Título: Cotistas terão acompanhamento
Autor: Sakkis, Ariadne
Fonte: Correio Braziliense, 13/10/2012, Cidades, p. 23

Assim como já ocorre com os vestibulandos que entram pelo sistema de cotas raciais, UnB vai implementar grupo de monitoramento para evitar a evasão dos alunos de escolas públicas que ingressarão nas novas vagas sociais

Os estudantes beneficiados pelas cotas sociais serão acompanhados por um grupo de monitoramento, supervisionado pelos decanatos de Ensino e Graduação e de Assuntos Comunitários da Universidade de Brasília (UnB). O objetivo é garantir aos alunos cotistas oriundos de escolas públicas, em especial àqueles de baixa renda, as condições adequadas para evitar a evasão dos estudantes. Será preciso, por exemplo, aumentar a oferta de moradia, alimentação subsidiada e bolsas de tutoria. Para isso, o governo federal deverá engordar os repasses com essa finalidade para as universidades federais de todo o país.

A experiência de observação dos jovens cotistas sociais se espelhará no trabalho conduzido pelo Centro de Convivência Negra com universitários contemplados pelas cotas para pretos, pardos e índios na UnB. De acordo com a universidade, esse já apresenta desempenho acadêmico similar aos dos universitários aprovados pelo sistema universal. "O que nos preocupa mais não é o desnivelamento em conteúdo, apesar de essa questão também fazer parte do projeto de assistência. Nossa maior preocupação é evitar a evasão, principalmente dos estudantes de baixa renda, que precisam se dividir entre estudo e trabalho. Vamos precisar ampliar os programas, e o governo federal está ciente e já sinalizou o aumento nos repasses", explica o decano de Ensino e Graduação, José Américo Soares.

Além do acompanhamento e da assistência social, a comissão ainda desenvolverá pesquisas para estudar a inserção e o desempenho de cotistas sociais na universidade. No longo prazo, os resultados da observação podem mostrar como a formação educacional de base influencia a desevoltura acadêmica dos estudantes graduados na rede pública de ensino. Com isso, provavelmente ficarão mais óbvios os acertos e deficiências dos sistemas educacionais públicos.

Efeitos

Soares acredita que um dos efeitos da Lei Federal nº 12.711, que instituiu a nova política de cotas em todo o país, será a pressão para a reformulação do ensino médio e básico, principalmente em escolas públicas. "Ainda que a lei tenha o foco em abrir mais caminhos para o acesso às universidades federais, ela faz parte de uma ação muito maior, que é a restruturação de todo o sistema de ensino", afirma. A Lei de Cotas estabelece, inclusive, que em quatro anos 50% das vagas para cursos em universidades federais devem ser preenchidas por pessoas formadas no ensino público.

Na quinta-feira, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da UnB decidiu preservar o programa de cotas para negros e indígenas, a quem são destinadas 20% de todas as vagas do vestibular. Assim, somando-se à exigência da legislação federal para o primeiro ano de vigência da lei, a próxima seleção da UnB terá 32,5% das vagas separadas para regimes de inserção social (veja quadro). Já na terceira etapa do Programa de Avaliação Seriada (PAS) valerá apenas a cota social, com reserva de 12,5% das oportunidades, sendo metade delas para alunos de baixa renda.

Verba Desde 2008, os recursos do Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) quadriplicaram em todo o país — passaram de R$ 126,3 milhões para R$ 503,8 milhões. Para o próximo ano, a previsão de aporte supera R$ 603 milhões. A UnB receberá R$ 18 milhões.

Três perguntas paraJosé Américo Soares, decano de Ensino e Graduação da UnB

A UnB vai acompanhar os alunos que entrarem pela cota social? Como isso será feito? Em todos os cursos, existe o problema da evasão, inclusive no regime de cotas. Temos de fazer o máximo para ocupar as vagas e tentar garantir a permanência dos alunos. Nossa maior preocupação é garantir que os alunos de baixa renda tenham condições de estudar sem precisar trabalhar. Para isso, temos que oferecer mais moradia, auxílio-alimentação e bolsas de tutoria. O governo federal já sinalizou que aumentará os repasses.

Como os estudantes saberãoem qual opção terão mais chances de conseguir passar? São fatores individuais e subjetivos. Depende muito da avaliação que o aluno faz de sua condição social e de seu desempenho escolar. Por enquanto, não há como definir onde a concorrência será menor, mas podemos prever que a média das notas das cotas sociais será diferente. É importante ressaltar que os alunos das cotas concorrem entre si, e não com os demais. Por exemplo, os cotistas de baixa renda concorrem apenas entre si, e não com os cotistas sem renda delimitada.

O senhor acredita que a Lei de Cotas vai fazer pressão para melhorias no ensino médio? Não apenas no ensino médio, mas também no básico. Apesar de o foco da lei ser no ensino superior, ela faz parte de um movimento maior de restruturação de todo o ensino público no Brasil. Pode, inclusive, estimular a competição entre as escolas públicas.