Título: A dor me impede de falar
Autor: Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 06/10/2012, Política, p. 10
“A dor me impede de falar”
Petista histórico, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, faz breve comentário sobre a difícil situação enfrentada por José Dirceu e José Genoino no julgamento do mensalão
ULIANA BRAGA
0 ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, manifestou insatisfação com os três votos pela condenação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, e do ex-presidente do PT José Genoino, dados na quinta-feira pelos ministros do Supremo Luiz Fux e Rosa Weber, que acompanharam o relator, Joaquim Barbosa. "Eu não vou falar, a dor me impede de falar sobre essa questão", respondeu aos jornalistas, ao ser perguntado sobre a avaliação que fez dos primeiros votos dados na última quinta-feira. Apenas o revisor, Ricardo Lewandowski, votou pela absolvição dos dois petistas.
Os jornalistas insistiram para que Carvalho desse uma entrevista, que falasse sobre os votos, mas ele respondeu que não estava bem, porque a situação estava "sendo muito sofrida". "Aquela coisa do outro lado da rua dói muito." O STF fica do outro lado da Praça dos Três Poderes, em frente ao Palácio do Planalto, onde o ministro participou da solenidade de abertura da exposição de quadros do artista italiano Caravaggio.
O ministro é um dos chamados petistas históricos, que participaram da criação do partido. Foi chefe de gabinete do presidente Lula nos oito anos de mandato, inclusive quando estourou a denúncia do mensalão. Além de conselheiro político de Lula, o ministro é próximo de Dirceu e Genoino.
O julgamento será retomado na terça-feira da semana que vem. Os ministros do Supremo preferiram não marcar sessão para a próxima segunda-feira por causa do primeiro turno das eleições municipais, no domingo. Em Brasília não haverá eleições, mas alguns ministros têm domicílio eleitoral fora da capital do país e devem viajar no fim de semana.
Na quinta-feira, Lewandowski divergiu do relator e inocentou Genoino e Dirceu, mas o voto dele não foi acompanhado pelos dois colegas que o sucederam. O revisor chegou a admitir a possibilidade de Dirceu ser o mentor do esquema, mas alegou que faltam provas para condená-lo. "São suspeitas, ilações e afirmações contundentes, mas carentes de suporte probatório", sustentou. Ele condenou apenas o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares. Durante a leitura de seu voto, Lewandowski foi interrompido algumas vezes pelos colegas, que contestaram suas afirmações. "Me questiono se o tesoureiro de um partido político teria essa autonomia", chegou a ironizar o ministro Marco Aurélio, sobre a posição de Lewandowski de jogar nos ombros de Delúbio toda a responsabilidade pelo esquema de corrupção.
Eleições
Se evitou comentar o julgamento do mensalão, Gilberto Carvalho falou do quadro eleitoral em São Paulo. "Historicamente, o PT em São Paulo tem uma reta de chegada melhor do que as pesquisas prenunciam. É uma eleição com muitos vereadores, muita militância na rua, e nós acreditamos que vamos fazer a diferença no domingo", previu. "Todo mundo sabe que está embolado. Isso torna a eleição dramaticamente interessantíssima".