O Estado de São Paulo, n. 45917, 06/07/2019. Política, p. A10

 

Candidatos à PGR articulam para se cacifar no Planalto

Breno Pires

Rafael Moraes Moura

06/07/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

Bolsonaro recebe lista com os três nomes mais votados por procuradores, mas não dá garantia de que vai seguir indicações

Enquanto Jair Bolsonaro faz mistério sobre quem vai indicar para comandar a Procuradoria-Geral da República, os candidatos ao cargo têm buscado se aproximar do Palácio do Planalto para se viabilizarem. As estratégias vão de participação em eventos a encontros com ministros e até com o próprio presidente.

Ontem, Bolsonaro recebeu das mãos do presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), Fábio George da Nóbrega, a lista tríplice com os mais votados pela categoria. No encontro, o presidente reconheceu a importância da lista, mas não garantiu que vai escolher um dos três nomes, o que representaria uma quebra de tradição. Desde 2003, a indicação do chefe do principal órgão de investigação do País recai sobre um dos eleitos pelos próprios procuradores.

Ainda de acordo com Nóbrega, o presidente afirmou que vai analisar “sem pressa” as opções para o cargo. Ele já havia dito que deixará a escolha para os “48 minutos do segundo tempo”. O mandato da atual procuradorageral da República, Raquel Dodge, acaba no dia 17 de setembro.

Enquanto isso, os subprocuradores Mário Bonsaglia e Luiza Frischeisen e o procurador regional Blal Dalloul – os três nomes da lista da ANPR – têm se encontrado com auxiliares de Bolsonaro. Na agenda estão os ministros da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, e da Advocacia-Geral da União, André Mendonça, além da advogada de Bolsonaro, Karina Kufa.

Um outro nome que tem sido procurado e é considerado fundamental na decisão é o de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), primogênito do presidente. O Estado apurou que o senador tem participado ativamente das discussões sobre a sucessão na PGR. Ele é investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro no caso que apura movimentações atípicas do ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, que trabalhou em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio. As suspeitas envolvendo o exauxiliar foram reveladas pelo Estado em dezembro.

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, que também já recebeu consultas do Planalto sobre o tema, reuniu-se na terça-feira com Bonsaglia e Frischeisen, um dia após declarar ser favorável à escolha de um subprocurador-geral – cargo do topo da carreira do Ministério Público.

Fora da lista. Correndo por fora da lista, o subprocurador Augusto Aras já chegou a ser “entrevistado” pelo presidente, em um encontro no mês passado em Brasília, e é bem avaliado pelo entorno de Bolsonaro, por ser visto como conservador e de direita. Em entrevista ao Estado em maio, ele defendeu “disruptura” no MP e saiu em defesa de uma “democracia militar”. Procurado ontem, Aras não quis se manifestar.

Embora não tenha se candidatado a uma vaga na lista tríplice, Raquel também se colocou na disputa e tem buscado se aproximar de Bolsonaro. A atual procuradora tem participado com mais frequência de eventos no Palácio do Planalto e chegou a receber elogios públicos do presidente na posse de Oliveira como ministro da Secretaria-Geral.

Segundo a reportagem apurou, o Palácio do Planalto já tem “fichas” com o perfil de cada um dos cotados para a PGR. A equipe jurídica do presidente chegou a acompanhar debates realizados entre os procuradores antes da eleição da lista tríplice. Nas conversas com auxiliares de Bolsonaro, os candidatos têm sido questionados sobre a linha ideológica e a sua “visão de mundo”. De acordo com os relatos, todos procuram mostrar que não possuem “viés ideológico” ou, muito menos, sejam de esquerda, o que poderia acabar com as chances de ser escolhido.

O procurador Blal Dalloul, exsecretário-geral da PGR na gestão de Rodrigo Janot, também tem afirmado não ter qualquer ligação com o antecessor de Raquel. Tal proximidade, segundo um interlocutor de Bolsonaro, poderia retirá-lo do páreo.

Ao Estado, o ministro Jorge Oliveira disse que Bolsonaro busca um nome “sem vínculos ideológicos, sem questões partidárias”. “O presidente busca um nome que dê estabilidade institucional”, disse o ministro.

Após a escolha de Bolsonaro, o indicado ainda precisará passar por sabatina e ter seu nome aprovado pelo Senado.

'Cautela'

“Ele (Bolsonaro) falou que está analisando o currículo e perfil de todos aqueles que querem exercer a função e que decidirá sem pressa e com a cautela necessária.”

Fábio George Cruz da Nóbrega

PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROCURADORES DA REPÚBLICA