O Estado de São Paulo, n. 45917, 06/07/2019. Política, p. A8

 

Maia busca ser contraponto a Bolsonaro

Vera Rosa

06/07/2019

 

 

Presidente da Câmara prevê DEM em campo diferente do presidente na centro-direita e diz que seria ‘natural’ apoio a Doria ou Huck em 2022

Imagem. Rodrigo Maia reforçou equipe de comunicação digital e passou a dar mais atenção a mensagens nas redes sociais

Mesmo com três ministérios, o DEM já se prepara para seguir caminho alternativo ao do presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEMRJ), reforçou sua equipe de comunicação digital, passou a gravar podcasts toda segunda-feira e decidiu dar mais atenção às redes sociais. Fiador da reforma da Previdência e com trânsito no mercado, Maia adotou um estilo de contraponto a Bolsonaro na centro-direita e se movimenta para vestir tanto o figurino de candidato como o de vice, na próxima disputa ao Palácio do Planalto, a depender das circunstâncias.

Em entrevista concedida ontem ao programa Pânico, da Jovem Pan, o deputado lançou iscas na direção do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), mas também acenou para o apresentador de TV Luciano Huck. “O governador de São Paulo é sempre um pré-candidato muito forte. É sempre um ator fundamental no processo e tem uma boa relação conosco. Não só o João (Doria), mas o PSDB como um todo. Como também seria natural estarmos com Luciano Huck, se ele for candidato”, disse Maia.

Huck quase concorreu a presidente, no ano passado, mas desistiu. À época, a ideia do PPS (hoje Cidadania) era mostrar o apresentador como um candidato com “projeto reformista e preocupação social”. Agora, Huck voltou a ser assediado para a disputa de 2022 e, diante desse cenário, Maia já se posiciona no jogo.

Nos bastidores do Congresso é voz corrente que, se Bolsonaro não cair, tentará o segundo mandato. Escaldados com a última campanha, na qual as redes sociais derrubaram o mito de que o candidato com maior tempo de TV na propaganda eleitoral tem mais chance de vitória, políticos começaram a montar com antecedência estratégias de comunicação digital.

Território. Maia tem feito de tudo para demarcar território e diferenças com Bolsonaro ao assinalar que sua agenda não é apenas econômica, mas também social. Sem esconder a contrariedade com o fato de o presidente se referir a integrantes do Centrão e a boa parte do Congresso como “velha política”, Maia foi irônico, ontem, ao comentar a expressão pejorativa. “Ele foi muito competente porque, com sete mandatos de deputado, representa a nova política. Ele conseguiu ficar esse tempo todo no Parlamento e representa a nova política. Parabéns pra ele”, provocou.

Antes, o presidente da Câmara já havia recusado convite de Bolsonaro para assistir à final da Copa América entre Brasil e Peru, amanhã, no Maracanã, no Rio. A interlocutores próximos, Maia sempre diz que desistiu de entender “a cabeça” do presidente, que, no seu diagnóstico, estimula a divisão do País pelo Twitter.

Nos seis meses de governo, o deputado se aproximou do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Bastaram críticas de Guedes ao relatório de Samuel Moreira (PSDB-SP) na reforma da Previdência, porém, para o caldo entornar. A partir daí, o relacionamento entre os dois ficou estremecido. Na outra ponta, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni – que é do DEM, mas não tinha boa relação com Maia –, acabou se aliando a ele após ter as atribuições no governo esvaziadas por Bolsonaro.

Embora a eleição de 2022 pareça distante, a cúpula do DEM tem mantido conversas com Doria. O vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, é filiado ao partido de Maia e assumirá o Palácio dos Bandeirantes se Doria deixar o cargo, como previsto, para concorrer ao Planalto.

Seja como candidato ou vice, Maia levará na bagagem projetos pelos quais se empenha na Câmara e que podem embalar sua plataforma eleitoral, como medidas contra o desemprego. Mas ele não está sozinho no DEM na intenção de alçar voos mais altos. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, também tenta atrair apoio. “Se as condições forem propícias, vou dizer não?”, perguntou Caiado.

