O globo, n.31390, 17/07/2019. Mundo, p. 19

 

Batalha no Senado 

Adriana Mendes 

Amanda Almeida 

Gabriel Shinohara 

Gustavo Maia 

Victor Farias 

17/07/2019

 

 

Decisão tomada. O presidente Bolsonaro participa do hasteamento da Bandeira Nacional, no Palácio da Alvorada, Brasília: segundo porta-voz, nome de Eduardo é o único cogitado para embaixada

A provável indicação de Eduardo Bolsonaro para embaixador em Washington divide votos e opiniões na Comissão de Relações Exteriores do Senado, com disputa pela relatoria. O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, disse que o Itamaraty já preparou o pedido de agrément ao governo Donald Trump.

A possível indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos já se tornou uma queda de braço entre oposição e governo no Senado. Antes mesmo de ser oficializada, senadores dos dois grupos políticos já disputam a relatoria do processo na Comissão de Relações Exteriores do Senado (CRE), a primeira a analisar o tema na Casa. Um levantamento feito pelo GLOBO entre os 17 membros da Comissão deixou entrever que a eventual indicação do filho do presidente Jair Bolsonaro enfrentará resistências e corre o risco de não ser aprovada no órgão.

Ontem, o presidente disse que, da sua parte, a indicação de Eduardo “está definida”. O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, informou que o Itamaraty já preparou a minuta com o pedido de agrément a ser enviado a Washington sobre a indicação. O porta-voz acrescentou que o presidente não avalia nenhum outro nome para o posto que não seja o do filho. O chanceler Ernesto Araújo disse na Argentina, onde participa da cúpula do Mercosul, que não há plano B.

Na tentativa de blindar o governo, o vice-líder de Bolsonaro no Senado, Chico Rodrigues (DEM-RR), já se antecipou, segundo aliados, e pediu a relatoria da indicação. Ele é favorável à nomeação. Além dele, outros três senadores e uma senadora pediram o posto —há representantes dos dois campos.

— Só irei definir quando receber a mensagem( da indicação), que vem à comissão após ser lida no plenário do Senado pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP) — afirmou o presidente da CRE, senador Nelsinho Trad (PSD/ MS).— Ambos os lados se credenciaram à relatoria. Qualquer lado poderá ser.

NOMEAÇÃO PASSA, DIZ LÍDER

A comissão conta com 17 senadores titulares. A votação no colegiado é secreta e precisa de maioria simples. Independentemente do placar na comissão, o plenário do Senado precisa referendar o resultado, também em voto secreto com maioria simples.

No levantamento feito pelo GLOBO ontem, dos 17 senadores integrantes titulares da CRE, cinco afirmam que, caso a votação fosse hoje, se posicionariam contra a indicação. Outros quatro defendem que o deputado seja nomeado embaixador. A indicação do presidente Bolsonaro precisa da maioria simples dos votos da comissão para ser aprovada, com quorum mínimo de dez senadores.

A enquete foi feita pelo GLOBO, sob condição de anonimato. Cinco parlamentares preferiram não se posicionar. Dos senadores que responderam, somente um afirmou que não sabe seu voto ainda. Dois senadores não retornaram.

Entre os pontos negativos citados contra a indicação de Eduardo, está a falta de preparo. De acordo com um dos senadores, a indicação seria uma “desmoralização” dos embaixadores de carreira do Brasil.

Já entre os parlamentares que defendem a nomeação do filho de Bolsonaro, a aproximação com o presidente dos EUA, Donald Trump, é vista como um trunfo. Eles também defendem que, mesmo que Eduardo não tenha tanta experiência com a diplomacia, ele estará cercado de diplomatas capacitados, que podem auxiliá-lo.

Apesar das resistências, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), acredita que a eventual indicação será aprovada.

— O governo tem votos para aprovar, tanto na comissão quanto no plenário —afirmou o líder.

Por sua vez, o presidente Bolsonaro lembrou, no entanto, que ainda há “um caminho todo grande pela frente”, que inclui a necessidade de autorização da diplomacia americana e a eventual aprovação no Senado.

‘ARGUMENTO CHULO’

Bolsonaro voltou a defender que o filho tem qualificação para ocupar o posto e rechaçou o que classificou como argumento “chulo” contra a indicação, em referência ao fato de Eduardo, ao discorrer sobre seu preparo para o cargo, ter dito que fritou hambúrguer nos EUA. Questionado sobre o que faltava para oficializar o convite, o presidente falou sobre a passagem do deputado pelo país.

— (Falta) vocês( jornalistas) falarem o que ele de verdade faz, além de fritar hambúrguer... — declarou. — Agora, tentar desqualificá-lo por fritar hambúrguer... (...) Acho que, se tiver argumentos contrários, que não seja isso, chulo, que se fala por aí.

Ele também refutou outra vez que a eventual nomeação seja um caso de nepotismo. Questionado se sentiu que oc limano Sena doestava bom para apreciara indicação, ele reconheceu a possibilidade de derrota.

—É lógico que agente corre o risco. Tudo que você faz, você corre o risco de dar certo ou errado. Nós estamos tentando acertar — disse. — E ponto final. Se não for aprovado, ele fica na Câmara. (*Estagiário sob supervisão)