Título: Inflação tem alta de 0,57%
Autor: Bancillon, Deco; Dinardo, Ana Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 16/10/2012, Economia, p. 14

IPCA registra pior setembro desde 2003, mais uma vez puxado pelo preço dos alimentos. No acumulado do ano, índice ficou em 3,77%

Os alimentos continuam pesando mais no bolso do brasileiro. Em setembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o parâmetro usado para medir a inflação oficial no país, registrou alta de 0,57%, a maior expansão para o nono mês do ano desde 2003, quando variou 0,78%. No acumulado do ano, a taxa cravou 3,77% e, em 12 meses, 5,28%. E mais de metade dessa elevação (53%) se deveu ao grupo alimentação e bebidas (veja quadro). A professora Lucimar Rodrigues, 56 anos, sabe na prática o que isso significa. Ao se deparar com o custo do feijão, vendido a R$ 5,99 o pacote de um quilo, ela titubeou. "Quando vi, assustei-me. Já nem sei se vou levar", disse.

A insatisfação de Lucimar encontra amparo nos números. Em setembro, os preços do grupo alimentação ficaram 1,26% mais caros para o consumidor brasileiro. A variação é a maior já registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o indicador desde dezembro de 2011.

A alta dos alimentos foi tão forte que influenciou o comportamento de outro índice, o de difusão — que mostra o quão disseminada está a inflação. No nono mês do ano, chegou a 66,3%. Isso quer dizer que a cada três produtos pesquisados, dois tiveram alta no período. "É um número elevadíssimo", diz o economista Thiago Curado, da consultoria Tendências. Ele conta que a última vez em que a difusão ficou tão elevada foi em novembro de 2010, quando atingiu 67% do IPCA.

O IBGE notou que a alta do grupo alimentação e bebidas segue uma tendência sazonal. De tempos em tempos, ela aparece e, depois, sai de cena. O mais recente movimento do tipo ocorreu em meados de 2012. Foram três crescimentos seguidos: 0,91% em julho, 0,88% em agosto e 1,26% em setembro.

Insumos Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, a carne foi a grande responsável pela alta da inflação em setembro. Ele avaliou que os reajustes de 4,66% no custo do frango, de 3,76% no da carne de porco e de 2,71% no do filé mignon "refletiram o impacto do aumento das commodities internacionais do atacado para o varejo". Trocando em miúdos, quer dizer que a disparada nas cotações de insumos utilizados na alimentação desses animais — como o milho e o farelo de soja —, que já subiram mais de 40% no ano, acabaram se refletindo na elevação dos preços.

Outro alimento que ficou mais salgado para o consumidor foi a batata-inglesa. Nos últimos 12 meses, o quilo ficou 51,48% mais caro. Só em setembro, a alta foi de 21,61%. A aposentada Graciene de Oliveira, 72, conta que está pagando o dobro pelo vegetal no mercado onde faz as compras. "É um absurdo. Ultimamente, eu gasto sempre R$ 10 a mais do que antes quando resolvo levar batata para casa", reclama.