Título: Ponto para Obama
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 06/10/2012, Mundo, p. 18

Taxa de desemprego recua para menos de 8% pela primeira vez no mandato do presidente e dá impulso à campanha, após a derrota no primeiro debate. Mitt Romney questiona o fôlego da recuperação

Há um mês, a divulgação do relatório sobre empregos nos Estados Unidos, com números abaixo da expectativa, abreviou a festa dos democratas depois do encerramento apoteótico de sua convenção, com o discurso do presidente Barack Obama. Ontem, foi a vez de o candidato republicano, Mitt Romney, que celebrava a vitória no primeiro debate entre os dois, ver sua comemoração atropelada pelos dados de setembro. O último boletim sobre o mercado de trabalho que será debatido em campanha mostrou o recuo da taxa de desemprego para 7,8%, o nível mais baixo desde que Obama chegou à Casa Branca, em janeiro de 2009. O número de postos abertos ficou abaixo do previsto pelos analistas, mas ainda assim, a notícia foi considerada extremamente positiva quase com unanimidade —a exceção foi Romney, que tem baseado seus ataques ao presidente na incapacidade do governo para reaquecer a economia. "Não é uma recuperação real", disse o desafiante.

A um mês da votação, em 6 de novembro, a boa notícia no mercado de trabalho representa munição reforçada para a campanha de Obama à reeleição. O fraco desempenho do presidente no duelo pela tevê, na quarta-feira, teve repercussão imediata nas intenções de voto. Uma pesquisa online da Reuters/Ipsos, divulgada na sexta-feira, mostrou avanço de Romney, que reduziu sua desvantagem para dois pontos percentuais—46% contra 44%. Com o desempenho surpreendente no debate, o ex-governador de Mas-sachusetts viu seu índice de aprovação entre os eleitores ultrapassar pela primeira vez o de rejeição, chegando a 51%.

Na avaliação da cientista política Elisabeth Jacobs, do Instituto Brookings, o relatório sobre o emprego tem potencial para tirar o foco da mídia do fraco desempenho de Obama no debate e direcioná-lo para a economia — justamente o tema que permitiu a Romney encurralar o presidente. "Em geral, uma trajetória econômica positiva é boa notícia para um candidato à reeleição, portanto foi um bom dia para a campanha de Obama", disse a estudiosa, especialista em mobilidade econômica e eleições.

Naturalmente, a notícia foi celebrada pelos democratas. Um reenergizado presidente aproveitou um evento na Universidade George Mason, em Virgínia, para enaltecer os números e afirmar que "esse país já foi longe demais para voltar atrás". "Muitos norte-americanos entraram para a força de trabalho, mais pessoas estão conseguindo emprego", comemorou. Sua campanha esforçou-se em trabalhar os dados como resultado de uma política acertada para a recuperação. "Isso, obviamente, mostra que continuamos a nos recuperar de uma recessão horrível", disse o assessor democrata David Plouffe.

Segundo o Departamento do Trabalho, a taxa de desemprego caiu 0,3 ponto porcentual em setembro, de 8,1% para 7,8%. De acordo com o relatório, foram adicionados ao mercado 114 mil postos de trabalho. Embora a expectativa fosse a abertura de 120 mil vagas, economistas avaliaram que a queda da taxa de desemprego mostrou um mercado em expansão, uma vez que as quedas registradas em meses anteriores tinham resultado da desistência de muitos americanos em procurar emprego. Segundo o último índice, mais vagas foram preenchidas. Também como efeito do relatório, a Bolsa de Valores de Nova York abriu o pregão em alta. Ao longo do dia, porém, o mercado perdeu a maior parte dos ganhos, devido ao baixo volume de negócios, e fechou sem direção definida.

Cautela para ambos

Quem não gostou dos números foi Romney. Em um comunicado, ele afirmou que a economia permanece fraca e ponderou que a taxa de desemprego estaria em torno dos 11%, caso incluísse aqueles que desistiram de procurar recolocação. "Isso não parece uma recuperação real", disse, na tentativa de minimizar o efeito eleitoral do relatório. Jacobs lembrou, porém, que a taxa abaixo de um patamar que parecia invencível para o governo Obama neutraliza um dos principais argumentos republicanos. "Eles não podem mais dizer que o desemprego permaneceu acima dos 8% durante todo o mandato do presidente", explicou. A analista ponderou também que a equipe democrata deve ser cautelosa. "Estudos acadêmicos sugerem que, enquanto uma trajetória econômica positiva é talvez o fator mais importante para determinar as perspectivas de vitória, as impressões dos eleitores sobre esse tema normalmente se consolidam até abril do ano de eleição." Na quinta-feira, ainda sob impacto da noite vitoriosa na tevê, Romney tentou reverter uma de suas piores gafes na campanha. Em entrevista à emissora Fox News, o desafiante reconheceu que estava "completamente errado" quando, em comentários gravados com uma câmera escondida, depreciou 47% dos eleitores e disse que não era "seu trabalho" se preocupar com eles. "Acredito completamente que minha vida mostra o quanto me importo com 100% (dos americanos)."