Título: Brasil se oferece para mediar a paz
Autor: Luna, Thais de
Fonte: Correio Braziliense, 16/10/2012, Mundo, p. 17

Em visita à Palestina, chanceler Patriota reitera o desejo de ajudar no diálogo com Israel

O chanceler brasileiro, Antonio Patriota, visitou ontem a Palestina, na primeira viagem ao local desde que este foi reconhecido pelo Brasil como Estado, em dezembro de 2010. Ele se reuniu com diversos membros da Autoridade Palestina (AP), no dia seguinte aos encontros com autoridades de Israel. O ministro reiterou a intenção brasileira de ajudar nos processos de negociação que levem ao fim do conflito árabe-israelense. Ao conversar com o colega palestino Riad Al-Malki, em Ramalah (Cisjordânia), Patriota manifestou o empenho do Brasil na busca da paz no Oriente Médio e da admissão da Palestina como Estado observador não membro da ONU — o pedido será levado à Assembleia Geral em novembro. "Prometi e já estou fazendo isso", respondeu o chanceler ao colega palestino, que lhe solicitou que o governo brasileiro "exerça sua influência junto a outros países, além da América do Sul" para que apoiem o pedido do presidente Mahmud Abbas. "A intenção palestina é pacífica, diplomática e legítima. Além disso, poderá fortalecer o elo mais fraco, em negociações futuras", completou Patriota.

Em outra reunião, Abbas agradeceu ao ministro das Relações Exteriores pelo apoio à causa palestina e apelou para que a comunidade internacional trabalhe em prol da criação de um Estado livre e independente para os palestinos. Patriota comentou ser necessário manter o empenho nas conversas, a fim de que seja firmado um acordo de dois Estados "independentemente das eleições em quaisquer países" — uma referência às eleições gerais de Israel, que devem ser antecipadas para janeiro de 2013.

Patriota encerrou sua visita a Israel no domingo. Ele se reuniu com o presidente, Shimon Peres, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e com alguns ministros do Estado judaico. Com todos eles, falou sobre a disposição brasileira de auxiliar na busca da paz no Oriente Médio. Uma saia justa, no entanto, marcou sua passagem pelo país. No domingo, um comunicado da Presidência israelense assinalou que Peres havia pedido ao ministro que o Brasil boicotasse encontros com o mandatário do Irã, Mahmud Ahmadinejad. O próprio chanceler negou que Peres tivesse feito tal solicitação, embora o gabinete do chefe de Estado judeu tenha reafirmado que o assunto foi tratado na reunião. Questionado pelo Correio, o Itamaraty limitou-se a garantir que as informações à imprensa divulgadas pela Presidência sionista não refletiram o teor do encontro entre Patriota e Peres.

Divergências

Em meio à oferta brasileira de mediar as negociações para o fim do conflito palestino-israelense, analistas ouvidos pela reportagem tiveram opiniões distintas sobre o possível papel do Brasil em uma mesa de conversações. O professor Efraim Inbar, da Universidade de Bar-Ilan, em Israel, afirmou que ninguém pode mediar o processo de paz, "enquanto os palestinos se negarem a dialogar e a reconhecer as ligações históricas dos judeus com Jerusalém". "Sugiro que o Brasil cuide dos próprios problemas antes de tentar resolver os dos outros", advertiu, em tom duro. O israelense espera que o governo brasileiro corte relações com o Irã, uma vez que considera a ligação entre as duas nações uma "afronta" à segurança internacional.

Por sua vez, o palestino Imad-ad-Dean Ahmad, presidente do Minaret of Freedom Institute, nos EUA, destacou a contribuição brasileira em apoiar a Palestina como Estado observador da ONU e o bom relacionamento entre os dois países. "Mas não creio que os EUA vão permitir que o Brasil atue diretamente nas negociações, pois o governo americano está muito preocupado com as consequências do projeto de paz na política doméstica dos EUA", lamentou.

Ahmad completou que o ministro brasileiro ressaltou o desejo de um Oriente Médio livre de armas nucleares. "É necessário lembrar que o Irã não tem armas atômicas e declarou não ter a intenção de fabricá-las, enquanto Israel possui um arsenal nuclear e se recusa a discutir sua capacidade atômica", alertou. Hoje, Patriota visita a Jordânia, onde se reunirá com o Rei Abdullah II.

Reforço no pacote de sanções A União Europeia (UE) reforçou ontem o pacote de sanções econômicas contra o Irã, devido ao controverso programa nuclear do país, o qual as potências ocidentais consideram ser usado para a fabricação de armas atômicas. A intenção do bloco é afetar os setores energético e financeiro nacionais, a fim de forçar Teerã a retornar à mesa de negociações. "O Irã age em violação flagrante de suas obrigações internacionais, ao continuar rejeitando cooperar com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para responder às inquietações sobre seu projeto atômico", criticou a UE, por meio de um comunicado. Tais sanções, no entanto, não estão dirigidas aos civis iranianos, advertiu o bloco. Há dois anos, diversas nações ocidentais impuseram um embargo econômico ao Irã, o que reduziu a produção de petróleo e as exportações, levando ao aumento do desemprego. "Vamos seguir aumentando a pressão contra Teerã nos próximos meses, exceto se as negociações forem bem-sucedidas", ressaltou o chanceler britânico, William Hague.