Título: Dia D de duelo
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 16/10/2012, Mundo, p. 16

Barack Obama sobe ao palco para o segundo debate com Mitt Romney pressionado a devolver a derrota do primeiro confronto e retomar a liderança nas pesquisas. Na véspera, os candidatos se concentraram na preparação

A exatamente três semanas da eleição presidencial nos Estados Unidos, Barack Obama tem hoje uma noite decisiva para suas ambições de permanecer mais quatro anos na Casa Branca. Pela segunda vez, ele enfrentará o adversário republicano, Mitt Romney, diante das câmeras. E outro mau desempenho poderá ser fatal para a campanha à reeleição. Desde que o republicano passou a ser visto como o vencedor do primeiro embate, no último dia 3, as pesquisas de intenção de voto mostram quase diariamente o democrata perdendo terreno. O formato do evento de hoje, no qual os candidatos responderão a perguntas da plateia, pode beneficiar o presidente, segundo analistas, mas deixa pouco espaço para uma performance mais incisiva, como vêm prometendo seus estrategistas.

Temerosos dos efeitos que um segundo desempenho ruim possam causar, os gurus da campanha democrata passaram os últimos dias prometendo um Obama "mais agressivo". Ele próprio avisou que não será "tão educado" desta vez. O analista David Steinberg, diretor de debates da Escola de Comunicação da Universidade de Miami, explica que, no formato de hoje à noite, um comportamento agressivo seria um erro, uma vez que a comunicação com o público é imediata. "Por outro lado, será importante ser assertivo, seguro, competente, demonstrar conhecimento e felicidade por estar ali", afirmou, em entrevista ao Correio. "O momento de ser agressivo foi no primeiro debate."

O especialista acrescenta que os candidatos precisarão demonstrar domínio de um comportamento não verbal para se conectar com os eleitores que farão as perguntas, sobre política doméstica e externa. O evento será transmitido ao vivo para um público estimado em 63 milhões de pessoas, apenas nos EUA. "Telespectadores em casa vão interagir diretamente com os membros do auditório. Por isso, o candidato que for capaz de usar linguagem corporal, postura, expressões faciais, tom de voz para expressar empatia e compreensão será bem-sucedido", pondera. Steinberg arrisca que Obama poderá lançar mão de casos particulares, com nomes e histórias de pessoas reais, para mostrar-se mais próximo do cidadão comum. "Ele precisa reconquistar a percepção de que entende melhor a classe média e está mais relacionado a ela."

Na véspera do primeiro debate, Obama mantinha na maioria das pesquisas uma vantagem magra, mas importante. Ontem, a situação era bem diferente. De seis amostragens diárias nacionais realizadas com eleitores registrados e inclinados a votar, o presidente liderava três, uma a mais que seu adversário. Os dois apareciam empatados em uma delas. No levantamento Reuters/Ipsos, a vantagem de Obama, de dois pontos (47% – 45%) foi considerada tão pequena pelo próprio instituto que também poderia ser vista como empate. Os números mostraram, entretanto, recuperação de um ponto para o presidente, entre domingo e ontem.

Nos estados

Nos "swing states", estados de progóstico indefinido considerados decisivos para a sorte da eleição, Romney apareceu bem colocado e liderando por até cinco pontos na pesquisa USA Today/Gallup, entre os eleitores que provavelmente irão às urnas. Os números deixaram claro um maior entusiasmo pelo republicano entre um segmento até aqui mais inclinado a apoiar Obama: o eleitorado feminino. A análise de 12 estados examinados pelo USA Today diz que as mulheres estão muito mais engajadas nas eleições e "incrivelmente preocupadas" com as questões do deficit orçamentário, o que favorece Romney. O desafiante aparece empatado com Obama entre esse eleitorado, ambos com 48%. Entre os homens, leva vantagem de até 12 pontos.

Se da primeira vez Obama permitiu-se protagonizar alguns eventos de campanha até a véspera do debate, para o segundo confronto os últimos dias foram de total concentração. Tanto ele quanto Romney não participaram de nenhuma atividade ontem e se dedicaram totalmente à preparação para o duelo na tevê. Não faltam motivos para preocupação na equipe de campanha democrata. Duas semanas atrás, o presidente subiu ao palco da Universidade de Denver como o preferido de 51% dos entrevistados ouvidos pelo Centro de Pesquisa Pew. Apenas 29% achavam que Romney se sairia bem naquele debate. Agora, a expectativa por um triunfo de Obama caiu para 41%, enquanto 37% acreditam que o republicano pode repetir a dose e emplacar a segunda vitória.

Só dá ela...

Enquanto o presidente se preparava para o confronto de hoje com Mitt Romney, Michelle Obama saía à busca dos votos para o marido no decisivo estado de Ohio. Desde o início da tarde, uma longa fila se formou diante do auditório da Universidade Wesleyana, na cidade de Delaware, para ouvir o discurso da primeira-dama. Se nas pesquisas ela aparece com aprovação mais sólida que Barack Obama, o cartaz improvisado por um entusiasta ilustra a importância de Michelle na campanha: "Sou fã de Obama, mas o marido dela não é nada mau", diz o texto, em tradução levemente adaptada.