O globo, n.31391, 18/07/2019. Mundo, p. 21

 

Em nome do filho 

Jussara Gomes 

18/07/2019

 

 

O presidente Jair Bolsonaro disse, na Argentina, que os embaixadores do Brasil nos EUA “não fizeram nada de bom” desde 2003. Bolsonaro, que vai indicar o filho 03 para o posto, viajou com o 04.

Ao defender a indicação do filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para a embaixada brasileira nos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro justificou sua decisão afirmando que, desde 2003, todos os embaixadores do Brasil em Washington “não fizeram nada de bom”. Em discurso aos chefes de Estado presentes na abertura da 54ª Cúpula do Mercosul, ontem, na cidade argentina de Santa Fé, o presidente defendeu “zelo nas indicações das embaixadas” e disse que o Brasil, em breve, poderá ter “um grande embaixador nos EUA”.

Bolsonaro voltou a reforçar que deseja aproveitar a proximidade de Eduardo com a família do presidente americano, Donald Trump, de quem o deputado seria amigo.

—Ele ganhou notoriedade, tem rodado o mundo todo, tem uma amizade com a família Trump (...). Imagine se o filho do Macri (Mauricio Macri, presidente

da Argentina) fosse embaixador no Brasil, ligando para mim, querendo falar comigo, quando ele seria atendido? Amanhã, semana que vem, ou imediatamente? É essa que é a intenção. Se vocês pegarem de 2003 para cá, o que os embaixadores nossos, que tivemos do Brasil nos Estados Unidos, fizeram de bom para nós? Nada —criticou.

CRÍTICAS A 6 DIPLOMATAS

O período ao qual o presidente se referiu compreende os governos de Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Roussef e Michel Temer, durante o qual a embaixada foi ocupada por Rubens Barbosa (1999-2004), Roberto Abdenur (2004-2007), Antonio Patriota (2007 a 2009), Mauro Vieira (2010 a 2014), Luiz Alberto Figueiredo (2015 a 2016) e Sergio Amaral (2016 até junho deste ano).

Bolsonaro acredita que não haverá problemas da parte dos Estados Unidos em receber as credenciais de Eduardo Bolsonaro. Segundo ele, um simples telefonema para Trump resolveria a questão.

— Eu acho que já foi feito o comunicado com os Estados Unidos. Então, um telefonema simples meu para o Trump, que franqueou a palavra... Nem precisa falar isso pra ele. Eu tenho certeza que ele dará o sinal positivo —disse.

Mais cedo, em seu discurso para chefes de Estado, Bolsonaro disse que é preciso ter cuidado na indicação de nomes para as embaixadas e citou indiretamente Eduardo. Durante a Cúpula do Mercosul, o Brasil assumiu a Presidência pró-tempore do bloco.

— Compartilhamos aqui entre nós a visão de que, para cumprir o seu papel de um motor do desenvolvimento, o nosso bloco deve concentrar-se em três áreas: as negociações externas, aí com o grande apoio do meu ministro das Relações Exteriores, no zelo das indicações das embaixadas, também sem mais o viés ideológico do passado, e quem sabe um grande embaixador nos EUA brevemente. Então, focamos nisso, na nossa tarifa externa comum, em nossa reforma institucional —declarou o presidente.

Na reunião do G-20 em Osaka, no Japão, no fim de junho, Bolsonaro levantou a questão de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e os EUA num encontro bilateral com Trump, horas antes do anúncio do pacto comercial entre o bloco sul-americano e a União Europeia.

Na noite de terça-feira, o chanceler Ernesto Araújo confirmou que o Itamaraty preparou uma minuta com o pedido de agrément (sinal verde diplomático) da indicação de Eduardo ao governo americano. Segundo Araújo, a consulta será enviada tão logo o presidente Bolsonaro determinar.

O presidente voltou a reforçar que a indicação de Eduardo carece também da aprovação do Senado. Ele disse que os parlamentares que têm se posicionado contra a nomeação“não conhecem avida” do seu filho.

Em seu discurso, Bolsonaro pediu que a América do Sul eleja representantes comprometidos com “a democracia, liberdade e prosperidade” e disse não haver mais espaço para “regimes autoritários” na região. Neste ano, há eleições presidenciais na Argentina , no Uruguai ena Bolívia. O presidente fe zum areferênciaà expressão “pátria grande” — cunhada pelo então presidente venezuelano Hugo Chávez afim de simbolizara integração dos países latino-americanos—para pregar contra a esquerda. Ao mesmo tempo, sinalizou a aproximação com os EUA de Donald Trump .

—Não queremos o Mercosul uma pátria grande, mas que cada país seja grande. Comovemos oTrumpfa landoque quera América grande, eu quero o Brasil grande, a Argentina grande, a Bolívia grande também, Uruguai. É a nossa vocação — disse. — Não podemos permitir que o que está acontecendo na Venezuela se repita em nenhum país da nossa região.

AFAGOS EM EVO MORALES

No entanto, Bolsonaro fez afagos no presidente da Bolívia, Evo Morales, aliado do regime do venezuelano Nicolás Maduro. Na reunião de chefes de Estado, o brasileiro disse que estava com “saudades” do boliviano e mencionou que não se viam desde a posse em Brasília, em janeiro. Depois, em entrevista coletiva a jornalistas, Bolsonaro mencionou que “até o Evo Morales” se mostrou disposto a buscar uma solução para a Venezuela.

O momento mais curioso, entretanto, ocorreu quando os líderes posaram para a foto oficial da Cúpula do Mercosul. Todos levantaram a mão direita, mas Morales, por sua vez, acenou com a esquerda. Bolsonaro pediu para que ele trocasse a mão. O boliviano manteve a posição. A cena provocou risos discretos de Macri e dos outros presidentes.

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Ao lado do 04, presidente apresenta 'embaixador mirim'

18/07/2019

 

 

Assim que desembarcou em Santa Fé, na Argentina, para a 54ª Cúpula do Mercosul, o presidente Jair Bolsonaro surgiu acompanhado do filho homem mais novo e único do clã que ainda não ingressou na política. Vestido com blazer e calça

jeans, o estudante de Direito Jair Renan Bolsonaro, de 20 anos, esperava pelo pai, que cumprimentava o embaixador Sérgio França Danese. Mais tarde, à imprensa, Bolsonaro se referiu ao filho como “embaixador mirim”.

—Tô com o embaixador aqui do meu lado. Vem cá, embaixador. Gostaram do embaixador aqui? Embaixador mirim. Está aprendendo —disse Bolsonaro, em tom de brincadeira.

Não é a primeira vez que o 04 participa de uma agenda presidencial, mas essa foi a primeira viagem internacional com o pai. O Palácio do Planalto não esclareceu o porquê da sua ida à Argentina.

Conhecido como “Bolsokid” nas redes, Jair Renan, por enquanto, está longe de ter o impacto e popularidade na web do pai e irmãos políticos, mas já detém números expressivos de seguidores. No Instagram, soma 160 mil.

Filiado ao PSC do Rio desde 2016, mesmo partido do irmão vereador, Carlos, Renan já indicou a vontade de seguir a carreira do pai. Em 2017, a mãe, a segunda mulher de Bolsonaro, Ana Cristina Valle, disse ao GLOBO que o jovem gosta de política. Este, porém, não costuma abordar o tema nas redes. Lá, compartilha fotos com famosos, como o cantor Gusttavo Lima, e referências a animes, mangás e séries. Mas é nas transmissões ao vivo de partidas do game League of Legends (LoL) que costuma atrair mais fãs. No YouTube, seu canal tem mais de 40 mil inscritos. (Marlen Couto e Jussara Soares)