'Natural'

“O governador de São Paulo é sempre um pré-candidato muito forte, um ator fundamental no processo e tem boa relação conosco. Não só o João (Doria), mas o PSDB como um todo. Como também seria natural estarmos com Luciano Huck, se ele for candidato.”

Rodrigo Maia (DEM-RJ)

PRESIDENTE DA CÂMARA

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Ministério da Justiça contradiz fala de presidente

Teo Cury

06/07/2019

 

 

O Ministério da Justiça afirmou ontem não ter repassado ao presidente Jair Bolsonaro informações sigilosas de investigação da Polícia Federal sobre suspeitas de candidaturas-laranjas no PSL. O caso envolve o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL), que teve um auxiliar e dois ex-assessores presos na semana passada.

A versão do ministério contradiz Bolsonaro, que, em entrevista no domingo passado, no Japão, onde participava de reunião do G-20, disse ter recebido do ministro da Justiça, Sérgio Moro, “cópia do que foi investigado”. “Ele (Moro) mandou cópia do que foi investigado pela Polícia Federal para mim. Mandei um assessor meu ler porque eu não tive tempo de ler”, afirmou na ocasião.

O Estado questionou, separadamente, Ministério da Justiça e Palácio do Planalto, se Bolsonaro recebeu cópia do inquérito, que está sob sigilo. Os dois órgãos responderam com a mesma nota, que nega acesso do presidente às informações. “As notícias sobre investigações e prisões temporárias do assessor do ministro do Turismo foram amplamente divulgadas pela imprensa. O presidente da República foi igualmente informado dos fatos, não sendo verdadeira a afirmação de que o ministro da Justiça teria ‘vazado’ a operação ou fornecido dados sigilosos ao presidente.”

Ainda de acordo com o comunicado, “as informações repassadas não interferem no trâmite das investigações, que correm com total independência na Polícia Federal”. Questionado se o presidente mentiu, o ministério não respondeu.

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GSI muda segurança e até presidente passa por máquina de raio X

Julia Lindner 

06/07/2019

 

 

Procedimento está mais rigoroso após militar ser preso com cocaína; Bolsonaro defende Heleno, criticado por Carlos

GSI. Segurança presidencial é ‘muito treinada’, disse Heleno

Alvo de críticas do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) reforçou o esquema de segurança para viagens da comitiva presidencial. Nos deslocamentos desta semana, até mesmo o presidente Jair Bolsonaro teve de passar por detector de metais e raio X antes de embarcar para Belo Horizonte e São Paulo. A informação foi confirmada por dois assessores que acompanharam os trajetos.

O porta-voz da Presidência da República, Otávio do Rêgo Barros, disse ao Estadão/Broadcast que “o procedimento de segurança está mais rigoroso”, mas não especificou quais outras medidas foram adotadas.

A decisão ocorre após um militar que integrava a equipe de apoio à comitiva presidencial ser preso com 39 quilos de cocaína na Espanha. O avião em que ele estava dava suporte para a aeronave do presidente e sua equipe – cujo destino final seria Osaka, no Japão, para o G-20.

Escolta. Bolsonaro saiu ontem em defesa do ministro Augusto Heleno, do GSI, e afirmou se sentir seguro com o serviço prestado por seu auxiliar. Como mostrou ontem o Estado, familiares e a ala ideológica do Planalto cobram mudanças na segurança presidencial e a transferência da escolta oficial do Exército para a Polícia Federal.

“Estou muito bem com o GSI, do general Heleno, me sinto muito seguro e tranquilo. Não existe segurança 100%, né? Infalível. Mas confio 100% no general Heleno à frente do GSI”, disse Bolsonaro ao ser questionado em Brasília.

Ontem, em entrevista à GloboNews, Heleno afirmou que a segurança do presidente “é muito séria, muito competente, muito treinada”, mas admitiu que uma falha possibilitou um sargento da FAB embarcar com droga em um avião de apoio à comitiva presidencial.

Questionado sobre as críticas de Carlos ao GSI, Heleno se esquivou. “Tenho subordinação direta ao presidente. Hoje (ontem) ele foi claro em dizer que tem absoluta confiança no GSI. Essa é a manifestação que eu escuto”, disse o general.