Título: Números polêmicos
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 06/10/2012, Mundo, p. 18

A queda na taxa de desemprego anunciada ontem nos EUA foi imediatamente seguida por "gritos de descrença" e "teorias da conspiração", como foram chamadas pela imprensa americana as acusações de críticos da administração Barack Obama. Em uma das principais delas, o ex-chefe executivo da General Electric Jack Welch afirmou, em sua conta no micro-blog Twitter, que os números eram "inacreditáveis". A secretária de Trabalho americana, Hilda Solis, negou que o relatório tenha sido manipulado.

Primeiramente, na rede social, Welch afirmou que duvidava do índice, insinuando que eles poderiam ter sido inflados para favorecer Obama. "Inacreditáveis esses números do trabalho", postou no Twitter. Welch reiterou as críticas, mais tarde, em entrevista ao Wall Street Journal e disse que "não estava brincando". Ele argumentou que a diferença entre o número de novos empregos criados e o da pesquisa domiciliar a partir da qual deriva a taxa de desocupação é muito grande. O empresário reconheceu, porém, não ter provas de que tenha havido alguma manipulação.

O jornalista da CNBC, canal dedicado a notícias de negócios, sugeriu que os índices tenham sido "cozinhados". "Eu disse que eles teriam um cenário abaixo dos 8% antes das eleições, e eles conseguiram", afirmou. Joe Kernan, da mesma emissora, disse que o presidente já sabia que os números de ontem o favoreceriam. "Você pode relaxar em um debate se souber que a taxa seria de 7,8%", disse.

As críticas foram rebatidas oficialmente e até por outros jornalistas. Questionada sobre a possibilidade, a secretária Hilda Solis disse que a ideia de manipulação era "ridícula". "Eu me sinto insultada quando ouço isso, porque temos uma organização civil de serviços muito profissional. São os nossos melhores e mais bem treinados indivíduos. É realmente ridículo ouvir esse tipo de afirmação."

John Cassidy, da revista The New Yorker, escreveu sobre o tema e afastou a chance de fraude. "Tenho coberto a economia dos EUA por anos e nunca vi evidência séria de prevaricação ou maquinações políticas por parte dos pesquisadores e estatísticos que produzem os números de emprego", escreveu. O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, afirmou que tais teorias são "um total absurdo". "Qualquer pessoa séria, que tem alguma familiaridade com a forma como esses números são tabulados, entende que esses são funcionários de carreira da Secretaria de Trabalho, responsáveis por compilar e analisar os dados de maneira independente."