Título: Respostas so em duas semanas
Autor: Ribas, Sílvio; D'Angelo, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 06/10/2012, Economia, p. 12

Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tem até 15 dias, contados a partir de ontem, para entregar à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) um relatório oficial sobre o apagão que deixou 70% do Distrito Federal sem luz na quinta-feira. O documento também será encaminhado ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), coordenado pelo Ministério de Minas e Energia. Apesar da grande expectativa a respeito do episódio, limitou-se a isso a decisão tomada em uma longa reunião realizada ontem no Rio de Janeiro entre técnicos da ONS e representantes da Companhia Energética de Brasília (CEB) e da Aneel.

Assim como nos dois últimos encontros extraordinários de autoridades realizadas no CMSE, na sede do ministério, para tratar de dois grandes apagões ocorridos num intervalo de apenas 11 dias, a nova resposta da ONS não serviu para esclarecer a série de cortes de abastecimento no país. Na quarta-feira, os técnicos apresentarão um relatório provisório com o que foi discutido ontem. Nos bastidores, Furnas e CEB voltaram a se enfrentar sobre o grau de responsabilidade de cada um sobre o acidente que prejudicou 616 mil clientes da distribuidora local.

Segundo a agência reguladora, caso o ONS, que atua como árbitro no caso, constate que houve responsabilidade total da CEB na queda do fornecimento de energia, a companhia será punida com multa ou advertência. A distribuidora brasiliense já pagou à Aneel R$ 5 milhões em multas por falhas no fornecimento e devolveu outros R$ 4 milhões aos consumidores, na forma de desconto nas tarifas. A explicação oficial após a série de transtornos é de que o incêndio em campo de cerrado sobre as linhas de transmissão entre as subestações Samambaia e Brasília Sul levou ao desligamento desta última e causou, a partir daí, um efeito dominó sobre outras três subestações. O fogo não gerou qualquer perda de patrimônio da CEB, ressalta a estatal, mas o calor, aliado a outros fatores (baixa umidade do ar e demanda elevada), provocou o desligamento automático da linha. Há quem aponte responsabilidade de Furnas sobre problemas anteriores de suprimento. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e o presidente da CEB, Rubem Fonseca Filho, classificaram na quinta-feira o maior apagão do Distrito Federal nos últimos anos de "acidente". Para Lobão, a ocorrência de graves problemas nas redes de distribuição, com curtos intervalos de tempo, foram apenas "coincidências". Ele classificou também de "apaguinho" o fenômeno em Brasília, que parou linhas de metrô, provocou acidentes de trânsito, fechou lojas e causou transtorno em hospitais.

A maior dificuldade é de o governo admitir a existência de qualquer apagão, algo que a presidente Dilma Rousseff só identifica do governo Fernando Henrique Cardoso.

Para o físico Luiz Pinguelli Rosa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o sistema elétrico brasileiro tem problemas pontuais, mas não está em situação crítica."O planejamento mais importante é o da geração, mas há problemas novos, de transmissão e distribuição", ressalta. Falta priorizar tecnologia e supervisão, áreas que deverão ser afetadas com a redução de receitas, que resultará na demissão de profissionais experientes.