Título: Um futuro desafiador
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 13/10/2012, Economia, p. 11

Crescimento exponencial de pontos de conexão e novos serviços via internet exigem investimentos bilionários

A recente intervenção da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre as concessionárias de telefonia para que intensificassem investimentos em infraestrutura nos próximos dois anos, visando melhorar o atendimento ao consumidor, serviu apenas para reforçar os desafios colocados pelo crescimento explosivo do setor. O mercado brasileiro deverá fechar o ano com 280 milhões de aparelhos móveis e analistas já apostam em 2 bilhões de pontos de conexão em 2020, projeção alimentada pela mobilidade cada vez maior da internet de alta velocidade, com aplicações mais diversas, e pelo número crescente de serviços de comunicação entre máquinas.

Interessadas em aproveitar todas as oportunidades abertas pelo cenário promissor e receosas de frustar o atendimento ao usuário com redes saturadas, as operadoras cobram do governo desonerações fiscais para ampliar investimentos e ainda querem ajustes imediatos na legislação para acionar novas tecnologias. "As empresas estão atentas à grande demanda que o país vai enfrentar nos próximos anos, sobretudo em razão da Copa do Mundo (2014) e das Olimpíadas (2016). Mas o horizonte é bem maior, levando-as a mobilizar recursos expressivos e bem orientados por planejamentos de longo prazo", lembra o consultor da KPMG Diogo Sousa. Essa conta pode chegar a R$ 300 bilhões até o fim da década.

Ele e outros especialistas ouvidos pelo Correio durante a Futurecom — principal evento de telecomunicações da América Latina, que reuniu esta semana no Rio 14 mil executivos de 40 países — avaliam que a ascensão da base instalada de smartphones provocará expansão sem precedentes no setor. Mais do que confirmar a simpatia do brasileiro pela internet, da qual é líder mundial em navegação, com 95 horas mensais na média, sendo 10% em redes sociais, os acessos móveis sobrecarregam as redes.

"Assistir a um vídeo no tablet equivale a pelo menos dez ligações de voz simultâneas pelo celular", ilustra o diretor de Marketing da operadora GVT, Ricardo Sanfelice. Ele acredita que, com ou sem incentivos oficiais, as empresas do setor vão realizar os investimentos necessários para preservar qualidade de serviços, ganhar com novas escalas de demanda e sofisticar planos de negócios. Fornecedores de equipamentos lembram que o tráfego de dados deve aumentar oito vezes até 2016. "A experiência mostra que, quanto mais se oferece a esse mercado, mais a demanda cresce", observa.

Impasse Para driblar entraves burocráticos e as restrições legais para erguer antenas de telefonia, prerrogativa dos municípios, as empresas começaram a ceder à conveniência de compartilhar infraestrutura, que também está sendo exigida pelo governo. Mesmo assim, as licenças leiloadas em junho para os serviços de quarta geração (4G), para internet móvel de banda larga, vão exigir número bem maior de torres. A apenas sete meses de entrar em operação nas cidades sedes da Copa das Confederações, as novas redes enfrentam nesse quesito seu maior impasse.

Entre as saídas encontradas pelas operadoras para se adequar a mais de 250 legislações restritivas, estão a perspectiva de implantação das chamadas pequenas células transmissoras, o melhor aproveitamento das atuais redes de terceira geração (3G) e a associação com aparelhos residenciais. Mas também há algumas bem criativas. A Oi escapa das multas por instalação indevida colocando torres sobre veículos sempre "estacionados" onde a cobertura de sinal requerer.

Mais arrojada, a Vivo apresentou à Prefeitura do Rio de Janeiro projeto de um poste de iluminação integrado a uma estação rádio-base, com a maior parte desta aterrada. "Essa é uma solução que pode servir de modelo", comenta o presidente da Anatel, João Rezende. Ele promete colocar em consulta pública até dezembro regras para microrredes.

O repórter viajou a convite do Futurecom 2012

» Novos atores

As dificuldades impostas pelos municípios aos investimentos das teles em antenas poderão acabar com a aprovação de projeto de lei, em tramitação no Senado, que fixa regras para o tema. Hoje, uma alternativa é terceirizar instalações. Nessa trilha, o órgão do governo de defesa da concorrência (Cade) já aprovou a compra de torres e postes pelo fundo GP Investments, por R$ 503 milhões.