PIB deste ano crescerá apenas 1,54%. Na semana anterior a estimativa era de 1,57%. A persistente fraqueza da atividade econômica já forçou o Ministério da Fazenda a reduzir a sua projeção de 3% para 2%, enquanto o BC trabalha com a expectativa de 1,6%.

Seja qual for a previsão mais correta, o PIB terá neste ano o pior desempenho desde 2009, quando o país sentiu o primeiro impacto da crise financeira internacional. Naquele ano a economia teve retração de 0,3%. Em 2011, houve variação positiva de 2,7%. O sentimento de piora dos analistas financeiros está baseado sobretudo na situação ruim da indústria, que não vem reagindo como o esperado diante dos incentivos, e pela resistência dos empresários a tirar projetos de investimento da gaveta, devido às incertezas geradas pela crise internacional.